Desejos S.A. 1x02 – O Testamento
Protagonizado
por Gilda Nomacce, “O Testamento” é
o segundo episódio de “Desejos S.A.”
e traz a história de Lucimar Andrade, uma mulher que trabalha há 25 anos na
casa de um antigo coronel do exército e cuja vida infeliz se resume a cuidar de
todos os caprichos absurdos de um homem insuportável. Achei muito interessante
como esse segundo episódio já começa com
o pedido de Lucimar à Desejos S.A., e ela é muito direta: ela quer que o seu patrão morra. Isso
gera uma pequena camada a mais de
suspense conforme nos perguntamos por
que ela deseja tanto essa morte, e então o episódio retorna 8 dias no
tempo, para nos mostrar um pouquinho da vida de Lucimar, e os motivos pelos
quais ela poderia querer a morte do patrão – e motivos não lhe faltam.
Esse segundo
episódio de “Desejos S.A.”, com um
roteiro simples e bem conduzido, consegue nos transmitir as emoções necessárias
para que nos coloquemos no lugar de Lucimar… é perfeitamente angustiante ouvir
aquele alarme tocando toda vez que o patrão está chamando Lucimar para fazer
qualquer coisa idiota, como arrumar uma medalha que supostamente não está centralizada
na prateleira ou limpar as garrafas de vinho da adega na qual ninguém nunca
mexe. Toda a realidade de Lucimar é sufocante e desesperadora, e é incrível
como Gilda Nomacce simplesmente tira
qualquer vida da personagem – ela fala sem emoção, sem vida, como se fosse
uma casca vazia, o que de fato ela meio
que se tornou… e temos um diálogo que mostra isso muito bem…
O diálogo sobre sonhos.
Aquele é um
momento curiosíssimo para a construção do episódio, por sinal. O coronel faz
Lucimar falar sobre seu sonho – viajar para Miami –, apenas para rir dele
depois, e quando ele diz que ela só vai poder fazer isso quando ele morrer, de
repente o episódio ganha uma nova camada… Lucimar pode querer a morte do patrão
não apenas para se livrar daquela vida entediante e enervante, mas também para
ter dinheiro para ir para Miami, finalmente? Depois que Lucimar faz
oficialmente o seu pedido, ela fica esperando a morte do coronel acontecer, e é
interessante quando ela sai para deixá-lo na praça e vemos o seu caminho cruzar
com o de outros personagens… como com o do personagem de Silvero Pereira,
novamente falando sobre como “o desejo é uma armadilha”.
Curioso por
isso!
O episódio
traz uma série de momentos incrivelmente bem desenvolvidos de diferentes
maneiras! É muito curiosa a cena na qual, depois de o patrão ser internado,
Lucimar se transforma agindo como dona da casa, tomando o vinho querido do
coronel depois de batê-lo com leite condensado e coisas do tipo, até ela
receber um telefonema dizendo que ele está um pouco melhor e que quer ir para
casa – e, então, a vida dela fica ainda
pior, porque ela tem que cuidar do coronel moribundo. Quando a Desejos S.A.
liga pedindo que ela cumpra a sua parte no acordo, ela reclama que seu desejo ainda não se cumpriu, e ela
descobre que tem que fazer algo antes, e ganhamos uma breve interação de
Lucimar com o personagem do Marcos Pasquim em uma festa…
Vamos explorar isso em outro episódio. Estou
bem curioso para ver as peças se encaixarem!
Quero rever essa cena sob outro ponto de vista.
E, então, o
desejo de Lucimar Andrade se realiza – e caminhamos, assim como no primeiro
episódio, para uma conclusão perversamente irônica. Acho que é nessas
“brincadeiras” de conclusão que séries antológicas como “Black Mirror” e “The
Twilight Zone” se realizam, porque é o momento em que se precisa fechar a
história com algo impactante, e “Desejos
S.A.” se saiu muito bem nesses dois primeiros episódios… não é realmente
chocante, mas há um deboche escancarado: Lucimar descobre que a tal
“recompensa” que o coronel tanto prometia para ela era o seu vinho mais caro da adega… um vinho que vale 20 mil reais, mas
eu acho que ela esperava algo mais
que isso; e, de toda maneira, esse vinho é o que ela já abriu e tomou com leite
condensado.
Pode ser
mais perversamente irônico?
A “risada”
de Lucimar resume tudo muito bem!
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