Last Twilight – Episode 10

“A lua está linda hoje”

Um episódio riquíssimo, cheio de emoções e de possibilidades, que traz cenas marcantes para “Last Twilight”, como a reconciliação de Day e Night, algo pelo qual estávamos esperando há muito tempo (e que sabíamos que estava próxima, já que os episódios anteriores exploraram a história deles, de alguma maneira), e um gancho que, particularmente, me preocupa… mas deixarei para me preocupar com isso na conclusão desse texto e, se necessário, no próximo episódio. Nesse momento, aproveito para elogiar, mais uma vez, a condução fascinante de “Last Twilight”, que utiliza o drama de uma forma sensível e cometida – não de uma maneira tímida ou insuficiente, de forma alguma, mas sem exageros desnecessários, permitindo que se transmita verdade.

Quando aceitou levar Day até o casamento de Aon e Pla sem que Night os acompanhasse, Mhok sabia que, ao retornar, ele teria que enfrentar as consequências de sua atitude… e, quando a mãe de Day pede que Night o leve para o quarto porque “quer conversar com o Mhok”, ele sabe o que está por vir, e escolhe ele mesmo pedir sua demissão, que a mãe de Day aceita de bom-grado, apenas mandando que ele vá até o quarto e se despeça de Day antes. A cena de Day tentando entregar o livro de “Last Twilight” para Mhok e pedindo que “ele traga novamente no dia seguinte e continue lendo para ele”, com o Mhok respondendo que “chegou ao fim e ele precisa encontrar outro livro” me partiu o coração, e eu fiquei me perguntando o quanto estava terminando ali.

Gosto muito de como o Aof consegue construir personagens que são propositalmente imperfeitos e, ao fazer isso, ele entrega personagens e dramas muito realistas. É o que ele fez com maestria em “Moonlight Chicken”, que segue sendo, para mim, a obra-prima do diretor, e que ele retoma especialmente nesse episódio de “Last Twilight”, através da personagem da mãe de Day: é muito mais complexo do que um primeiro olhar desatento pode ver. Inegavelmente equivocada, Ramon ignora o bem notável que Mhok fez a Day desde que começou a trabalhar como seu “cuidador”: ele foi, talvez, a primeira pessoa que viu Day como alguém capaz de adquirir sua independência e levar uma vida normal… foi ele quem o fez sair do seu quarto e voltar a viver.

Mas, por ora, Ramon quer que Day retorne para dentro do enclausuramento do seu quarto, onde ela “sabe que ele estará seguro”. Com essa abordagem, “Last Twilight” levanta assuntos que trazem reflexões… a atitude de Ramon está completamente errada, sem dúvida, mas paradoxalmente parte de um olhar de proteção que já foi além do saudável – é o que chamamos de “superproteção” e, infelizmente, é algo muito recorrente a pais cujos filhos passaram a viver com uma deficiência que não tinham antes. Eu não questiono o amor que Ramon sente por Day, porque eu acho que ela o ama, mas ela vai precisar sair de sua posição de quem acha que “é quem sabe o que é melhor para o seu filho” e aprender a enxergar o quanto o Day cresceu com a confiança e o apoio de Mhok.

Assim como Mhok, ela precisa aprender a acreditar em Day.

E isso é um processo.

Com a viagem “sem autorização”, o atraso no retorno e o namoro de Mhok e Day vindo à tona, Ramon toma todas as decisões equivocadas possíveis, mandando o Mhok embora daquela casa, tentando impor um novo cuidador e tirando o celular e a internet de Day para que ele não possa mais se comunicar com Mhok… essa última atitude vem depois de uma das cenas mais lindas de Mhok e Day, quando Mhok liga para Day e, quando Day diz que “queria que ele estivesse ali com ele”, Mhok fala sobre a lua e pede que ele venha até a janela… a conexão daqueles dois, a beleza da cena mesmo com os dois à distância, tudo é perfeito – e brutalmente destruído por Ramon porque ela decidiu que “o Mhok não é bom o suficiente para Day”, e não porque ele é um homem, mas porque é pobre.

Elitista? Sim. Homofóbica? Jamais.

É nesse cenário que o roteiro encontra uma maneira perfeita de aproximar Day e Night, e eu preciso dizer: foi emocionante como eu esperava/torcia para que fosse. Lembro-me de comentar lá no primeiro episódio, quando Day falou sobre Night, que “eu não via o Night como uma pessoa má” ou algo assim, e isso acabou se provando verdade no decorrer de “Last Twilight”. Night sente uma culpa imensa porque o acidente que causou dano às córneas de Day aconteceu quando o irmão foi buscá-lo bêbado em um bar, mas ainda foi um acidente – ele se culpa desde então, e Day faz questão de intensificar essa culpa. “Last Twilight” consegue conferir verdade aos personagens que não são inteiramente bons ou inteiramente ruins porque, convenhamos, as pessoas na vida real tampouco são.

Existem muitas camadas.

