Doctor Who (2024) 1x03 – Boom

“We all melt away in the end. But something stays. Maybe the best part”

Antes de qualquer outra coisa: STEVEN MOFFAT! Eu já falei repetidas vezes que o Moffat é o meu roteirista favorito de “Doctor Who”, e embora esse não esteja no topo da minha lista de episódios do Moffat nem nada assim, é um episódio fascinante que mostra a sagacidade de seu roteiro: a capacidade de entregar algo intenso, emotivo, perigoso e cheio de críticas sociais inteligentíssimas! QUE EPISÓDIO MARAVILHOSO! “Boom”, o terceiro episódio da nova temporada de “Doctor Who”, foi lançado no último dia 17 de maio, e deve ser uma espécie de baque para aqueles que estão começando a se aventurar nas possibilidades da série agora… afinal de contas, é um episódio muito mais sério e mais tenso do que estávamos tendo até agora…

E eu sinto que precisávamos ver o Doctor do Ncuti em uma história assim.

Estamos em Kastarion 3, um planeta em guerra, com um exército religioso liderado por uma fé cega e facilmente manipulado pelo Algoritmo de Villengard, o maior produtor bélico do universo. É nesse cenário que presenciamos a morte de John Francis Vater porque o prazo de 4 semanas para a cura da sua cegueira é considerado “inadmissível”, e é com os gritos de John que o Doctor sai da TARDIS porque ele não consegue se conter ao ouvir alguém pedindo ajuda… em sua corrida por um campo minado, o Doctor acaba se tornando o próximo alvo. Em um episódio que faz uma crítica ferrenha e inteligente ao capitalismo, às guerras e a religião que cega, Steven Moffat entrega, também, muito suspense e apreensão, enquanto torcemos pelo Doctor.

Gosto muito de como o episódio consegue construir esse clima que nos deixa nervosos… ainda que meio que saibamos que não vai acontecer nada com o Doctor (quer dizer, sabíamos que ele não ia regenerar ainda e tudo o mais), sentimos todo o nervoso ao seu lado – também acho que é a primeira vez que Ruby enfrenta uma experiência de quase morte tão intensamente, e o roteiro está nas mãos do Moffat… nós sabemos que isso pode ser perigoso para uma companion. A dinâmica de Ruby e do Doctor e o roteiro do Moffat são tão bons que eles sustentam um episódio inteiro com praticamente nenhuma mudança de cenário, apenas em diálogos inspirados, muita emoção, um pouco de apelo paternal e uma crescente que torna tudo cada vez mais interessante.

A vida do Doctor corre perigo, caso a mina seja devidamente ativada, mas todo o planeta de Kastarion 3 poderia explodir junto com ele – e é por isso que ele precisa de ajuda. Inicialmente, de Ruby Sunday, e toda a questão de ela encontrar algo que pudesse ajudá-lo a equilibrar o seu peso e, portanto, a pressão na mina quando ele colocasse o pé no chão é excelente, e é isso que atrai a atenção de Splice Alison Vater, a filha de John… e, eventualmente, de Mundy Flynn e de Canto. A vida de Ruby chega a correr perigo (eventualmente, o Doctor reclama que “ela dormiu durante toda a parte boa”), Canto morre abruptamente depois de um momento bonito de confissão de sentimentos, e cabe ao Doctor convencer Mundy Flynn da farsa que ela está vivendo.

Há muita força na maneira como tudo vem à tona para o Doctor e como ele expõe tudo, meio conversando com uma Ruby desacordada e meio apelando a Mundy para que ela acredite nele… para que ela acredite que Kastarion 3 está vazio, que não existe kastarions e que eles estão lutando contra nada, motivados pela fé cega e pelo Algoritmo de Villengard, que calcula uma taxa “aceitável” (!) de casualidades para que as pessoas continuem comprando e continuem lutando… infelizmente, é nesse momento que Mundy subitamente precisa de provas, e então o Doctor precisa apelar para a memória em IA de John Francis Vater, e esperar que ainda exista um instinto paterno o suficiente para ajudá-lo – para hackear o sistema da ambulância e conseguir provas.

Sinto que há algo de corrido e abrupto na reta final do episódio, eu não vou negar. Acho que existe uma proposta de agilidade para o clímax do episódio, mas talvez gostaríamos de mais tempo para explorar os detalhes daquela sequência: John vencendo a interface da ambulância, todo o sistema de Villengard sendo derrubado, Ruby sendo trazida de volta à vida… e, por falar em Ruby, novamente vemos neve caindo onde não deveria ter neve – e o mistério de sua origem segue ali, intacto. Gosto da maneira como os episódios têm sido independentes, mas como existe um mistério maior a ser resolvido em algum momento… “Boom” é um episódio impactante, e eu estou muito satisfeito com o que a série vem entregando. Vamos ver o que o restante da temporada nos oferece!

  

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Comentários

  1. Amei seu texto, amigo. E amei demais esse episódio. O melhor que eu assisti até agora. Muita tensão, emoção e tudo isso é transmitido com maestria pela interpretação do Ncuti Gatwa. Amei as críticas do episódio, tanto à irracionalidade das guerras, seu caráter capitalista; à irracionalidade da fé e de certa forma à desvalorização da vida humana, que se torna obsoleta.

    Foi muito incrível assistir um episódio mais sério como esse, e ver também o mistério da origem da Ruby se prolongando. Não achei o fim do episódio apressado, acho que encerrou bem de um jeito muito bonito. Fiquei apreensivo vendo o Doutor pisando naquela mina, e depois vendo a Ruby desfalecendo no chão.

    Todos os episódios dessa temporada de Doctor Who que eu assisti dariam ótimos filmes, e este daria um excelente filme também.

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    1. Que bom ver você de novo comentando Doctor Who, amigo. Não apenas bem-vindo de volta, mas bem-vindo ao seu primeiro episódio do Moffat (Moffat divide opiniões, mas as pessoas que estão certas amam a escrita dele kkkkkkk).

      O episódio é incrível mesmo, e bem diferente de todos que você tinha visto até então. Eu amo essa capacidade de Doctor Who de caminhar entre gêneros. Ansioso pela sua opinião sobre o próximo.

      P.S.: Você falou da Ruby "desfalecida", lembrei que eu tenho que te enviar um meme!

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