Doctor Who (2ª Temporada, 1965) – Arco 017: The Time Meddler
“He’s the
crew, we’re only passengers”
Escrito por
Dennis Spooner e com direção de Douglas Camfield, “The Time Meddler” é o nono e último arco da segunda
temporada de “Doctor Who”, exibido
entre 03 e 24 de julho de 1965, em quatro partes, e é um arco bastante importante na história da
série, a meu ver. Além de ser a apresentação oficial de um novo companion após a saída de Barbara e Ian
(embora Steven Taylor tenha estreado em “The
Chase”, no Planeta Mechanus), é a primeira vez que vemos um outro Time Lord em “Doctor Who” – assim, quando o Doctor,
Steven e Vicki chegam à Inglaterra em 1066, eles percebem que algumas coisas
parecem “deslocadas”, como um relógio moderno que está perdido na floresta, e o
Doctor precisa entender o que está
acontecendo… e quem está causando isso tudo.
Eu gosto
muito de como a despedida de um companion
não é ignorada no início do arco seguinte, então o Doctor e Vicki têm uma
conversa muito bonita e sincera sobre a partida de Barbara e Ian, e o Doctor
quer conversar com Vicki para ter certeza de que ela não ficou para trás apenas
porque não queria deixá-lo sozinho, mas ela não tinha mesmo o que fazer na
Londres de 1965, e ela quer continuar
viajando… e, assim, começamos uma nova aventura, com o detalhe de termos um barulho em um outro cômodo da TARDIS,
que descobrimos ser Steven Taylor: o piloto que eles conheceram em Mechanus e
que estava sendo mantido prisioneiro pelos Mechanoids há aproximadamente dois
anos… confesso que fiquei muito feliz em vê-lo de volta!
Em “The Chase”, vemos Steven se
separar do grupo para voltar por seu ursinho de pelúcia que foi sua única
companhia por tanto tempo (sabe o Wilson, em “Náufrago”?), e não sabíamos o que tínhamos acontecido a ele…
presumimos sua morte na Cidade Mechanoid, mas ele conseguiu entrar escondido na
TARDIS (!), e agora é um novo passageiro ao lado de Vicki – e eu fico
imediatamente curioso para saber como será sua interação com Vicki e com o
Doctor… Steven ganha todo o tratamento de um novo companion, com direito à Vicki explicando que a TARDIS é pequeno
mesmo do lado de fora e que é uma máquina do tempo… eu gosto muito desse tipo
de diálogo, e sempre me dá a sensação de recomeço
– e é curioso que isso não aconteça em início de novas temporadas na série
clássica.
Afinal de contas, é uma ótima maneira de
explicar novamente algumas coisas.
Como é de
costume, o grupo se separa logo que chegam a Nortúmbria, 1066. O Doctor pede
que Vicki e Steven o esperem ali, do lado de fora da TARDIS, enquanto ele vai
descobrir onde estão, e ele tem uma conversa interessante com Edith, uma mulher
que conhece em uma aldeia próxima, na qual ele faz perguntas direcionadas para
entender em que ano e em que lugar estão
– gosto de como o Doctor não precisa perguntar diretamente, porque ele sabe como fazer outras perguntas que lhe darão a resposta que ele procura… e quando
ele percebe uma “falha” no que deveria ser a música cantada por monges em um
mosteiro próximo, ele resolve investigar,
e descobre que o mosteiro está praticamente vazio, e a música vem de uma
gravação em uma vitrola…
Que nem deveria existir em 1066.
