Hairspray (Brasil, 2010)
“Não vamos parar!”
Janeiro de
2010. Teatro Oi Casa Grande. Rio de Janeiro. Há mais de 14 anos, um Jefferson
que tinha acabado de completar 17 anos estava entrando num teatro para assistir
a um musical ao vivo pela primeira vez,
em uma época em que eu ainda nem escrevia para um blog na internet. E agora que
“Hairspray” está prestes a ganhar uma
nova adaptação para os palcos brasileiros (e eu estarei lá novamente para
conferir!), eu quis retornar no tempo
para poder comentar esse musical cuja versão brasileira de 2009/2010 ficou até
hoje sem nenhum texto no Parada Temporal.
“Hairspray” é, e sempre será, imensamente especial para mim, por tudo o que
ele representa, pela conexão que tenho com ele, pelas boas e nostálgicas
memórias que eu tenho com ele…
Toda vez que
eu vejo um vídeo dessa versão do musical eu
me emociono. Músicas como “Bom Dia,
Baltimore”, “Sem Amor” e “Não Vamos Parar” me arrepiam e/ou me
trazem lágrimas aos olhos e uma sensação deliciosa. “Hairspray” é UM MUSICAL CHEIO DE VIDA. Daquele tipo de produção
que nos deixa sorrindo de orelha a orelha, com o coração disparado, e uma
vontade tremenda de cantar e dançar – e pouca vontade de se levantar e deixar o
teatro. É uma experiência contagiante, animada, que faz bem! O musical, baseado
em um filme homônimo de 1988, estreou na Broadway em agosto de 2002, onde ficou
em cartaz até janeiro de 2009, com pouco mais de 2.600 apresentações, tendo
ganhado oito Tony Awards, dentre eles o de Melhor Musical.
A história
de “Hairspray” é ambientada em 1962,
e Tracy Turnblad é uma adolescente de Baltimore que sonha em se apresentar no
Corny Collins Show, um famoso programa de TV de dança para jovens, mas a mãe se
recusa a deixar que ela faça as audições para o programa quando uma vaga abre,
porque ela sabe que “garotas como a Tracy só são colocadas na TV para serem
zombadas” – e realmente é o que ela sofre com as Von Tussle inicialmente, que a
acham “gorda demais para dançar no programa”, mas Tracy acaba chamando a
atenção do próprio Corny Collins (e, quiçá, de Link Larkin) em um baile na
escola, com movimentos de dança que aprendera com seu amigo Seaweed, na
detenção, e então ela se torna a nova
estrela do Corny Collins Show.
E o sucesso
é imediato!
Gosto do tom
leve, mas com temas importantes, do musical. E de como ele se entrega ao
exagero e ao deboche, se tornando uma comédia divertidíssima que também encontra
como falar sobre o preconceito! Tracy Turnblad, uma estrela em ascensão que
está tendo seu penteado cada vez mais alto e mais loiro copiado pela cidade
toda, não acha justo que ela não possa dançar com o seu amigo Seaweed, pois sem
sua ajuda nem estaria na TV, só
porque ele é negro. Com a segregação pesada da década de 1960 nos Estados
Unidos, dançarinos negros tinham apenas
um dia por mês para se apresentar no Corny Collins Show, e Tracy resolve
ajudar em uma luta liderada por Motormouth Maybelle, a mãe de Seaweed, que
protagoniza uma das cenas mais emocionantes
do musical.
“Eu Sei de Onde Eu Vim”
Também temos
uma variedade de outros personagens maravilhosos em “Hairspray”, como o próprio Link Larkin, que é rapaz bonitão do
Corny Collins Show, por quem todas as garotas são apaixonadas e que está
esperando “sua grande chance”, e ele e Tracy vivem um romance que parece
“improvável”, inicialmente, e começa com um simples esbarrão na estação de TV
quando Tracy vai à sua desastrosa audição… também temos Amber Von Tussle, a
filha mimada da preconceituosa Velma, produtora do Corny Collins Show, e
namorada de Link Larkin, e Penny Pingleton, a melhor amiga meio destrambelhada de Tracy, que protagoniza
vários momentos divertidos e tem a sua própria história de amor com Seaweed,
que ela só conhece graças à Tracy…
Musicalmente,
“Hairspray” também é um espetáculo!
