Que horas eu te pego? (No Hard Feelings, 2023)
Pretty. Awkward.
Protagonizado
por Jennifer Lawrence e Andrew Barth Feldman, “Que horas eu te pego?” é uma comédia despretensiosa e divertida –
mas saiba que é um besteirol, e você tem que gostar do gênero para se divertir!
Isso não quer dizer que não haja certo
sentimentalismo, resultando em um filme tanto divertido quanto cheio de
coração. Talvez não seja um grande filme que será lembrado dentro de alguns
anos como “algo espetacular”, mas é uma diversão sincera que me arrancou
risadas e sorrisos, então eu gostei
bastante! O filme cria contínuas situações absurdas e/ou exageradas e de
humor fácil e, de quebra, explora um pouquinho do passado e dos traumas dos
personagens conforme Maddie e Percy vão se aproximando e construindo uma
relação e uma amizade pela qual não esperavam.
Maddie é uma
mulher que vive em Montauk e detesta a maneira como a cidade “é invadida por
turistas durante o verão”, e ela está fazendo de tudo para salvar a casa que
lhe foi deixada pela mãe, mas pagar os impostos está cada vez mais difícil – e se torna praticamente impossível
quando o seu carro é levado e ela não pode conseguir o seu dinheiro extra do
verão trabalhando como Uber… já que a
cidade está cheia de turistas. Então, ela acaba aceitando um emprego
duvidoso que ela até acha que é uma pegadinha: uma família rica está oferecendo
um carro para uma mulher que aceitar
namorar com o seu filho de 19 anos antes de ele ir para a faculdade… Percy
Becker é um garoto tímido e que passa
muito tempo fechado em seu quarto, e os pais não sabem se ele está pronto
para a faculdade.
A situação,
naturalmente, é caótica… e a maneira como Maddie se aproxima de Percy acaba
causando um pouco de vergonha alheia
– mas a proposta é justamente que seja over…
e a primeira interação deles, quando Maddie aparece com um vestido provocante
no abrigo de animais onde ele trabalha voluntariamente, é divertidíssima;
especialmente porque o Percy faz com que ela seja, tentando escapar de dentro
do carro quando acha que está sendo sequestrado… porque, na verdade, tudo é
bastante suspeito de fato, e Percy acaba se defendendo com spray de pimenta
(uma das cenas mais bizarras e hilárias do filme!). Determinada a conseguir
aquele carro a qualquer custo e
salvar a casa da mãe, no entanto, Maddie não desiste por causa disso e consegue
marcar um encontro para o dia seguinte.
Eu preciso
dizer que existe algo de extremamente charmoso em Andrew Barth Feldman (é uma
pena que nunca poderemos ver o desenrolar do seu romance com Big Red em “High School Musical: The Musical: The
Series”), e eu provavelmente teria me apaixonado por ele se ele aparecesse
num encontro todo sem jeito, usando terno e gravata mas shorts (!) daquele jeito (tava muito fofo!), ou pulasse
assustado com o barulho das bolas de sinuca na mesa ao lado (um dos meus
momentos favoritos), isso sem falar do segundo
encontro, quando eles estão tentando recriar a oportunidade do baile de
escola, ao qual nenhum dos dois compareceu, e ele se senta ao piano, toca uma
música e canta na frente de um restaurante inteiro (maravilhoso!), algo que
Percy Becker jamais faria poucos dias
antes… antes de conhecer Maddie.
O filme é
uma confusão entre cenas fofas, cenas absurdas, cenas hilárias e descabidas e,
é claro, vergonha alheia. Maddie até
chega a se questionar, inicialmente, toda a questão de “estar disposta a dormir
com um cara por dinheiro”, mas eventualmente deixa isso de lado – e descobre
que “transar com Percy” não vai ser nem de perto a coisa mais fácil do mundo…
ela está fazendo de tudo (o levando
para nadar pelado na praia à noite, por exemplo… a reação dele, querendo
“seguir as regras” é a coisinha mais fofa do mundo!), mas Percy é do tipo que
só vai transar com alguém de quem gostar
de verdade. E conforme o tempo passa e o sexo não vem, Maddie vai
descobrindo que o Percy é, na verdade, um cara muito legal… então, ela pode seguir o enganando?
