Grandes Hits (The Greatest Hits, 2024)

“Encontrar a canção certa pode mudar seu passado… encontrar a pessoa certa pode mudar seu futuro”

Quando a ideia de que “músicas podem te levar de volta no tempo” é levada ao pé da letra… “Grandes Hits”, lançado no último dia 12 de abril na Star+, é um romance bonito e emocionante com toques de drama e, quiçá, de ficção científica, graças à viagem no tempo. A premissa me remete vagamente a “Efeito Borboleta” (um dos meus filmes favoritos na vida), e embora a abordagem seja diferente, quando Harriet conheceu Max naquele festival, minha experiência com “Efeito Borboleta” me fez ter certeza de como o filme terminaria – e, bem, eu não estava errado. Eu gostei DEMAIS de “Grandes Hits”: acho que o filme tem uma ideia muito legal, brinca bem com os elementos que coloca em cena, e também entrega um romance gostoso de se assistir…

Há 2 anos, Harriet perdeu o namorado em um acidente de carro. Desde então, algumas músicas têm o poder de levá-la de volta no tempo para a primeira vez em que eles a ouviram juntos, e ela espera poder mudar a história e salvar a vida de Max. No tempo que se passou desde a morte de Max, Harriet aprendeu a conviver com a sua “condição”: ela selou o apartamento acusticamente, conseguiu um emprego em uma biblioteca e vive com fones de ouvido tocando músicas que ela sabe que não a levarão para nenhum lugar… agora, ela só viaja no tempo quando escolhe. Ela sabe a música que a leva para o momento do acidente, por exemplo, mas ela não consegue convencer Max a fazer uma curva para outro lado porque sabe o que vai acontecer…

Por isso, Harriet está buscando uma música em específico – uma música que eles ouviram no dia do acidente, mas antes de entrarem no carro: essa é a chave para mudar a história e salvar a sua vida… ao menos é o que ela acredita. Ao mesmo tempo em que Harriet “aprendeu a viver com a sua condição”, no entanto, ela está realmente vivendo? Dois anos depois da morte de Max, Harriet segue literalmente presa ao passado, e nada parece capaz de fazer com que ela siga em frente… pelo menos até que ela conhece, inesperadamente, David – um homem que aparece na reunião de apoio a pessoas passando por um luto, com quem ela tem uma interação bacana e que pode representar o futuro de Harriet. Se Max é o passado, talvez David seja o futuro.

“Grandes Hits” é, em grande parte, a respeito da perda, de superar o luto e de seguir em frente… se você sabe pouco sobre o filme, pode ser uma quebra de expectativa o fato de ele não ser, realmente, sobre o romance de Harriet e Max no fim das contas, mas sobre como Harriet precisa encontrar uma maneira de continuar vivendo, e como isso se torna possível no momento em que ela conhece David. Cada interação de Harriet e David me parece mágica: eles são dois personagens imperfeitos, com seus próprios problemas a resolver, mas que se entendem, que se dão bem e que compartilham experiências bacanas… amei a questão toda da “guarda compartilhada” de um disco, por exemplo, ou o beijo que David dá em Harriet antes de ela ir embora em um Uber.

David é apaixonante… tão apaixonante que ele deixa Harriet confusa. Depois de dois anos tentando salvar a vida de Max e se frustrando vez após a outra, Harriet vislumbra pela primeira vez um futuro e a oportunidade de se apaixonar novamente, e é quase possível perceber esse paradoxo se contorcendo dentro dela: ela ama Max e gostaria de tê-lo novamente em sua vida; mas, se ele está morto e ela não puder salvá-lo, David é a pessoa especial por quem ela estava esperando para seguir em frente. Naturalmente, as coisas não são simples… Harriet ainda viaja no tempo quando escuta algumas músicas, desmaia sem explicação no meio de um encontro, por exemplo, e David não parece muito inclinado a acreditar em Harriet quando ela diz que “as músicas a levam de volta no tempo”.

Pelo menos até que ela prove a ele.

Essa é uma das minhas cenas favoritas do filme… e, possivelmente, uma das cenas mais importantes, também. Harriet finalmente encontra o disco pelo qual estava procurando nos últimos dois anos, e ele está no quarto de David, porque a loja em que Harriet e Max estiveram para comprar uma cadeira no dia do acidente era a loja dos pais de David. Então, ela tem tanto a chance de voltar no tempo e tentar salvar a vida de Max quanto de provar a David que está dizendo a verdade: essa antepenúltima viagem no tempo de Harriet é maravilhosa, o momento em que os mundos parecem colidirem. Harriet tenta fazer Max mudar de ideia e não levar a cadeira, mas não consegue, e ela vê um David muito mais leve e mais feliz se despedir dos pais antes de sair da loja…

Então, ela deixa um recado para ele encontrar dois anos depois.

A emoção dessa cena é palpável! O pedido de David, com os olhos emocionados e cheios de lágrimas, para que Harriet “o leve com ele para ver os pais uma última vez” é de partir o coração, mas ela não pode fazer isso… ela não consegue levar ninguém com ela. Mas a viagem é importante para Harriet, que percebe que não importa o que ela faça: ela não pode fazer o Max mudar de ideia. A única coisa que talvez ela possa fazer é retornar ao festival no qual ela o conheceu e, quando ele estender a mão a chamando para ir com ele, não ir… dessa maneira, toda a história que eles viveram juntos não terá existido. Mas, mesmo sem ela, ele seguirá vivendo… é uma decisão difícil, mas necessária. O que não quer dizer que não doa de fato fazer isso.

Sabendo o que vai fazer, e sabendo que isso significará que ela também vai perder o David (afinal de contas, eles se conheceram porque ela estava naquela reunião de apoio, e ela não estará lá sem a morte de Max), ela se despede de David em uma sequência lindíssima na qual eles vivem algumas coisas especiais e intensas – e se perguntam se aquilo ali é real ou não. Independente do que venha a acontecer, no entanto, aquele momento em que eles ainda estão juntos é real, eles estão vivendo aquilo… e eles esperam que, de alguma maneira, uma parte deles se lembre do outro. A promessa de que “eles vão procurar um ao outro” depois que tudo mudar é uma das coisas mais lindas do mundo… e, então, Harriet volta ao festival, deixa Max ir e muda toda sua história.

Eu AMEI o filme. Acho que ele aborda o luto de uma maneira criativa, e é sensível o suficiente ao mostrar Harriet seguindo em frente, apresentando um romance bonito de duas pessoas que precisavam do apoio uma da outra, e se fizeram bem quando mais precisavam… e que terão a chance de recomeçar, eventualmente. Gosto da ideia de Harriet e David se reencontrando no fim do filme, e embora eu tivesse adorado ver mais, a última cena é tudo de que precisávamos: temos Harriet e David no show do disco cuja guarda eles compartilharam na “outra” realidade, como se eles estivessem destinados a se encontrar, de uma maneira ou de outra… e os flashes rápidos nos mostram que, embora não sejam memórias de fato, uma parte de Harriet se lembra de David…

E vice-versa.

Lindo.

 

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