Doctor Who: Especiais de 60 Anos – Especial 02: Wild Blue Yonder
Mavity.
Eu preciso
dizer que eu faço parte do grupo que adora a escrita do Steven Moffat, mas é
impossível assistir a um episódio como “Wild
Blue Yonder” e não falar sobre como o
Russell T. Davies entende “Doctor Who”. Um episódio extremamente rico que
lida, com destreza e rapidez, com as consequências da última era da série, ao
mesmo tempo em que é centrado em si mesmo, divertido, emocionante, angustiante
e, quem sabe, até um pouquinho assustador… com “vilões” inéditos e uma
habilidade preocupante, o segundo
especial dos 60 anos de “Doctor Who”
traz a dupla maravilhosa de Doctor + Donna enfrentando um perigo no limite do universo, à beira do nada, logo depois de a Donna ter
“derrubado” uma xícara de café na TARDIS e, bem… ter causado um estrago.
Ante de mais
nada, é necessário dizer que a introdução do episódio é uma das cenas mais
divertidas dos últimos anos de “Doctor
Who”. Passando pela Inglaterra em 1666, enquanto a TARDIS está descontrolada, o Doctor e a Donna
“conhecem” brevemente Sir Isaac
Newton (adoro como ele reage ao “Sir”
e o Doctor responde com a resposta padrão de River Song: “Spoilers”), enquanto ele está sentado
embaixo de uma macieira… pensando. A cena tem um clima maravilhoso, e a
Donna me arrancou uma gargalhada sincera com aquela piadinha infame a respeito
de como Isaac Newton, mais do que ninguém, “entende a gravidade da situação” (eu amo que o Doctor sabe o que ela vai dizer antes mesmo de ela falar), e Isaac Newton não entende bem a palavra.
Assim nasce
a “mavidade”.
E isso se
torna uma divertida piada recorrente do episódio.
Com exceção
da aparição de Isaac Newton no início do episódio e de Wilfred no final, “Wild Blue Yonder” é um episódio do 14º
Doctor e Donna presos em um lugar fechado, tendo que fugir de um perigo que
eles não entendem… razoavelmente “simples”, mas recheado de boas ideias e, é
claro, com a maravilhosa dinâmica de David Tennant e Catherine Tate. Eu ADORO
perceber o quanto o 14º Doctor pode ser diferente
do 10º, e como ele e Donna continuam sendo maravilhosos
em cada detalhe, depois de tantos anos! Há algo de extremamente divertido
(amei o diálogo sobre como o Isaac Newton era bonito, com o Doctor dizendo isso e a Donna comentando que essa
faceta “nunca esteve tão longe da superfície”, na verdade) e também
emocionante.
Doctor e
Donna entregam tudo em qualquer
proposta!
O cenário do
episódio é uma nave localizada tão longe de tudo que o Doctor sabe que a mente
“limitada” de Donna e qualquer pessoa do
Século XXI seria incapaz de entender… os vilões, por sua vez, são
metamorfos que entregam momentos bizarros
– e eu amo como “Doctor Who” pode
pegar algo aparentemente “sem-noção”, como os braços longos das cópias, a
mandíbula caindo a la “One Piece” ou
o crescimento exacerbado e emaranhado daquelas criaturas e transformar isso em
algo profundamente angustiante… é
bizarro, é quase cômico em vários momentos, mas também pode ser um suspense
excelente! A primeira cena dos falsos Doctor e Donna interagindo com os verdadeiros,
por exemplo, é um verdadeiro exemplo de como
construir tensão.
Esse é o
clima que, para mim, acompanha todo o episódio. Esse tipo de dúvida a respeito
de “quem é real e quem não é”, algo que já foi usado com os Zygons e mesmo lá
na série clássica, quando os Daleks criaram um robô com a aparência do Primeiro
Doctor para enganar Barbara, Ian e Vicki em “The
Chase”, por exemplo, é algo que eu gosto bastante na ficção, mas que pode
me causar angústia… assisti ao episódio deliciosamente tenso e vidrado, em cada nova cena na qual os misteriosos
metamorfos tentavam enganar o Doctor e a Donna e se tornavam gradualmente mais parecidos com eles – e,
consequentemente, mais difíceis de serem desmascarados. Ganhamos cenas icônicas
como a Donna descobrindo o Doctor falso pela gravata que ele tira!
Uma das
cenas do Doctor com a Falsa Donna, inclusive, traz um desenvolvimento dramático
quase inesperado, quando ela traz de volta os traumas recentes vividos pelo
Doctor, e sobre o qual ele não tem falado… gosto da menção, ainda que breve,
sobre o Fluxo, e como isso é algo que faz o Doctor sofrer, porque ele se sente
culpado, mas algo que ele está tentando enterrar. Ainda que haja certa similaridade no trauma do Fluxo com o
trauma da Guerra do Tempo, que reiniciou “Doctor
Who” em 2005, existe uma postura diferente do Doctor em relação a isso… e
eu gosto muito de como o 14º Doctor é complexo e profundo: ele sofre, ele
sente, mas ele esconde menos, e
consegue falar sobre seus sentimentos, suas saudades, e isso o torna realmente
MARAVILHOSO!
Ansiosíssimo
pelo Ncuti Gatwa como o 15º Doctor? Sim.
Mas eu amei
ter o David Tennant de volta como o 14º? Também.
Todo o
desenvolvimento do roteiro, as explicações, o tom sinistro das cópias 99,9%
perfeitas constroem um clímax eletrizante – e potencialmente desesperador.
Aquele momento em que a TARDIS se materializa novamente, pronta para levar
Doctor e Donna para longe do perigo,
mas o Doctor “escolhe a Donna errada” é UM VERDADEIRO GOLPE! Ver a Donna falsa
dentro da TARDIS, o Doctor aparentemente alheio ao fato e a verdadeira Donna
Noble em uma nave prestes a explodir, contemplando a própria morte… eu não
estava preparado para aquilo. E eu realmente temo que esse acabe sendo o
destino de Donna depois desses Especiais de 60 anos: a morte. Espero que não, de verdade. Ver o Doctor retornar pela
verdadeira Donna, jogando a cópia para fora, é um alívio imenso.
Aquele
abraço dos dois!
Uau!
Por fim,
ganhamos uma das cenas mais emocionantes
de “Doctor Who”, quando o Doctor
consegue pousar a TARDIS mais ou menos onde ele queria ir quando levou Donna
consigo no fim do episódio passado, antes de toda a confusão do café: para visitar Wilfred. Uma cena que já
era perfeitamente emocionante (a
felicidade de Wilfred ao rever o Doctor, a certeza dele de que “ele
reapareceria para consertar tudo” e o abraço emocionado são PERFEITOS!) se
torna ainda mais significativa quando pensamos que Bernard Cribbins, o ator que
interpretava o Wilfred, morreu no ano passado, depois de gravar seu último
retorno a “Doctor Who”. O episódio
dedicado à sua memória com aquele momento especialíssimo de reencontro me
deixou bem mexido.
Agora, “Doctor Who” deixa um gancho perfeito
para o último especial: o fim do mundo.
E é hora de
reencontrar o Toymaker, agora interpretado por Neil Patrick Harris.
MAL POSSO
ESPERAR!
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