Perdida (2023)

Viver um romance como os de Jane Austen.

Protagonizado por Giovanna Grigio e Bruno Montaleone, e baseado no livro “Perdida: Um Amor que Ultrapassa as Barreiras do Tempo”, de Carina Rissi, “Perdida” é uma comédia adolescente sobre uma jovem mulher que é apaixonada pelos romances de Jane Austen (e está tentando emplacar na editora uma nova publicação de “Orgulho e Preconceito”, cheio de materiais extras e ilustrações), mas que os vê como “mera fantasia, assim como ‘Cinderela’”: ela não acredita de verdade no amor. Sofia Alonzo acredita que o famoso “felizes para sempre” está reservado para livros e para contos de fada… até que ela tem a oportunidade de viver uma aventura em uma realidade “criada” por sua “safada madrinha”: um lugar que lembra o Século XIX e os romances de Jane Austen.

Há algo de romântico, bonito e mágico no conceito de “Perdida” – até porque Sofia Alonzo está realizando um sonho, já que sempre acreditou que “tinha nascido na época errada”, e porque a sua “fada madrinha” está pronta para mostrar para ela o quanto ela está equivocada sobre o amor… toda a introdução do filme, com as falas propositalmente sugerindo a jornada por vir e o mistério garantido pela aparição, em mais de uma ocasião, da “guia” de Sofia, me faz pensar em outras histórias de grandes jornadas – especialmente “Click”, com o Adam Sandler, e “17 Outra Vez”, com o Zac Efron. É uma daquelas situações em que o “universo” escuta os anseios e desejos do protagonista e “se materializa” na forma de um vendedor em uma loja, um faxineiro em uma escola… ou uma taxista.

Depois de um dia infeliz que conta até com Sofia sendo uma escrota com a melhor amiga e quase irmã, Nina, ela é transportada para o passado em uma sequência interessante que termina com Sofia chegando ao alto da torre do sino de uma capela no meio do nada – sem ter como descer dali. A construção dessa realidade de 1830 tem um quê de “Bridgerton”, ignorando problemas de nossa história como a escravidão e o racismo e, portanto, se parecendo mais com uma fantasia… gosto de como a personagem da Fada Madrinha é usada para justificar essa “liberdade criativa” quando ela dá a entender que talvez Sofia não tenha de fato viajado para 1830, mas esteja em um mundo que foi “criado” com base nos romances de Jane Austen pelos quais Sofia é apaixonada.

Assim, Sofia está prestes a encontrar o amor…

Ian Clarke, que além de ser alto, lindo e educadíssimo, ainda aparece literalmente em um cavalo branco – como nas mais clichês das histórias de princesas… e, bem, Sofia precisa mesmo de ajuda para descer da torre. Existe um quê de humor divertido na postura e nas falas de Sofia, na maneira como ela acha que está em uma pegadinha, mas ela não tarda muito a perceber o que está acontecendo – e que ela não está mais na sua própria época. E, com isso, ela precisa enfrentar os desafios comuns de uma viajante do tempo, como a falta de um bom banheiro e toda a elaborada vestimenta da época… mas ela não deixa seus All Star vermelho de lado (os óculos escuros e a jaqueta preta de couro, no entanto, viram presentes para Elisa e para Valentina, respectivamente).

Visualmente, Sofia está vivendo um romance a la Jane Austen. Inclusive, todo o cenário daquela cena em que Sofia e Ian Clarke saem para andar de cavalo me lembra muito o cenário da adaptação de 2005 de “Orgulho e Preconceito” – mas Ian Clarke é “menos complicado” do que o Mr. Darcy, digamos… o que não quer dizer que ele não seja tão encantador quanto. Charmoso, educado, curioso, Ian Clarke sabe que ele “precisa” se casar, mas é apenas ao conhecer Sofia que ele vislumbra a possibilidade de se casar com alguém por amor… tudo nela o fascina, tanto que ele se oferece para levá-la ao ballet quando ela acredita que lá pode estar “sua passagem de volta para casa”, e manda procurar livros de Jane Austen quando Sofia os cita e ele não os conhece.

Por sorte, ela tem um para lhe dar de presente.

