[Season Finale] The White Lotus 1x06 – Departures
Despedidas.
Que mistura
absurda de sentimentos! Satisfeito com o final de apenas um personagem, o
primeiro Season Finale de “The White
Lotus” me deixou triste e me fez passar raiva… o que não é, no fim, uma
grande surpresa. Afinal de contas, como uma sátira social ferrenha, a série
sempre se propôs a expor o privilégio branco e rico, e não tinha como ser
diferente nessa conclusão – e, na verdade, não
devia ser diferente, tampouco, não com a proposta da série: fantasiar e
entregar um final catártico no qual personagens como Belinda e Armond se dessem
bem enquanto os Mossbacher ou o Shane se ferrassem seria tão ilusório que
quebraria todo o conceito de “The White
Lotus”, que em sua excentricidade e absurdo, sempre se voltou para a
realidade.
É doloroso,
é revoltante, é perturbador… mas é real.
Infelizmente.
Curiosamente,
ainda que com um quê de comédia absurda, “The
White Lotus” na verdade acaba constantemente causando uma sensação de repulsa. A série não foi construída para
que gostássemos dos personagens – e
ver como algumas pessoas parecem gostar do Mark e da Nicole, por exemplo,
mostra como essas pessoas falharam em entender qual era, de fato, a mensagem e
a proposta de “The White Lotus”. Nós
não entramos nesse universo para gostar
de ninguém, para torcer por ninguém,
mas para ver escancarada a maneira como pessoas brancas e ricas têm
praticamente tudo o que quer e acham que podem comprar o que não tem… como as
pessoas ao seu redor são acessórios e objetos… como eles são egoístas,
mesquinhos e mimados.
Rachel, que
não fazia necessariamente parte desse universo inicialmente, passou a temporada
inteira aprendendo a enxergar quem era o homem com quem ela casou: uma pessoa
que não é apenas rude, mimada e arrogante, mas plenamente desprezível de
qualquer ponto de vista… e, percebendo que cometeu um erro (e finalmente
entendemos um pouco de como ela se
deixou iludir e como estava fragilizada
quando conheceu Shane), ela diz a Shane que não deveria ter se casado com ele.
A reação dele varia de um extremo a outro: de fingir que nada aconteceu, como
se Rachel nunca tivesse dito nada, a fazer cobranças de maneira violenta e
opressora, batendo na mesa e se recusando a entender o que fez de errado… quando, na verdade, ele fez TUDO de errado o
tempo todo.
A lua-de-mel
foi um inferno… e tudo graças ao Shane.
Tanya, por
sua vez, que de certa maneira é uma das menos
pior entre os ricos, também se mostra egoísta e insensível, vendo Belinda
como um objeto, assim como todos os outros hóspedes que acompanhamos veem
qualquer pessoa que não seja um deles como um objeto. Tanya usou Belinda quando
precisou dela porque chegou realmente abalada
ao White Lotus, a encheu de esperança para um projeto com o qual Belinda já
estava sonhando (e que tinha muito bem estruturado, na verdade), para depois
dar para trás simplesmente… porque a falta de responsabilidade emotiva com o
outro é demais. Eu sofri de verdade pela Belinda quando ela ficou para trás,
chorando, enquanto Tanya ia viver mais um capítulo da sua vida de fachadas ou
qualquer coisa.
Kai, por sua
vez, nem chega a aparecer no episódio… nós não sabemos como ele foi pego, nós
não sabemos o que aconteceu com ele,
mas podemos imaginar – proposital ou não, o fato de Kai nem chegar a aparecer
nesse último episódio de “The White
Lotus” só reflete a sua “insignificância” perante os outros. E os
Mossbacher só estão felizes porque eles têm suas joias de volta, porque isso é
o que importa para eles, no fim. A relação de Paula e Olivia é perturbada, mas
Paula teme ter “estragado tudo” porque, no fim, ela não quer realmente abrir
mão dos privilégios que ela só tem por ser “amiga de Olivia Mossbacher”, e o
único Mossbacher que segue se salvando
até o final é mesmo o Quinn… ele é um fofo, e descobriu o que é viver enquanto no White Lotus.
Doeu vê-lo
pedindo para ficar e não sendo levado a sério.
Por fim,
temos Armond descobrindo que o filho da p*ta do Shane realmente conseguiu fazer com que ele perdesse o emprego… e, então,
ele resolve que nada mais importa. No seu provável último dia no White Lotus,
Armond usa drogas, bebe, chama alguns funcionários para fazerem o mesmo no seu
escritório – e eu achei que aquela poderia ter sido a construção de um grande
caos… eu queria ver o Armond colocando
tudo abaixo nesse hotel, eu teria amado acompanhar um surto seu. No fim,
sua história é muito mais dramática e triste… ele invade o quarto de Shane para
fazer cocô na sua mala (!), mas isso acaba lhe custando a vida quando Shane
escuta um barulho no quarto e pega uma faca que deixara perto da cama por causa
“do criminoso que estava rondando o hotel”.
Então, Armond morre dentro de uma banheira
na suíte mais cara do White Lotus.
É um final
agridoce… perceber que a morte da qual sabemos desde o começo é de Armond é
brutal, e ver Shane sendo recebido pelos policiais com apertos de mão e saindo
livremente no aeroporto no fim é ainda mais perverso e realista do roteiro:
Shane vai alegar que estava abalado por causa da briga com Rachel, que estava
bêbado, que acertou Armond em legítima defesa… e ele é branco e rico, ele nunca
pagaria por esse crime. Para piorar ainda mais a situação, Shane não se dá bem
apenas no caso da morte de Armond, mas Rachel o encontra no aeroporto para
dizer que “está tudo bem” e que “ela vai ser feliz”, voltando com ele… o que me deixou com bastante raiva, mas
ela não teve coragem de abrir mão dos privilégios, no fim das contas. O único
que o faz, talvez sem entender bem o que está fazendo, é o Quinn…
Foi
extremamente prazeroso vê-lo se virar e correr para fora do aeroporto antes de
embarcar.
Pelo menos o Quinn ficou bem.
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