O Doctor
termina preso por um Monge misterioso, enquanto Vicki e Steven desobedecem a
sua ordem e saem de perto da TARDIS, e a Vicki tem um pouco de trabalho com o
Steven… afinal de contas, ele é novo
nisso tudo, bastante cético e, é claro, imprudente – e encontrar um relógio
moderno no que deveria ser a Inglaterra do século XI não o ajuda a acreditar mais no que o Doctor e a Vicki
lhe contam. Quando eles são capturados e levados à aldeia por onde o Doctor
passou na noite anterior, eles descobrem que ele partiu para o mosteiro e resolvem investigar eles mesmos, tendo o
primeiro contato com o Monge, em quem não acreditam nem um pouco… e o Steven
prova que o Monge está mentindo o fazendo “repetir” uma descrição do Doctor
(que eles nunca deram a ele).
Nesse
sentido, “The Time Meddler” é
muito parecido com o que estamos habituados a ver nessas duas primeiras
temporadas de “Doctor Who”: o grupo
separado, o Doctor raptado para que William Hartnell possa tirar uma semana de
férias, e toda essa jornada em busca uns dos outros, com direito a uma passagem
secreta que leva para dentro e para fora do mosteiro com certa facilidade… a
grande novidade do arco, é claro, é o fato de estarmos vendo várias coisas que
parecem fora do lugar – ou melhor, fora de época. Uma espécie de canhão
escondido nos arbustos para destruir os vikings em sua chegada, por exemplo, o
que não deveria estar ali. Vicki e Steven estão desconsertados, é claro. O
Doctor, por sua vez, retorna ao mosteiro depois de escapar…
Afinal de contas, ele precisa de respostas.
Amo toda a
cena do Doctor com um galho nas costas do Monge, dizendo que é uma arma, porque
eu amo quando o Doctor está todo poderoso e decidido desse jeito. Quando ele é
enganado pelo Monge para vestir uma roupa como a dele e acaba sendo trancado
novamente na mesma cela de antes pelos vikings que invadem o mosteiro (!), ele
não escapa pela passagem secreta dessa vez… ele engana o guarda viking e o
surpreende saindo de trás da porta e o atacando, e é sério: COMO NÃO AMAR ESSES
MOMENTOS DO PRIMEIRO DOCTOR?! Então, ele pode ir novamente atrás do Monge para
conseguir respostas, e é aí que algumas explicações e revelações vêm à tona, e
é minha parte favorita de “The Time
Meddler”. Que grande momento para
“Doctor Who”.
Vicki e
Steven descobrem a entrada para a TARDIS do Monge, o que confirma: ELE É MESMO
UM TIME LORD. Amo o espanto de Vicki (“It’s
a TARDIS. The Monk’s got a TARDIS!”), e amo como eles exploram o lugar e
fazem algumas descobertas, vendo a coleção de itens de todos os tempos e
lugares possíveis, que o Monge expõe em sua TARDIS, e uma espécie de diário no
qual o Monge comenta sobre algumas coisas que fez, como a ideia que deu a
Leonardo da Vinci ou o dinheiro que ele colocou no banco um dia e retirou 200
anos depois, com todos os juros compostos possíveis. Enquanto isso, o Doctor
escuta algumas dessas histórias do próprio Monge, encurralado e interrogado, e
o lembra sobre a primeira regra da viagem no tempo: não interferir na história.
Mas é o
oposto do que o Monge quer fazer e vem fazendo sabe-se lá há quanto tempo!
Foi ele que
ajudou na construção de Stonehenge, por exemplo!
Considero um
grande momento de “Doctor Who” porque
não é só a primeira vez que conhecemos outro Time Lord, mas conhecemos um Time
Lord que não segue as mesmas convicções do Doctor – e precisa ser detido. Seus
planos megalomaníacos de “melhorias na história da humanidade” são perigosos, e
o Doctor, chocado com a sua absurda irresponsabilidade, resolve o problema com
as próprias mãos, sabotando a TARDIS do
Monge para que ele não possa mais deixar 1066… ele vai embora se
divertindo, deixando para trás uma carta ao Monge e dizendo que talvez um dia
ele volte para “libertá-lo”. Spoiler alert: essa
história não termina aqui. Uma ótima finalização para essa temporada e uma
boa prévia do futuro de “Doctor Who”.
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