Vencer o Medo – O relacionamento de Marcela e Rommel
A história se repete?
Marcela
acaba de cair em uma enrascada… a trama de “Vencer
o Medo” é muito curiosa e muito competente
ao representar algumas situações da vida real, como o relacionamento abusivo:
que pode ser tão evidente para quem está vendo do lado de fora, mas que às
vezes não é percebido pela vítima, e é o caso de Marcela: ela consegue ver
claramente o relacionamento abusivo no qual a mãe está, e é muito forte e
decidida nessa relação, mas não parece perceber que está entrando em um relacionamento exatamente igual. Cheio de
mentiras e teatros, Rommel seduz
Marcela, até conseguir transar com ela (se recusando a usar camisinha, mesmo
que ela as tenha trazido, então sabemos que haverá
consequências) e a convencer a ir morar com ele… e, então, a máscara começa
a cair.
Desde o
começo, Rommel dá sinais de como é de verdade, mas Marcela falha em
reconhecê-los. A começar pelo fato de ele se recusar a usar camisinha; depois,
quando ele chega em casa dizendo que está com fome e colocando Marcela para
cozinhar para ele, como o Vicente sempre fez com Inês; e no seu discurso que
tenta convencê-la de que ele é a única pessoa de quem ela precisa na vida. É o
nascimento de um perigoso relacionamento abusivo, e dali em diante as coisas só
tendem a piorar… e um dos grandes motores que impulsionam uma crescente
decepção de Marcela com Rommel vem das consequências do sexo desprotegido que eles
fizeram. Quando passa mal e sua menstruação não desce, Marcela pensa que ela pode estar grávida, por exemplo.
Curiosamente,
em paralelo, acompanhamos Areli ajudando uma amiga que aparece chorando na sua
casa, também achando que está grávida, e quando a amiga confessa que não usou camisinha, Areli pergunta se
“ela não leu todos os folhetos que ela tinha lhe dado”. Ironicamente, Areli é
mais consciente do que Marcela, não? Quando Lorenzo, o pai de Areli, encontra o
teste de gravidez e presume que a filha adolescente está grávida, ele vem para
cima dela cheio de gritos e broncas, e eu adoro o fato de a Areli não ser uma
menina bobinha, e ela o enfrenta também – até porque ele se tornou um péssimo
pai desde que a mãe morreu e ele começou a se relacionar com outra mulher.
Areli nem desmente a história, e pergunta se
ele vai expulsá-la de casa como Vicente expulsou suas tias…
Esse é uma
das cartadas mais certeiras de Areli,
certamente. Lorenzo despreza Vicente
com todas as suas forças, e Areli o faz enfrentar a realidade de que se comporta como ele. Desesperada, Areli
liga para Maru, a tia em quem pode confiar, e é uma cena grandiosa quando Maru
chega para apoiá-la, dizer que vai levá-la a um ginecologista, e ele vai
definir se é melhor manter a gravidez ou não (com o Lorenzo subindo pra vinte e
berrando que “Areli não vai abortar”, o que só evidencia a hipocrisia e a
burrice do “cidadão de bem”). É nesse momento que Areli, abraçada à tia, conta
que não está grávida, que nem teve relações sexuais com o Yahir, mas, se
tivesse tido, ela tinha se informado bem a respeito de sexo seguro antes. Areli
foi grande nessa sequência toda.
Marcela, por
sua vez, tem que enfrentar as coisas mais
absurdas em seu relacionamento abusivo. Além de Rommel não dar nenhum tipo
de força e não ficar para fazer o teste com ela, ele ainda acusa Marcela de
“não ter se cuidado”, e assim que o teste dá
negativo, Rommel muda totalmente a sua narrativa e o seu teatro, bancando o
“bonzinho” e dizendo que “seria bom se ela estivesse grávida” ou qualquer coisa
assim. É justamente o tipo de mentira e manipulação que, infelizmente, engana
Marcela: o tipo violento que depois pede desculpas, faz promessas e banca o
apaixonado. E se Marcela não terminou grávida, a consequência pelo sexo
desprotegido acaba sendo uma infecção sexualmente transmissível – que ele ainda
a acusa de ter passado para ele.
É absurdo e
revoltante ver o Rommel acusando Marcela de o ter traído e o ter infectado, e
depois de uma série de violências, Rommel passa para a violência física
explícita quando, furioso, segura Marcela pelo pescoço. O mais assustador é ver
Marcela apavorada, mas logo depois caindo de novo no conto dele, quando ele
vem depois bancando o arrependido e o apaixonado, com a voz mudada, um pedido
de desculpas, alguns presentes e algumas promessas… ficamos angustiados, mas é justamente o que “Vencer o Medo” quer: a novela quer denunciar esses comportamentos, e quer
mostrar como a pessoa presa em um relacionamento abusivo nem sempre consegue enxergar de verdade o que está
acontecendo… é triste que o “pedido de desculpas” funcione…
…e isso
perpetua essas situações.
Eventualmente,
Marcela consegue enxergar o que está acontecendo. São muitos sinais que ela
estava “ignorando”, e muitos conselhos de pessoas de fora que conseguiam
enxergar mais que elas, mas a gota d’água é quando Marcela vê Rommel com outra
mulher em uma festa, e finalmente se levanta corajosa contra ele, o chamando de
mentiroso e de manipulador, mandando ele parar de tentar encostar nela e parar
de falar, porque não acredita em mais nada do que ele tem a dizer. Rommel se
torna cada vez mais assustador,
protagonizando cenas fortíssimas, e ele chega a tirar o celular de Marcela e a
trancá-la em casa para que ela não possa ir embora e/ou pedir ajuda… começamos
a esperar ansiosamente pelo momento em que Rommel
vai acabar preso.
Precisamos
disso!
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