As Tartarugas Ninja: Caos Mutante (Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem, 2023)
Um recomeço PROMISSOR para as Tartarugas Ninja!
Divertido,
emocionante e profundamente carismático, “As
Tartarugas Ninja: Caos Mutante” É UM FILME DELICIOSO! Com uma animação
lindíssima que vem na esteira de portas abertas ao diferente no mundo da animação pela popularidade conquistada pelo “Aranhaverso” (e novidades bem-vindas,
que exploram o lúdico e as ferramentas do meio justamente para contar uma história de uma forma que não poderia ser feita em live-action), o
filme não se sustenta apenas pelo seu visual incrível… temos uma galeria de
personagens realmente apaixonantes (como não AMAR Leonardo, Michelangelo,
Donatello e Raphael? Ou melhor, Leo, Mike, Don e Rafa?) e uma história com
surpreendente carga dramática e sensibilidade, destinada a se tornar memorável!
“As Tartarugas Ninja: Caos Mutante” é o
que chamamos de história de origem –
mas, felizmente, sem precisar se estender demais na maneira como as Tartarugas
Ninja foram criadas… gosto muito do dinamismo do roteiro que consegue se
aproveitar de momentos-chave para “explicar” tudo o que precisa ser explicado
(seja no breve prólogo, no primeiro encontro dos irmãos com April ou no sermão
do pai quando eles “escapam” para assistir “Curtindo
a Vida Adoidado” com humanos), sem “segurar” o filme… o filme é vivo, ágil
e é muito mais sobre a vontade que Leo, Mike, Don e Rafa compartilham de serem aceitos no mundo humano – o
problema é que a humanidade tem uma tendência assustadora de desprezar e
maltratar todos que são diferentes de
alguma maneira.
Olha aí!
Leo, Mike,
Don e Rafa são, definitivamente, a alma do filme… é impressionante como eles
nos conquistam depressa e como os amamos desde os primeiros minutos. É tão natural a maneira como eles interagem e
como se comportam, e como o filme leva a sério a definição de eles serem adolescentes… afinal de
contas, ainda que sejam “tartarugas ninja mutantes”, eles ainda são
adolescentes, e falam, brincam e se comportam como adolescentes! Diálogos muito
bem escritos, toda a relação entre eles, com o pai e com o mundo que eles
desconhecem é incrível, e eles entregam sequências que podem ser divertidas
e/ou emocionantes com uma facilidade impressionante. Também não vou negar que é muito legal ver a maneira como eles
lutam depois de serem treinados a vida toda.
Afinal de
contas, Splinter, o pai dos garotos, os treinou para que eles se protegessem
dos humanos… é muito triste e muito real ouvir o que Splinter tem a dizer sobre
os humanos e, infelizmente, balançar a
cabeça concordando com ele. Não quer dizer que Splinter esteja fazendo
certo “prendendo” os meninos no esgoto, mas a superproteção é uma resposta
natural a tudo o que ele passou – o trauma que vem desde antes da mutação e que
foi exacerbado no momento em que ele resolveu “dar uma chance” aos humanos,
pelos filhos, e eles foram rejeitados, odiados, maltratados e as vidas dos seus
quatro bebês foram colocadas em risco… Splinter só quer proteger os filhos do
mal porque os ama… e é por isso que insiste para que fiquem ali.
E os treina nas artes ninja.
O filme
também brinca divertidamente com uma série de referências muito bem pensadas.
Amo como os garotos falam sobre “quererem ser amados como o Ferris Bueller”, ou
como eles citam o Hulk em “Ultimato”,
dizendo que ele era “uma criatura gigante e verde, mas era um herói e as
pessoas pediam para tirar fotos com ele”, porque é o que eles querem… vemos
totens do Chris Evans e do Chris Pine na “festa do mundo humano” que Splinter
prepara para eles, e temos menções à Adele, ao BTS (“Eu queria ter visto BTS ao vivo!”, diz um deles quando acha que
vai morrer) e à 4 Non Blonde (a sequência toda ao som de “What’s Up?” é MARAVILHOSA e é IMPOSSÍVEL não cantar junto!), além
da April comparando a Supermosca com o Gru e Don usando o que sabe de “Attack on Titan” na batalha final.
A vida de
Leo, Don, Mike e Rafa começa a mudar naquela noite em que elas conhecem April
O’Neil… a primeira humana com quem eles
têm contato. É um acidente, mas eles acabam ajudando April a recuperar a
sua scooter de uma gangue, e isso a ajuda a olhar para eles sem ter medo e querer saber a sua história. E, à sua
própria maneira, ela também é uma “excluída” na escola que estuda, por causa de
um episódio no qual ela vomitou em frente às câmeras quando tentou ser
repórter, e agora ela é constantemente zoada por isso. Assim como April quer
escrever uma grande matéria e ser reconhecida “por algo legal”, os garotos
também querem “ser heróis” para um monte de gente, para que as pessoas possam
olhar para eles com admiração.
Essa é a
alma e o fio condutor do filme… esse desejo compartilhado pelas quatro
tartarugas de serem aceitos – e é tão
doloroso ouvi-los dizer que “eles gostariam de ser ‘normais’”, ou ver April
sendo sincera e realista ao dizer que não acha que eles encontrarão muitos
humanos como ela, que os aceitarão “de boa”. Infelizmente, vivemos em um mundo tão preconceituoso e tão averso a
tudo o que é “diferente”, que sabemos que April tem razão. Leo, Mike, Don e
Rafa NUNCA fizeram nada de mal, nunca deram motivos para ser “detestados” pela
humanidade, mas a aparência deles é o “suficiente” para que eles sejam
maldosamente apontados como “monstros”, e eles precisam se esforçar mais do que
qualquer um para ter o mínimo que seja de respeito…
Eles precisam se provar tanto para serem
minimamente aceitos.
Uma
discussão e tanto!
Há um quê de
utopia no grande clímax de “As Tartarugas
Ninja: Caos Mutante”, mas ele é bem-vindo porque ele gera um sentimento de catarse em todos que já se sentiram um
pouco como Leo, Mike, Don e Rafa, e é muito bom ver os meninos felizes… quando
o Supermosca, o vilão principal do filme (que tem uma “história de origem”
similar à das tartarugas, mas reagiu de uma maneira diferente), se torna um
verdadeiro Godzilla em uma sequência digna de um tokusatsu, April O’Neil supera
suas próprias limitações para desmentir
as informações de que as Tartarugas Ninjas sejam “monstros”, “vilões” ou
qualquer coisa assim, e os humanos acabam se unindo às tartarugas para ajudar
em um trabalho de equipe que consegue acabar com o Supermosca…
E eles são aplaudidos.
“As Tartarugas Ninja: Caos Mutante” é,
certamente, UM FILMAÇO… e eu duvido que essa história vá parar por aí. Com
personagens poderosos e conhecidos do público, em uma roupagem moderna,
visualmente bonita e com carisma o suficiente para conquistar novas gerações e
antigos fãs, uma nova franquia de animações com as Tartarugas Ninja deve estar
nascendo – a prova disso é o fato de “Caos
Mutante” contar com uma cena pós-créditos que brevemente introduz o
Destruidor e nos lembra de que os
principais vilões não foram derrotados. Como eu disse, é uma história de
origem (e uma excelente história de origem!), e as Tartarugas Ninja estão
entrando em uma nova fase… dessa vez, não confinados apenas aos esgotos de Nova
York…
Mas também no mundo humano.
Como será o
futuro dessa franquia?
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