Besouro Azul (Blue Beetle, 2023)

“¡Y a mucha honra!”

QUE DELÍCIA DE FILME! Com um clima latino, o humor bem dosado, bastante ação e emoção, “Besouro Azul” é um filme delicioso! Com roteiro de Gareth Dunnet-Alcocer e direção de Ángel Manuel Soto, é uma pena que o filme padeça do mesmo problema de outros lançamentos recentes, como “The Flash”, ou do vindouro “Aquaman e o Reino Perdido”: eles fazem parte de um “universo moribundo”, o DCEU. Como o Universo Cinematográfico da DC será “rebootado” sob o comando de James Gunn, não sabemos o impacto que “Besouro Azul” terá, de fato, no futuro (embora James Gunn tenha dito que o Besouro Azul é o primeiro personagem do novo DCU!), mas convenhamos que esse é um problema criado para o universo dos quadrinhos do cinema: a preocupação excessiva com o futuro da franquia

Às vezes, precisamos sentar e curtir um filme como um filme isolado.

E “Besouro Azul” é um filme QUE EU AMEI!

Com um personagem talvez pouco conhecido do grande público, diferente de grandes nomes da DC como o Superman ou o Batman, “Besouro Azul” precisa apresentar seus personagens e sua mitologia, e é um bom filme “de origem”, mas que não se preocupa necessariamente em ser excessivamente didático… acho que o filme tem um ritmo delicioso que conduz o espectador através de tudo o que ele precisa entender, mas com o seu centro sendo, na verdade, os personagens e as relações entre eles: e é justamente isso que torno o filme tão gostoso de se assistir! Afinal de contas, é um filme irreverente, quase despreocupado, cheio de coração e livre de amarras traiçoeiras que às vezes são colocadas e impedem o filme de ser o que ele quer ser… “Besouro Azul” é uma grande DIVERSÃO.

E cumpre tudo o que prometeu!

Jaime Reyes é um jovem de 22 anos que acabou de terminar a faculdade, reencontra a família em uma situação complicada, e acredita que, dentro de poucos anos, estará “se afogando em dinheiro” – como a Vanessa, naquela cena icônica de “Todas as Flores”. Na verdade, no entanto, as coisas não são assim, e ele está em um emprego que provavelmente lhe paga pouco, retirando chicletes grudados sob espreguiçadeiras de ricaços em volta da piscina (às vezes pela sua própria irmã, Milagro), e logo é demitido porque Mili resolveu “fazer um cocô luxuoso”. É nessa situação bizarra que Jaime conhece Jenny Kord, a sobrinha de Victoria: a mulher que está desviando completamente o propósito da empresa da família como idealizada pelo pai de Jenny, e agora só produz arma.

A interação entre Jaime e Jenny, inesperada e natural, rende alguns dos melhores momentos do filme, e é assim que Jaime acaba se tornando o “Besouro Azul”: quando ele aparece nas Empresas Kord por causa da promessa de um outro emprego, ele reencontra Jenny pouco depois de ela roubar algo que Victoria está tentando militarizar, e então ela confia um escaravelho alienígena e milenar a Jaime… e isso muda a vida dele para sempre. Há um quê de sombrio na primeira vez que a armadura toma conta de Jaime, mas há também algo de cômico na maneira como a família Reyes e o próprio Jaime reagem durante todo o processo, e acompanhar o Jaime “se fundindo” a Khaji-Da, a “entidade” (?) responsável pela armadura, é algo bastante curioso do filme.

É necessário dizer que BRUNA MARQUEZINE ESTÁ INCRÍVEL! É muito prazeroso ver uma atriz brasileira (e que atua desde criança e arrasa desde sempre, vide a sua interpretação em “Mulheres Apaixonadas”!) em um papel de tanto destaque em um filme hollywoodiano, e Bruna Marquezine, interpretando Jenny Kord, é uma protagonista ao lado de Jaime… e aquela única cena em que ela fala português fez meu coração dar um pulinho de alegria, confesso! Jaime Reyes, por sua vez, é interpretado por Xolo Maridueña, e ele também arrasa no filme, com um tom de comédia, de inocência e um carisma inegável! Um grande personagem! Bruna e Xolo dão vida a uma dupla maravilhosa de personagens, que conduz o filme de maneira orgânica e envolvente.

