Sítio do Picapau Amarelo (1979) – Olhos de Retrós: Parte 2

O nascimento de Ignácia.

Emília está determinada a se tornar a nova DONA DO MUNDO. Dona Benta está contando a História das Invenções, e isso faz com que Emília acredite que ela pode roubar o cetro da humanidade, desde que ela tenha habilidades mais aguçadas que os humanos e invente coisas importantes… seus olhinhos de retrós já são um “avanço” em relação aos olhos dos humanos, já que eles enxergam muito mais que olhos convencionais, e agora a bonequinha está testando seus outros sentidos para fazer com que eles também fiquem mais apurados e lhe deem vantagens. Assim, Emília desenvolve uma supervoz, um supernariz e superouvidos, mas o que isso pode lhe custar no fim das contas? E se Emília simplesmente perdesse todos esses poderes e os que já tinha?

Depois de testar sua supervoz conversando com a Dona Benta de um cômodo a outro da casa sem nem abrir a boca (!), Emília resolve usar essa nova habilidade para causar alguma confusão em Tucanos… então, ela escapa de sua quarentena durante a noite (!) para anunciar a todos em Tucanos que é “o novo Rei do Mundo”, causando uma verdadeira confusão – da qual o Coronel Teodorico pretende se aproveitar. Preciso dizer que a cena da Emília mostrando ao Saci “todos os sons que consegue fazer de boca fechada” é um tanto quanto macabra (!), mas é uma cena icônica. E quando os resultados das análises das tranças da Emília retornam da cidade e mostram que ela não está contaminada depois da sua incursão no meio dos micróbios, ela está livre de sua quarentena…

E pronta para mandar no mundo.

Depois do superolho e da supervoz, Emília testa o seu supernariz – que é a parte menos interessante dessa sua jornada, na minha opinião. Para provar o seu suposto supernariz, Emília começa a “brincar” com o cheiro das coisas e, como sempre, ela causa caos e confusão. Primeiro, ela brinca com o cheiro das flores do Sítio do Picapau Amarelo, e acaba tirando o olfato de todo mundo, causando estranheza e confusão… e, quando o devolve, o ar está cheio de um cheiro forte e horrível que Dona Benta associa a enxofre, mas Emília está satisfeitíssima: o seu supernariz mexeu com o nariz de todo mundo, e essa “experiência” prova que ela realmente tem mais uma nova habilidade. Agora, chegou a hora de trabalhar na última delas, os superouvidos.

Testar os superouvidos é fácil, e Emília escuta uma conversa de Pedrinho, Narizinho, Visconde e Tia Nastácia na cozinha, mesmo que ela não esteja lá nem em nenhum lugar por perto… mas essa conversa que ela escuta também a deixa incomodada, porque ela escuta algo que não gostaria de ter ouvido: aquela ideia toda de “fazer outra boneca”. Foi apenas uma sugestão que nem é tão levada a sério pela Narizinho, mas Tia Nastácia está começando a pensar em sua própria experiência, fazendo outra bonequinha de pano para ver se ela termina esperta como a Emília ou se a Emília é mesmo um caso único. Brava, Emília confronta todo mundo e diz que eles não aceitam que ela seja superior a eles mesmo sendo feita apenas de pano velho, retrós e macela.

Mas Emília tinha razão em ficar preocupada com essa história toda de “fazer uma nova boneca”, porque Tia Nastácia leva a ideia adiante… e enquanto Emília está no meio de uma discussão com o Coronel Teodorico, dizendo que “ele não tem autoridade para falar em nome do Rei do Mundo”, ela começa a gaguejar e soluçar, e então ela fica estática. Não é bem um desmaio, é como se Emília estivesse perdendo a vida, perdendo seus poderes. Qual o motivo, no entanto? Será porque Tia Nastácia acabou de fazer uma nova boneca de pano? Ou será porque, como o Visconde de Sabugosa acredita, Emília abusou demais dos seus superpoderes e é como se tivesse “queimado um fusível”? De todo modo, alguma coisa aconteceu… e, agora, Emília é só uma boneca de pano.

 

“É como se aquela Emília não existisse mais. Agora, em seu lugar, está uma cópia de pano, com a mesma cara”

 

Existem similaridades notáveis entre “Olhos de Retrós” e “A Morte do Visconde”, uma das melhores histórias de 1978, como a aparente “morte” de um personagem querido e o surgimento de um “substituto”. Com Emília sem vida, todo mundo começa a dar ideias de como eles podem fazê-la voltar a falar, e o Saci pensa em dar à bonequinha sementes de urucum, já que é o que papagaio come na natureza, e papagaio fala. Uma confusão, no entanto, faz com que as sementes de urucum, que realmente funcionam (!), sejam dadas não à Emília, mas à nova boneca de pano, retrós e macela… a boneca que eventualmente seria chamada de Ignácia. Ignácia é diferente de Emília e com uma aparente “bondade extrema” que é um pouquinho assustadora.

Ela está determinada demais a fazer com que todos gostem dela.

Durante a noite, enquanto Narizinho está ferrada no sono, Ignácia flagra Emília se mexendo e descobre que ela estava fingindo… ela não está tão sem vida quanto finge estar, mas realmente não pode mais falar, e Ignácia vai se aproveitar disso, conforme vai conquistando o coração de todo mundo. E o pessoal é um pouco ingrato com a Emília fazendo comparações entre as bonecas (!), como a Tia Nastácia toda encantada por Ignácia, falando sobre como ela é educada e tudo o mais… inclusive, ganhamos uma cena muito emblemática da Ignácia com o Tio Barnabé, quando ele a leva para a mata para falar com o Saci e fala sobre tudo o que a mata esconde além do que está aparente e fala sobre as coisas que as pessoas não veem, e compara a mata às pessoas…

O Tio Barnabé fala sobre tudo o que pode se esconder atrás de um sorriso, por exemplo: tristeza, por exemplo… às vezes até maldade. É a maneira do roteiro nos alertar para termos cuidado com esse sorriso fácil de Ignácia e sua vontade de agradar todo mundo. Ela está tão determinada a ter amigos e a manter Emília fora dali que ela coloca suas garrinhas de fora quando o Visconde tem uma ideia que deixa a Narizinho empolgadíssima: se a Emília não estiver tão sem vida quanto eles pensam, talvez eles ainda possam escutar os seus pensamentos, com o Psicocaptor que foi inventado por ele há muito tempo, e então eles vão poder conversar com ela através do que ela pensa. Ao ficar sabendo sobre o psicocaptor, Ignácia não fica nada contente… e resolve fazer algo.

Então, totalmente dissimulada, Ignácia parte para o laboratório do Visconde para conversar com ele, mostrando curiosidade no que ele está fazendo, mas é apenas uma desculpa para ela fingir que quer ajudá-lo e, então, deliberadamente “derrubar” o psicocaptor no chão, o quebrar e o inutilizar. A malvada bonequinha esconde suas ações por trás de aparente bondade e preocupação (“Visconde, me desculpe. Será que eu quebrei?”), e isso vai convencendo as pessoas, enquanto ela consegue manter a Emília “incomunicável” por mais tempo. Felizmente, o Visconde consegue consertar o psicocaptor até que bem rapidamente… infelizmente, no entanto, alguém invade o seu laboratório durante a noite e rouba o aparelho. E, dessa vez, pode não ter sido Ignácia.

De todo modo, como a Emília vai voltar ao normal?!

 

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