Clube da Luta Para Meninas (Bottoms, 2023)
Caótico. Hilário. Emocionante?
Divertido,
propositalmente exagerado e definitivamente CAÓTICO, “Bottoms” é uma das melhores comédias que eu assisti em 2023 – com
direito a representatividade LGBTQIA+, uma inesperada mensagem bonita de
sororidade e bizarrice… muita bizarrice. Com direção de Emma Seligman e roteiro
da própria Emma e de Rachel Sennott, “Bottoms”
é uma daquelas comédias escrachadas que quase acaba virando um slasher, especialmente no grande clímax
do filme quando o “clube da luta para meninas” se reúne para salvar a vida de
um cara que, na verdade, elas detestam (!), e toda a experiência é singular! A
maneira como cada momento é inesperado, como cada cena supera a anterior e como eu soltei gargalhadas sinceras e um tanto incrédulas enquanto assistia.
Sem dúvida, é um filme intenso.
Acho que eu
preciso fazer um breve comentário a respeito do título do filme… lançado já há alguns meses nos Estados Unidos, o
filme foi carinhosamente chamado por
fãs brasileiros que esperavam o lançamento de “Passivonas”, e embora eu ache o título incrível e chamativo, no
fundo eu não sei se ele realmente conversa com o filme, no fim das contas. De
todo modo, a Prime Video anunciou o filme como “Clube da Luta Para Meninas” quando nos deu uma data de lançamento,
e embora o título esteja sendo usado no IMDb e na legenda oficial do filme
quando ele termina, notei que o logo escolhido na página oficial do filme na
Prime Video é o original, com “Bottoms”
mesmo – acho que eles perceberam que “Clube
da Luta Para Meninas” não ia pegar.
Já estava
conhecido como “Bottoms/Passivonas”.
O filme
conta a história de PJ e Josie, duas adolescentes prestes a terminar o Ensino
Médio e querendo desesperadamente pegar
as garotas por quem elas são apaixonadas… o problema é que elas se sentem
detestadas por toda a escola, e não por elas serem lésbicas: elas mesmas falam que todos as odeiam porque
elas são “feias e sem talento”. Então, elas resolvem mudar de vida, tomar
uma atitude e conquistar as líderes de torcida por quem são apaixonadas, e a
oportunidade parece surgir inesperadamente em um momento absurdo quando elas
“atropelam” Jeff, o craque do time de futebol americano da escola – elas quase
são expulsas da escola, é verdade, mas inventam de improviso um “clube de
defesa pessoal” e tudo sai do controle depressa.
De certa
maneira, o filme tem uma premissa bem básica e talvez até “batida”, de reunir
um grupo de “desajustados” e torná-los fortes juntos, mas o tom do filme é que
faz com que tudo brilhe e se sobressaia… tanto que o filme foi aclamado pela
crítica (atualmente tem uma aprovação de 91% da crítica especializada no Rotten
Tomatoes, e 89% do público), e eu acho que muito disso se deve ao fato de
abraçar a comédia quase nonsense sem
preocupação. As situações são irreais, muitas vezes, as coisas são exageradas
ao extremo, mas o absurdo gera envolvimento, e o carisma das garotas faz com
que nós passemos a gostar de todo o grupo formado ao redor do “clube de defesa
pessoal/de luta para meninas” antes mesmo de podermos perceber.
PJ tinha um
único objetivo quando criou o clube: ficar
com uma líder de torcida. Josie, por sua vez, não teve lá muita escolha e
foi “puxada” para toda essa confusão. As demais se uniram aos poucos porque
aquele foi se tornando um lugar “seguro” (bem, mais ou menos) no qual elas
sentiam que não estavam sozinhas… e essa transição é bastante bonita e até
surpreendente. No meio da pancadaria sem preparo algum que envolve
irresponsabilidade do professor supervisor, sandice adolescente, alguns narizes
quebrados e muito sangue (!), surge uma amizade e um apoio mútuo que é
expresso, por exemplo, naquela cena em que as garotas do clube sentam em
círculo no chão da quadra e começam a se abrir a respeito das coisas ruins que
já tiveram que enfrentar.
Ali, elas se
conhecem, se juntam, se fortalecem…
E realmente aprendem a se defender.
Mas não quer
dizer que não seja caótico. E eu ADORO que seja caótico, até porque o filme
mostra que uma comédia escrachada e hilária não precisa ser vazia de roteiro!
Eu adoro a ironia astuta adicionada em vários diálogos, e cenas icônicas como
as garotas do Clube de Luta se reúnem para “se vingar” de Jeff por ele ter
traído uma delas com a mãe de outra: então, elas atacam a casa dele com ovos
podres, papel higiênico… e uma bomba que
literalmente EXPLODE o carro dele. Tudo ao som de “Total Eclipse of the Heart”, o que deixou tudo estranhamente mais
engraçado (eu AMO essa música e nunca esperava por isso!), e Jeff só percebe
que o seu carro está em chamas quando já é tarde demais e as garotas fogem, se
perguntando se esse vai ser o fim do Clube…
Com uma
trilha sonora incrível, que também conta com “Complicated”, da Avril Lavigne, em uma cena icônica (!), “Bottoms” entrega sequências
emocionantes Quando tudo parece desandar, por exemplo, PJ e Hazel têm uma briga
séria (eu amei a Hazel!), as meninas descobrem que PJ e Josie mentiram, e
embora elas estejam furiosas com as fundadoras, as demais continuam unidas,
porque independentemente do que as juntou em um primeiro momento, o que elas
viveram, aprenderam e construíram ao longo do tempo que passaram juntas é verdadeiro… gosto muito de como o
roteiro evidencia a força que muitas daquelas meninas precisavam e como elas a
conseguiram ao se sentir empoderadas durante aquelas “aulas” de defesa pessoal.
E no apoio
uma da outra.
E o grande
suco de caos e confusão que é “Bottoms”
se resume brilhantemente no grande clímax do filme, no jogo da escola contra os
caras da Hutington High, em uma rivalidade que dura uns 50 anos e parece ter uma história marcada por assassinatos…
PJ e Josie decidem deixar todas as diferenças para trás, pedir as desculpas
necessárias, reunir o clube e mostrar o que elas aprenderam impedindo um assassinato no campo de futebol
americano – e potencialmente cometendo vários outros com as próprias mãos
na frente de uma plateia atônita que termina por aplaudi-las, mas isso vem ao
caso? A cena e, principalmente, a conclusão dela é ABSURDA, mas talvez seja
justamente por isso que “Bottoms”
funciona. É impossível desgrudar os olhos incrédulos daquela pancadaria toda!
E de tudo o
que vem depois!
A
“celebração” no meio dos cadáveres? Quer dizer… OI?!
Inesperado,
caótico, divertido… uma experiência que certamente vale a pena!
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