Aparentemente,
sim.
Gosto muito
de como o filme consegue fazer essa transição, daquela Maddie desvairada do
início do filme, que só pensa no carro como recompensa, para aquela Maddie que
escuta o Percy, que o vê e que aprende a se importar com ele… ele compartilha
com ela os motivos pelos quais ele vive
trancado no quarto e gosta de “não ser visto”, o que é uma cena muito
triste e sincera, e ela também acaba contando, mesmo sem perceber, coisas que
ela nunca contara a ninguém antes, falando sobre a carta que mandara para o pai
e que foi devolvida sem ser aberta, no dia do seu baile de formatura… e, assim,
eles vão construindo uma inusitada relação na qual Percy acaba por acreditar, e
perceber que Maddie não está na mesma
página que ele é bastante doloroso para o garoto.
“Que horas eu te pego?” entrega algumas
cenas bastante divertidas, e que meio que funcionam tanto como piada quanto
para aproximar Maddie e Percy, de
alguma maneira… destaco dois grandes momentos do filme: 1) primeiro, o momento
em que Percy pula pelado em cima do capô do carro de Maddie, depois de eles
terem ido nadar e uns adolescentes babacas terem tentado roubar as roupas
deles, e Maddie fica meio impressionada
com a coragem dele, e ele fica impressionado com a maneira como ela acelera e
passa os trilhos do trem para fugir da polícia; 2) depois, a cena da festa dos
calouros de Princeton, quando Maddie o ajuda a vomitar “o comprimido que ele
tomou” (que acaba sendo só ibuprofeno HAHAHA) e o acompanha de volta para casa…
E é ali que
ela se recusa a transar com ele porque ele
diz que a ama.
O plano dos
pais de Percy parece funcionar para que ele fique mais solto, saia do quarto,
até resolve tirar carteira de habilitação, mas Percy também decide que não vai mais para Princeton, porque quer
ficar perto de Maddie – e isso não estava nos planos. Quando o Percy descobre
que Maddie só se aproximou dele por causa dos pais, que prometeram um carro
para ela, ele reage. É triste vê-lo de coração partido e sentir que tudo o que
ele viveu com Maddie foi uma mentira, mas também é engraçado ver como existe um
desejinho de vingança conduzindo as ações de Percy, propositalmente criando uma
situação desconfortabilíssima entre Maddie e os pais em uma refeição, e
aproveitando para detonar com o carro que
seria o “pagamento” de Maddie por se aproximar dele.
Eventualmente,
então, Maddie precisa procurar Percy, precisa conseguir falar com ele, para dizer que nem tudo foi mentira… que
ela realmente se importa com ele. Antes disso, talvez ela também precisa arrumar algumas coisas na sua vida, e é
muito bonito como a proximidade com Percy fez com que Maddie tomasse algumas
decisões e também amadurecesse e decidisse seguir em frente, finalmente deixando
Montauk… gosto muito de como o “grande gesto” do filme é feito por Maddie,
porque foi ela quem pisou na bola, e como é um reflexo de quando ele subiu no capô
do carro dela – e é igualmente caótico,
porque os dois terminam com o carro dentro do mar! Há tanta verdade na maneira como Percy enfim não consegue dizer nada,
mas a abraça e chora.
Eles criaram
uma relação bonita!
O filme é
uma comédia, sem nunca ter se proposto a ser realmente profundo nos temas que pincela… toda a questão da
superproteção dos pais de Percy e o que isso fez com ele é bem superficial, mas
o filme entrega, sim, aquilo que se propôs a entregar: tem ideias mirabolantes
para ser uma comédia que beira o sem-noção em alguns momentos, e também tem um
coração imenso para entregar uma inusitada relação entre Maddie e Percy… gosto,
também, do final aberto, com os dois indo embora juntos de Montauk, mas cada um
para um lado, para seguir a sua vida; não acho que eles tenham ficado juntos nem nada, mas a amizade que nasceu entre
eles foi importante e mudou a ambos de alguma maneira, e eles deixam Montauk
pessoas melhores, certamente.
É o que
importa, não?
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