Fellow Travelers 1x04 – Your Nuts Roasting on an Open Fire

Natal.

Revoltante, triste e tenso, “Your Nuts Roasting on an Open Fire” É o episódio mais intenso de “Fellow Travelers” até o momento. Enquanto a história na década de 1980 se desenvolve e ganhamos uma informação importante (de que Marcus e Frankie estão juntos, o que me deixou bastante contente!), o Natal de Hawkins Fuller na década de 1950 é marcado por uma denúncia que o coloca sob investigação. A perseguição contra apoiadores do comunismo e a comunidade LGBTQIA+ durante o governo de McCarthy é absurda, e “Fellow Travelers” retrata isso com tamanha verdade e brutalidade que sentimos cenas como a daquele homem que sai de um “interrogatório” e se joga na frente de um caminhão com angústia e nervosismo… e Hawkins é o próximo.

Toda a sequência de Hawkins Fuller sendo “investigado” é revoltante, humilhante e difícil de se assistir… Hawk tem que responder a uma série de perguntas a respeito de sua vida particular, e passa por testes como “caminhar pela sala” ou “ler o parágrafo de um livro” – e, no dia seguinte, ele será submetido a um polígrafo. Com todos os olhos sobre si, Hawkins se aproxima de Lucy, enquanto tenta encontrar maneiras de “enganar” o polígrafo – e ele tem a sorte de sempre ter sido muito bom em mentira. Toda a sequência do polígrafo é marcante… angustiante, sim, mas também com uma direção fantástica que expressa toda a intensidade do momento e as artimanhas de Fuller. A maneira como as perguntas trazem memórias em flashes e como ele desvia delas antes de responder…

E, assim, ele engana o polígrafo.

Interessante notar que as perguntas feitas a Hawkins trazem a ele memórias – quando perguntam se ele já se envolveu em sodomia ou se já teve contato oral com os órgãos genitais de outro homem, flashes quentes e rápidos retornam à mente de Hawkins, mas é quando perguntam se “ele já se considerou apaixonado por outro homem” que Hawkins mais tem dificuldade para responder, porque a imagem de Tim fica insistentemente aparecendo em sua mente… e eu quase temi que ele não fosse capaz de “suprimir” aquela memória, pensar em algo que o distraísse e acalmasse os batimentos cardíacos para sua mentira não ser captada pelo polígrafo… no fim das contas, é bom ver o Hawkins saindo daquela sala, com a frustração clara do entrevistador.

Mas a cena sugere que Hawkins está, sim, apaixonado por Tim… ele tem dificuldade para aceitar e demonstrar isso, ele preza demais sua “imagem” e tem medo, mas ele o ama. A troca de presentes no Natal é uma das minhas cenas favoritas: a maneira como Tim presenteia Hawk com uma gravata vermelha e como o Hawk o presenteia com abotoaduras com as suas iniciais, o que não é muito discreto, mas deixa Tim feliz. Aquela noite também traz uma das sequências mais quentes entre Hawk e Tim (“Fellow Travelers” continua entregando cenas memoráveis nesse quesito!), quando Hawk diz a Tim que “hoje é a sua vez”, e então ele faz sexo oral em Tim, provavelmente pela primeira vez… as expressões de Tim, o olhar de Hawk, a boca brilhando – é de arrepiar!

E, no meio disso tudo, Hawkins está cada vez mais próximo do Senador McCarthy, ironicamente, e as cenas são cheias de um suspense que só não é pior porque sabemos que Tim sobreviveu até a década de 1980… mas Hawkins acaba descobrindo sobre a pressão que McCarthy está sofrendo para demitir Roy Cohn e, consequentemente, sobre o “caso” de Cohn com Dave Schine, o que é perversa e injustamente irônico. Também acompanhamos um pouco de Marcus, que recebe uma proposta para trabalhar no The Post, depois da sua denúncia sobre como as leis antissegregacionistas são “de fachada”, e a grande ironia é justamente o fato de que “existem lugares que Marcus precisará evitar por enquanto no The Post, incluindo o banheiro que todos usam”.

O roteiro é certeiro na ironia perversa.

Na década de 1980, Hawkins é “obrigado” a reconhecer que talvez as coisas não tenham mudado tanto desde a última vez em que ele vira Tim, sabe-se lá há quantos anos… Tim continua sendo um revolucionário e um sonhador, acreditando em mudança, enquanto Hawkins continua sendo alguém que se esconde através de uma fachada, morrendo de medo de tudo. Isso é escancarado quando Hawkins apresenta “limitações” para oferecer a Tim uma ajuda que ele lhe pede, e os dois acabam tendo uma discussão terrível que pode fazer com que Hawkins carregue consigo uma culpa para o resto da vida, porque pode ter sido a última vez que ele viu Tim com vida… quando ele retorna para o apartamento, no fim do dia, ele descobre que Tim foi para o hospital.

E é grave.

 

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