Também preciso dizer que as referências estavam incríveis. Como os Reyes são uma família mexicana, as referências a novelas são perfeitas! Já na primeira interação de Jaime e Jenny, Milagro comenta que aquilo pode ser meio “Maria do Bairro”, mas Jenny é o homem branco e rico, e Jaime é a Maria! Temos a oportunidade de ver brevemente Thalía durante a icônica abertura da novela (que eu amo!), e ouvimos a família cantar o tema “María la del Barrio” mais de uma vez, e são sempre cenas incríveis (até “Maria Mercedes” também ganha uma breve menção). Além disso, ainda temos o equipamento de Rudy (um personagem excelente, chamado por Jaime de “Doc Brown mexicano”), que ele chama de “O Chapolin”, e que transmite cenas do “Chapolin Colorado”.

QUE DELÍCIA!

Devo dizer que eu amo esse tipo de brincadeira com referências (ainda mais em se tratando de algo que eu amo tanto como “Maria do Bairro”), e eu gosto de como elas são inseridas com bom-humor e de maneira inteligente nas cenas, mas também estão no cerne da produção: o conceito de “Maria do Bairro” e a honra que ela sente em ser do bairro, por exemplo, reflete no orgulho dos Reyes em serem latinos e serem, também, “do bairro”, Key Edge. Além disso, há um quê de “exagero” que muitas vezes é associado a novelas mexicanas que ajuda a compor os personagens, como a MA-RA-VI-LHO-SA avó de Jaime, com um passado secreto e desconhecido por parte da família, surpreendendo ao assumir armas, defender a família e dizer coisas como “Há muitas coisas que você não sabe sobre sua avó” e dar risadas exageradas.

Como não amar?!

Isso não quer dizer que o filme também não tenha o seu peso dramático. Todo esse clima bom ajuda a definir a relação de Jaime com a família, conferindo mais peso à sequência que começa a preparar o clímax do filme, quando a casa dos Reyes é atacada: a família perde a casa em um incêndio, o pai de Jaime é assassinado e o próprio Jaime é capturado por Victoria Kord, que pretende retirar dele os poderes do escaravelho. E, de alguma maneira, a morte de Alberto Reyes acaba desempenhando um papel importante na narrativa quando, durante o clímax, o pai “vem” até Jaime após um desmaio do filho para dizer que “ainda não é sua hora”… portanto, ele precisa se fundir a Khaji-Da de uma vez por todas e retornar para a luta – e para acabar com os planos de Victoria Kord.

Toda a conclusão do filme é bem típica de terceiros atos de filmes de super-heróis. Temos lutas, explosões, drama… gosto particularmente de como, depois de ser “reiniciada”, Khaji retorna falando um pouquinho de espanhol, o que dá um toque especial à armadura de Besouro Azul de Jaime Reyes, e de como Jaime mostra a Carapax, o OMAC de Victoria, que ele estava errado quando dizia que “o amor que ele sente por sua família é sua fraqueza”. Xolo Maridueña entrega uma intensidade única ao enfrentar OMAC/Ignacio pela última vez, em uma cena na qual toda a dor e o medo de perder sua família transbordam dele em forma de força e, de certa maneira, irracionalidade… e é justamente por isso que a união de Jaime + Khaji é tão importante. Porque eles se equilibram.

“Besouro Azul” é muito mais do que eu esperava que ele fosse! É um excelente filme de origem para um herói da DC, que equilibra bem uma crítica ao imperialismo, à militarização da ciência, à sede de poder acima de tudo e à gentrificação com algo íntimo e intenso que fala sobre humanidade, sobre a relação entre pessoas e sobre o conceito de família, que vai muito além do sangue: Jenny Kord é acolhida em uma nova família pela primeira vez desde o desaparecimento do seu pai, o antigo Besouro Azul que não foi escolhido pelo escaravelho. “Besouro Azul” é sincero, divertido, emocionante e eu diria que ele é “cheio de vida”. Foi um prazer assisti-lo, e eu adoraria poder ter mais desse Jaime Reyes e dessa Jenny Kord no futuro da DCU nas mãos do James Gunn. Quem sabe?

 

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