Música (2024)
“Atormentado” pela música!
Com uma
história apaixonante e divertida e uma direção criativa e ousada, “Música” é UM ESPETÁCULO. Protagonizado
por descendentes de brasileiros (dentro e fora das telas), o filme tem um
pouquinho do que “In the Heights”
trouxera, mas dessa vez com brasileiros e ambientando o filme em Newark, Nova
Jersey, onde Rudy Mancuso tenta pensar no seu futuro, no que é bom e no que
gosta de fazer, enquanto lida com o término de um relacionamento que durou os
últimos quatro anos, uma mãe que o pressiona para que ele encontre uma namorada
brasileira, e o fato de que ele vê música
em todo lugar, como fruto de sua sinestesia – que, inclusive, é retratada
de maneira inteligente durante “Música”,
para que sintamos o que Rudy sente.
O filme é
dirigido e protagonizado pelo próprio Rudy Mancuso, que também escreveu o
roteiro com a colaboração de Dan Lagana – e é uma história mais ou menos real. Gosto muito de como é praticamente impossível definir um gênero para o
filme (e precisa?), que não pode ser realmente chamado de “biográfico”, de
“comédia romântica” ou de “musical”, embora flerte com elementos de todos os
três e, como resultado, gere uma obra bastante artística e fascinante, que
brinca com diferentes técnicas para contar a história que se propôs a contar da melhor maneira possível. Termino o
filme com uma sensação boa difícil de explicar, e com a certeza de que o filme
me fez sentir coisas! Acho uma obra
aparentemente despretensiosa e surpreendentemente riquíssima.
“Música” traz Diego, o fantoche com o
qual Rudy faz suas apresentações criativas e inesperadas no metrô
(apresentações essas que ele sonha em transformar em algo mais), como um personagem do filme, e ele e Rudy entregam
alguns dos meus diálogos favoritos,
com um destaque especial para o momento em que eles estão pensando juntos em
como podem responder a uma mensagem de Haley. É, possivelmente, a melhor
maneira de trazer para a tela os conflitos internos de Rudy e suas conversas
consigo mesmo, além de serem um prato cheio para a comédia, que o filme
felizmente abraça despreocupadamente, rendendo boas risadas em diversos
momentos – até mesmo no momento em que Rudy conhece Isabella e é atingido por um peixe na cara.
Como
romance, o filme brinca com as imperfeições de uma relação cheia de problemas,
já que Rudy acabou de sair de um relacionamento, que acaba não tendo sido
finalizado como deveria, e isso gera conflitos mais ou menos típicos de uma
comédia romântica – o contraste entre Haley e Isabella é claro, especialmente
porque Haley pressiona Rudy Mancuso a ser alguém
que ele não é e, pior, não quer ser,
enquanto Isabella tenta enxergá-lo de verdade, e lhe dá forças para se dedicar
ao seu sonho com os fantoches e, quem sabe, “elevar o nível” de sua
apresentação, já que é isso o que ele quer fazer da vida… talvez ela o entenda
um pouco melhor por também ter vindo de uma família brasileira, mas acho que
qualquer pessoa mais compreensiva que
a Haley já entenderia o Rudy.
Ter um background brasileiro em “Música” me agrada demais. Tem um
pouquinho de exagero em alguns estereótipos (minha mãe, por exemplo, jamais
ligaria para mim contando que fez “feijoada”, porque não é um prato que comamos
aqui em casa, mas tudo bem), mas eu abri um sorriso sincero com “Canta, Canta, Minha Gente”, do Martinho
da Vila, tocando na trilha sonora, por exemplo, e o fato de o Rudy Mancuso ter,
de fato, essas raízes brasileiras ajuda demais na composição do filme que,
inclusive, é parcialmente em português. O constante e irregular code-switching entre o português e o
inglês é algo que me fascina e, na
minha opinião, enriquece demais a experiência – adoro ver o Rudy transitando
com destreza entre as duas línguas, dependendo de com quem fala.
A música,
naturalmente, também é um dos grandes destaques do filme, porque faz parte de
como Rudy vê e ouve o mundo – “Desde que me conheço por gente, os sons
normais do dia a dia, eu transformo em ritmo”. Tudo é música para Rudy, que
consegue ver notas musicais e ouvir
melodias onde outras pessoas não estão ouvindo, como fruto de sua sinestesia,
que é uma condição neurológica que faz com que o cérebro perceba de maneira
diferente os sentidos. Duas cenas do filme são as minhas favoritas nesse
sentido: primeiro, a cena do parque em que Rudy explica o que ouve para Isabella
e tenta fazer com que ela também escute; e a segunda quando ele aparece na
peixaria para pedir desculpas com o seu teclado, e toca para ela o que é a sua melodia…
O que ele escuta ao vê-la.
Lindo
demais!
Também
preciso elogiar a maneira perspicaz como o filme brinca com técnicas e, é
claro, a sua montagem perfeita e inusitada. A minha sequência favorita é,
provavelmente, aquela em que o tempo vai passando e Rudy vai de uma situação a
outra como se estivesse caminhando dentro de um grande galpão, transitando de
um cenário a outro, trocando o figurino e interpretando seus “papeis”. Aquilo é
simplesmente GENIAL! Também gosto do quê esquético, bizarro e com toques de terror como a família de Haley é
retratada naquele jantar que escancara o preconceito deles. Ou toda a sequência
dos “dois encontros” no restaurante, tanto pela conversa através da música com o tecladista (!), ou a discussão
propositalmente confusa misturando português e inglês no final.
Toda a
sequência final do filme é uma grande surpresa deliciosa. Depois de tudo ter
dado profundamente errado com Isabella, e por culpa de Rudy, ele tem um
necessário e bem aproveitado tempo de amadurecimento,
no qual ele se dedica a conhecer-se melhor e a investir no que realmente ama,
que é o seu show de fantoches, que vai se tornando cada vez maior, contando a sua própria história – e é brilhante ver essa “releitura” de
momentos do filme, que nos faz ver quantos
bons momentos tivemos. Aquela recriação de cenas com os fantoches, o Diego
cantando e o Rudy realizado evidenciaram e coroaram, para mim, o grande filme que “Música” é… e ainda temos um aceno final absolutamente fofo para o
possível futuro de Rudy e Isabella.
Amei. Do
início ao fim. Que filme!!!
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