O filme tem alguns grandes momentos, como a “briga” de Sofia e Ian Clarke nos bastidores do ballet, a dança dos dois no baile de Elisa Clarke e, é claro, a perseguição a cavalo quando Sofia resolve voltar para casa antes que ela seja internada em um manicômio por ter finalmente revelado de onde/quando veio. E o retorno de Sofia à sua própria realidade é essencial porque, mesmo que talvez ela queira ficar no passado e viver um romance com Ian Clarke, ela tinha algumas coisas a resolver: ela precisava conseguir publicar a nova versão de “Orgulho e Preconceito”; precisava consertar as coisas com Nina e desejar felicidade em seu casamento e sua mudança para a Austrália; e, principalmente, ela precisava escolher ficar em 1830, e não ficar porque não tinha como ir embora.

Ela lê uma carta de Ian Clarke que ele deixara para ela dentro da versão de “Orgulho e Preconceito” com a qual ela o presenteara, e que foi entregue pela sua fada madrinha/bruxa no início do filme, e ela consegue retornar apenas quando está pronta para tal… quando tudo foi arrumado e quando sua decisão foi conscientemente tomada, sabendo que, dessa vez, não haveria volta. Mas por que ela ia querer ficar no presente, um lugar no qual ela “não acredita no amor”, quando ela tem tudo com o que sempre sonhou (e nem sabia) em 1830? É excessivamente romântico e tudo o mais, mas o pedido de desculpas de Ian Clarke é lindo (até porque ele é lindo, Bruno Montaleone sempre me faz suspirar) e Sofia Alonzo o beija apaixonadamente…

Não mais perdida…

Mas exatamente onde ela quer estar.

“Perdida” tem um roteiro simples e um romance previsível – duas coisas que não desmerecem, de modo algum, a obra. É um filme bem conduzido dentro daquilo em que se propôs, e oferece uma diversão sincera para todos que são apaixonados pelo gênero. Além disso, certamente tem um visual bonito e personagens carismáticos que sustentam essa jornada ora divertida, ora romântica (ora ambas) da garota que não acreditava no amor fora das páginas dos romances pelos quais era apaixonada… até se apaixonar na vida real. Acredito que Sofia e Ian Clarke ainda têm histórias a contar, já que “Perdida” é apenas o primeiro de uma série de seis livros escrita por Carina Rissi, mas se as demais histórias não chegarem ao cinema, o filme tem uma história redonda e autossuficiente que nos satisfaz.

Gostei bastante!

 

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Comentários

  1. E agora que vi a resenha 😂

    Tomei coragem de ver no mesmo dia de Barbie por conta daquele receio de tirarem o filme dos cinemas antes do previsto. Achei bonitinho, mas imagino que se fosse feito no formato de série daria pra expandir um bocado de coisa (Incluindo tbm a relação de Lucas e Elisa, o destino da Teodora no final que senti falta e etc).

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  2. E foi engraçado pq tipo, cheguei a ler algumas partes de "Perdida" e tomar uns spoilers do livro há mto tempo atrás e chega a ser interessante comparar o que foi pra tela com o que está nos livros, a começar como eles mudaram um pouco a personagem da Sofia (Que praticamente era viciada no celular e outras tecnologias),a maneira como ela viaja no tempo, mas nada que comprometa mto a qualidade do filme e etc. 🙂

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    Respostas
    1. Eu achei bem gostosinho o filme, mas não conheço nada do livro, então não posso notar essas mudanças... só sei que é uma série de 6 livros, né? Alguns centrados em outros personagens que não a Sofia e o Ian. Será que pode vir outras adaptações?

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    2. Bem que eu gostaria, desde que fosse num formato de série (Tbm pelo filme já ter ido pro Star+ talvez facilite), só fiquei com pena do filme coincidir com o "Barbieheinmer", teve o lance de reduzirem o tempo dele nos cinemas, as salas e etc, os fãs se manifestaram mto...

      PS. Descobri que um dos livros é focado no casal Elisa e Lucas e outro na Valentina!

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    3. Eu fiquei bem curioso em ler, coloquei uma caixinha com os 6 livros na minha lista da Amazon hahaha

      (Eu estou indo bem menos ao cinema depois da pandemia, eu costumava ir toda semana, agora vou uma vez por mês e olha lá... e realmente, "Perdida" eu acabei vendo em casa no streaming, no cinema eu vi "Barbie")

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