Night tem tido pequenas atitudes que mostram o quanto ele se importa com o irmão, e mais algumas nesse episódio, como quando ele leva um celular escondido para que Day possa falar com Mhok, sem que a mãe saiba, ou quando ele tenta convencer a mãe a mudar de ideia em relação a Mhok e Day o escuta. Fiquei apreensivo durante a cena em que Day desce para jantar com Night, Night troca as tigelas e Day pergunta se “ele está comendo a comida fria só para parecer legal”, mas depois o clima se torna mais ameno e quando o Night pede umas desculpas despretensiosas, apenas pela temperatura da comida, Day diz que o perdoa – por tudo. A emoção tomando conta de Night conforme ele toma longos segundos para responder com um “Obrigado” é perfeita.

Talvez o carisma de Mark nos ajude a gostar de Night, mas eu o acho um personagem escrito com muito cuidado… amo que ele tenha combinado com Porjai para Day e Mhok se encontrarem “por acaso” no hospital no dia seguinte, por exemplo, e eu quase chorei com ele durante a cena do jantar de Natal. Inicialmente, foi bastante doloroso ver o Night se levantando para ir embora e “celebrar com os amigos” enquanto Ramon dedicava toda sua atenção ao Day, porque é terrível a sensação de se sentir preterido, e quando ambos pedem que ele fique e asseguram a sua importância reconhecendo seu prato favorito, Night desaba em lágrimas em uma cena ironicamente singela e arrebatadora. Um momento belo e emocionante que quase me levou às lágrimas com o Night.

Queria poder protegê-lo também.

Day e Mhok, por sua vez, meio que provam que o amor que eles sentem um pelo outro é maior do que os empecilhos que podem se apresentar no caminho – o que é muito bonito. O encontro que eles compartilham, com uma forcinha de Night e Porjai, é a coisa mais fofa do mundo e, novamente, eu elogio “Last Twilight” por trazer cenas como a daquele projeto comandado por Aon no qual pessoas cegas são convidadas a pintar, usando tintas especiais com diferentes aromas, motivados a escolhê-las e colocá-las no papel de acordo com o que cada tinta desperta neles. É uma sequência inteira que me deixa com um sorriso no rosto, uma sensação boa, e é delicioso ver a maneira apaixonada como Mhok olha para Day, e como o que eles compartilham é especial.

Destaque, também, para o pedido de Mhok para que Day aceite o seu convite para o Natal.

Fico feliz, na verdade, que Mhok esteja conseguindo um novo emprego e vá poder trabalhar como chef em um restaurante, porque nós não o queremos mesmo como um “cuidador” de Day para sempre: afinal de contas, ele é namorado de Day e, se tudo der certo, Day não precisará de um cuidador para sempre… e, quando eu digo isso, eu não me refiro à cirurgia vindoura, mas à independência que Day tem conquistado e, espero, seguirá conquistando. Quase achei que Day não apareceria no restaurante na noite de Natal, e ele de fato quase não aparece, mas “Last Twilight” nos “surpreende” com um telefonema no qual o Mhok faz o mesmo pedido que Day fizera outro dia, sobre como “queria estar ao seu lado”, e Day faz o mesmo convite, o chamando para “ver a lua”.

Podia ser mais perfeito?

O jantar romântico mais que perfeito de Mhok e Day acaba sendo interrompido pela chegada de Night e Ramon, mas não com repreensões dessa vez: mas com a notícia de que o hospital ligou e eles têm um doador para Day. Preciso dizer que, nesse momento, isso me preocupa: se o Day volta a enxergar depois da cirurgia, “Last Twilight” corre o risco de enviar uma mensagem de que “essa é a única maneira de o Day poder ser inteiramente feliz”, o que contradiz a construção da série até aqui, que foi justamente sobre independência e sobre o Day poder viver e ser feliz, porque perder a visão não precisa ser um empecilho para isso. Não vou me prolongar, no entanto, porque sinto que pode nem ser o caso e a cirurgia pode não dar certo, o que levanta ainda outra discussão.

Mas falarei sobre isso na próxima review!

 

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Comentários

  1. Esse episódio foi pura emoção! Minha cena favorita foi, sem dúvida, a reconciliação dos irmãos Dia e Noite, foi emocionante como eu pemsei que seria, e aqui no episodio 10 dá para criar ainda mais empatia pelo Night.

    Acho que a mãe do Day foi especialmente cruel em alguns momentos nesse episódio. O auge da escrotidão foi ela tomar o celular do Day. Ela simplesmente escolheu ignorar o quanto o Mhok faz bem pro filho. O quanto o filho se tornou uma pessoa com mais autonomia, o quanto ele se abriu pro mundo. Ela prefere vê-lo enclausurado, trancafiado no quarto, para sentir que ele está seguro.

    Tô com medo do episódio 11, ja tem dias na verdade que estou ansioso para assistir, mas a verdade é que ainda não encontrei tempo. Fico com o coração na mão pelo Day. Não quero ver nem ele nrm o Mhok sofrendo.

    Amei a review, amigo. Ja trm alguns dias que assisti ao episódio 10, mas lemdo seu texto revivi todos os acontecimentos e emoções do episódio!

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    1. Esperava pela reconciliação de Day e Night desde o começo da série, eu sempre gostei muito do Night, não tem jeito hahaha E talvez seja por ser o Mark o interpretando, não sei.

      Estou bem curioso para saber sua opinião em relação aos 2 últimos episódios, amigo! Spoiler: tem uma participação especial rapidíssima mas bem especial no último episódio (talvez você já tenha visto fotos por aí).

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