Sítio do Picapau Amarelo (1979) – Olhos de Retrós: Parte 1
“O que eu quero é arrancar a mandação da mão de quem
já mandou muito tempo”
Com uma
influência direta de “História das
Invenções”, “Olhos de Retrós” é
a quarta história da temporada de 1979 do “Sítio
do Picapau Amarelo”, e traz a incrível Emília de Reny de Oliveira em uma
missão: SE TORNAR A DONA DO MUNDO. Sempre que trago comentários sobre essa
versão do “Sítio do Picapau Amarelo”,
eu falo sobre como eu AMO essas histórias, essa energia, e como eu poderia
passar horas sentado aos pés de Dona Benta, apenas ouvindo os seus serões. Essa
versão do programa, que fez parte da infância dos meus pais e não da minha,
consegue despertar em mim um sentimento de nostalgia imenso, talvez pela
proximidade que eu sinto dela com os livros – portanto, enquanto assisto, eu me
sinto muito como se estivesse de volta na minha própria infância, lendo o “Sítio do Picapau Amarelo”.
Toda a ideia
de INVENÇÕES é apresentada de duas maneiras diferentes. De um lado, temos a Dona
Benta com os seus serões; de outro, temos a Emília protestando contra o
trabalho braçal para abrir estradas, porque já existem máquinas que podem fazer
esse trabalho e não abusar do trabalhador, como ela diz, cheia de propriedade
do assunto. É divertido ver como a produção consegue trazer uma discussão
pertinente para uma audiência jovem, com direito à Emília revolucionária
propondo uma greve (!), e o sempre safado do Coronel Teodorico ameaçando
atender ao seu pedido e comprar máquinas para fazer esse trabalho, mas mandar
todo mundo embora nesse caso, porque “não vai ter dinheiro para pagar os
empregados” e “nem vai precisar deles”.
Em paralelo,
Dona Benta anuncia a História das Invenções como a próxima leitura, a partir
daquela noite, e o Pedrinho vai questionar ao Visconde para saber se isso é, de
fato, uma aventura como a vovó prometeu… e o Visconde de Sabugosa explica que
não pode haver aventura maior, porque é a curiosidade que leva as pessoas a
inventarem, e foram as invenções que os trouxeram até onde eles estão, em um
diálogo delicioso. Os serões são uma mistura do que lemos em “História das Invenções” e “História do Mundo Para Crianças”, com a
Dona Benta voltando lá atrás para
falar sobre o grãozinho de areia e o surgimento da vida… e eu amo como a Dona
Benta é uma mulher da ciência, e como
ela fala sobre evolução, o que deixa
a Emília curiosíssima.
Ela até se
coloca a procurar por um osso de mamute no quintal do Sítio!
Tudo isso
vai, aos poucos, dando a Emília uma ideia… afinal de contas, a Dona Benta fala
sobre como o homem se tornou “rei do mundo”, e sobre como pode chegar um
momento em que ele “vai passar o cetro”. A conversa sobre evolução é a que mais
interessa à bonequinha, especialmente quando a Dona Benta explica sobre a lei
da sobrevivência do mais apto e fala sobre como o homem é um bicho diferente
dos demais porque ele inventa coisas
(“Sorte pura! Boneca também inventa!”).
Ora, se o homem se tornou rei do mundo “aumentando o poder dos seus olhos, suas
mãos e sua pele inventando coisas”, por que Emília não pode fazer o mesmo e se
tornar Rainha/Dona do Mundo? Ela já tem os seus olhinhos de retrós, que são
muito melhores que olhos normais…
Então, ela
toma uma decisão: ela precisa aumentar todas as suas eficiências (como ela diz:
olhais, pesais, mãozais, narizais e ouvidais), e à sua maneira… seu primeiro
passo é usar os seus olhinhos de retrós para olhar através de um microscópio e
terminar lá dentro, interagindo com micróbios que ela espera que possam lhe
ajudar de alguma maneira – mas ela acaba descobrindo que eles não são tão
inteligentes quanto ela esperava que eles fossem, e isso rende uma cena
divertida, porque Emília acaba frustrada e dizendo que “está cansada de tanta
burrice”, e quando o Visconde consegue trazê-la de volta ao seu tamanho normal,
surge a preocupação de Emília ter trazido alguma
doença com ela… afinal de contas, ela estava entre micróbios.
Assim,
Emília é COLOCADA DE QUARENTENA. Fechada em um quarto e sem poder sair, Emília
deixa a sua ideia de ser Dona do Mundo amadurecer: “O que eu quero é arrancar a mandação da mão de quem já mandou muito
tempo. […] Eu tenho que inventar depressinha um mundo novo para governar”.
Mesmo que esteja trancada, Emília não vai deixar que isso a impeça, porque ela
sabe que pode inventar coisas dali de dentro mesmo… além disso, ela tem a
“ajuda” dos seus besouros, que ela intitula os “levadores de recado da sua
inteligência” de agora em diante, e Emília dá o primeiro passo na “melhoria de
suas eficiências” quando Dona Benta começa os serões daquela noite: ela pode
estar de quarentena, mas ela ainda quer ouvir a história das invenções!
Então, o
Visconde instala um rádio para que Emília possa ouvir e falar com o pessoal na
sala, mas Emília resolve testar a sua “nova habilidade”, a supervoz. Então, Emília
não apenas fala com a Dona Benta sem usar
o microfone fornecido por Visconde, mas também sem abrir a boca! Emília
fala com o pensamento e a Dona Benta escuta perfeitamente, o que deixa o
Visconde chocado, mas, mais do que isso, bravo.
Ele acha que tudo não passa de algum truque de ventriloquismo, e não quer
aceitar que a Emília está realmente fazendo o que ela prometera que faria: aumentando as suas habilidades. Emília
já tinha superolhos com seus olhos de
retrós, e agora ela também tem uma supervoz… ela está um passo mais perto
de se tornar a Dona do Mundo.
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