Doctor Who (2ª Temporada, 1965) – Arco 015: The Space Museum, Parte 1
“And here
we are, face to face with the fourth dimension”
Existem dois
tipos de situações nos quais eu penso em fazer uma pausa na minha maratona da série
clássica de “Doctor Who”. Um deles é
quando temos um arco tão ruim quanto “The
Web Planet”, que me deixa desanimado para continuar e eu sinto que
“preciso de um tempo”; outro é quando temos um arco TÃO BOM quanto “The Space Museum”, e eu só
quero um tempinho a mais para curtir essa
sensação porque eu não sei o que vem pela frente. Escrito por Glyn Jones
(infelizmente, seu único roteiro para a série) e dirigido por Mervyn Pinfield, “The Space Museum” é o sétimo
arco da segunda temporada de “Doctor Who”,
e foi exibido entre 24 de abril e 15 de maio de 1965, em quatro partes – e é O
MEU ARCO FAVORITO do Primeiro Doctor até agora!
Que história
maravilhosa!
A estreia de
“The Space Museum” é tão
fascinante, tão rica e tão ousada, que ali eu tinha certeza de que teríamos uma
grande história em mãos – e o fato de o arco ter apenas 4 episódios foi
essencial para garantir o ritmo e tornar o arco memorável. “The Space Museum” é o que chamamos de FICÇÃO CIENTÍFICA. “Doctor Who” é, é claro, uma série de
ficção científica da década de 1960, mas ela brinca com diferentes gêneros e
maneiras de contar história, e talvez essa seja a história mais característica de ficção científica até o momento – não é uma
trama histórica, como outros bons arcos que tivemos na série, nem um sci-fi exageradamente influenciado pela
fantasia… aqui, temos a ficção científica pura, brincando com conceitos como a
quarta dimensão.
Como
aconteceu algumas vezes, a TARDIS se
materializa em uma situação misteriosa,
e todo o primeiro episódio do arco parece envolto em muitos mistérios, com
coisas estranhas acontecendo… os personagens trocam das roupas que usaram em “The Crusade” para suas roupas
tradicionais sem lembrar de terem feito
isso, por exemplo; Vicki derruba um copo d’água, mas ele retorna para a sua
mão, intacto, com a água ainda dentro; eles caminham do lado de fora da TARDIS,
mas não deixam qualquer tipo de pegada; o silêncio no planeta onde pousaram
parece quase palpável; alguns guardas conversam perto deles, mas não parecem
emitir nenhum tipo de som, ou o Doctor e os demais não podem escutá-los… uma
série de mistérios a serem resolvidos.
Eles estão em um museu espacial, como o título do
arco sugere… e é interessante como a ideia de um “museu espacial” é usada para dar dicas do que estava por vir. Gosto
particularmente da cena em que eles veem a carcaça de um Dalek em exposição, e
Vicki comenta sobre como o que sabe sobre eles é o que leu em livros de
história, como que eles invadiram a Terra há uns 300 anos – inclusive, é muito
bacana ela mencionar isso, tanto porque nos lembra que ela é uma companion que veio do futuro, quanto
porque o Doctor e os demais estiveram na
Terra na época da Invasão Dalek, e foi lá que nos despedimos de Susan.
Destaque para os comentários a respeito dos Daleks, e o Ian comentando que “é
bem improvável que eles os encontrem novamente”.
Ha.
Eventualmente,
Vicki descobre que eles não podem tocar
nas coisas que estão em exposição no museu… não por causa de alguma regra
que temos em museus do século XX ou XXI, porque ela tenta desobedecer o alerta
do Doctor (!), mas porque a sua mão passa
diretamente pelo objeto em exposição que ela tenta tocar, como se ele fosse
imaterial – ou, pior: como se ela fosse
imaterial. O Doctor, Ian, Barbara e Vicki não podem tocar em nada exposto
no museu, não podem escutar as conversas dos guardas, claramente estão
invisíveis para eles, e finalmente encontram a TARDIS e a eles mesmos expostos
em caixas de vidro, como peças de um museu… e é assim que o Doctor começa a
juntar todos os detalhes e percebe que talvez
eles não estejam ali.
Não ainda, pelo menos.
“Doctor, when will we arrive?”
Uma falha da
TARDIS fez com que os viajantes “chegassem” antes de chegarem de verdade, como
uma luz que demora um pouco para acender depois de você apertar o interruptor,
e isso lhes permitiu uma “espiada” no futuro: um futuro que, agora, eles vão tentar impedir a qualquer custo –
nenhum deles quer terminar exposto em uma caixa de vidro no Museu Espacial de
Xeros, quer? O BRILHANTE primeiro episódio (que é o meu episódio favorito na
série clássica de “Doctor Who” até
aqui) termina com a chegada oficial da TARDIS e, consequentemente, de seus
tripulantes, e então algumas coisas acontecem: as pegadas aparecem, o copo de
água de Vicki se quebra, as exposições desaparecem, e a ação começa… eles
precisam fazer algo para mudar o futuro.
O planeta de
Xeros, onde o Museu Espacial foi estabelecido, é habitado por dois povos: de um
lado, os Moroks, que são os responsáveis pelo museu, e que invadiram o lugar;
do outro lado, os Xerons, nativos do planeta e que tiveram sua casa roubada, e
que agora planejam reconquistá-la de alguma maneira. Ambos os grupos
naturalmente estarão buscando quem quer que tenha chegado naquela misteriosa
caixa azul alienígena… enquanto isso, o Doctor e os demais ficam se perguntando
o que fazer, e esse é um dilema
inusitado e muito bacana de se acompanhar: escapar do Museu parece o mais óbvio
a se fazer, mas se é tão óbvio, não é o que eles fazem e os conduz para o
futuro que querem evitar, expostos no museu? Como quebrar essa cadeia de
eventos?!
Como fazer
algo diferente do óbvio?
A premissa é
curiosa, e levanta algumas perguntas muito bacanas e que rendem tanto uma boa
história quanto diálogos incríveis… e mesmo que sair do Museu Espacial seja a
opção óbvia que, consequentemente, pode levá-los exatamente ao que eles querem
evitar, eles não conseguem pensar em algo diferente, e tentam escapar – o que
tampouco é simples, porque os corredores do museu são verdadeiros labirintos
nos quais eles se perdem com facilidade, e eles são seguidos de perto por um
trio de Xerons (Tor, Dako e Sita), jovens que querem recuperar o planeta e que
acreditam que os visitantes podem ser a chance pela qual eles esperaram por
tanto tempo… se eles ao menos tiverem a chance de conversar com os visitantes e
explicar sua história…
O Doctor é o
primeiro do grupo a ser capturado.
Preso em uma cadeira, o Doctor é colocado frente-a-frente com o Governador
Lobos, o curador Morok do Museu Espacial estabelecido em Xeros, um homem frio
que está determinado a colocar o Doctor em uma exposição – exatamente como eles
viram “antes” de chegar ao planeta. Devo dizer que o Primeiro Doctor tem sempre
momentos incríveis, e o interrogatório
com Lobos é um deles, porque ele é submetido a uma máquina que é capaz de
transformar seus pensamentos em imagens,
e que Lobos acredita que é o suficiente para conseguir arrancar respostas do
Doctor mesmo que ele fique em silêncio, mas o Doctor é muito mais inteligente
que isso… ele “enganando” a máquina e projetando imagens de uma bicicleta e
focas?
Ah, eu amo o
Doctor todo palhacinho!
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