Não há uma única música que eu não AME no musical inteiro – elas podem ser
hilárias, divertidas, emocionantes, tristes, românticas… mas todas incríveis à
sua maneira! “Bom Dia, Baltimore” tem
todo o carisma necessário a uma música de abertura de musical, e é maravilhoso
conhecer a Tracy, seus sonhos, sua determinação. “Os Brotos do Momento” é uma excelente apresentação do Corny
Collins Show! “Mamãe, Acorda, Eu Já
Cresci!” é uma das minhas músicas favoritas do musical, com a Tracy, a
Amber e a Penny “brigando” com suas respectivas mães. “Eu Escuto Sinos” é o hino do adolescente apaixonado e emocionado. “Dois é Melhor” é o momento em que todos nos apaixonamos por Link…
Naturalmente,
eu tenho músicas e/ou números musicais favoritos… eu acho que “Bem-Vinda aos Anos 60!” é um lindíssimo
evento cor-de-rosa que nos faz incrivelmente bem e nos dá vontade de levantar
da poltrona e sair dançando pelo teatro e pela vida, por exemplo! “Eu Sei De Onde Eu Vim” é profundamente
emocionante, triste e real, com Maybelle falando sobre todas as lutas que todos
eles já enfrentaram, ainda vão enfrentar e não vão desistir porque eles sabem
de onde vieram e sabem para onde estão indo. E a minha favorita desde sempre e
para sempre em “Hairspray”: “Sem Amor”. Eu AMO essa música e toda
essa cena (o Link se declarando para a Tracy e a ajudando a fugir da prisão, o
Seaweed soltando a Penny) de todo o coração!
O elenco
brasileiro de 2009/2010 foi liderado por Simone Gutierrez no papel de Tracy
Turnblad e Edson Celulari no icônico papel de Edna Turnblad. No elenco
principal, tínhamos Jonatas Faro como Link Larkin, mas eu assisti em uma sessão
na qual o personagem era interpretado por Rodrigo Negrini, e foi nesse momento
em que eu me apaixonei por ele (sigo até hoje). Danielle Winits e Arlete Salles
interpretavam Amber e Velma Von Tussle, respectivamente (com Velma sendo uma
espécie de Copélia, naturalmente). O elenco também contava com Jennifer
Nascimento MARAVILHOSA como a Pequena Inez e Karin Hills sempre incrível. A
direção musical dessa versão de “Hairspray”
ficou para Felipe Senna, enquanto Miguel Falabella ficou responsável pela
direção cênica.
Por fim, é
necessário falar sobre a icônica sequência final de “Hairspray”, ao som de “Não
Vamos Parar”. Eu gosto de como toda a ação final do musical (metade do
segundo ato) se desenrola no dia da votação para Miss Hairspray 1962 no Corny
Collins Show, com todas as suas reviravoltas maravilhosas, como a Tracy e o
Link entrando pela porta da frente,
arrasando na dança, fazendo o maior sucesso, ganhando o perdão do governador e
anunciando que o programa será, daquele dia em diante, oficialmente integrado,
ou a Edna saindo de dentro de um tubo de laquê gigante porque “agora é a sua
vez” ou Maybelle e Seaweed fantasiados de seguranças para garantir que o plano
funcionasse, e a Penny tendo uma “transformação” e dizendo à mãe que “é uma
mulher bonita”.
A sequência
toda é maravilhosa.
Mais do que
isso… ela é CONTAGIANTE!
Acho que
essa é a sensação que perdura ao fim de “Hairspray”:
essa sensação de alegria, essa vontade de sorrir, de chorar, de cantar, de
dançar! A energia de “Não Vamos Parar”
é arrebatadora – e mais ainda no teatro, ao vivo. Tudo é grandioso demais:
temos o elenco inteiro, formado por
aproximadamente 30 pessoas, no palco, um visual incrível e bem colorido, uma
música empolgante, feliz, pra cima, uma letra irreverente, uma coreografia
icônica e meio absurda que se torna divertida… é realmente o grand finale que “Hairspray”
precisava, e não tem como não amar! Foi uma experiência incrível em minha vida,
que eu vou carregar comigo para sempre. E eu mal posso esperar para ter um
pouquinho dessa sensação de volta com a nova versão de “Hairspray” para os palcos brasileiros nesse ano!
“E quem tentar me segurar, eu juro, vai se arrepender!
Não vamos parar!”
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