O Menino Que Queria Ser Rei (The Kid Who Would Be King, 2019)
Once and
future king.
Eu adoro
histórias sobre o Rei Arthur, e várias obras de ficção tentaram trazer a
história para a atualidade de diferentes maneiras ao longo dos anos – e eu
sempre acabo me divertindo, de uma maneira ou de outra. “O Menino Que Queria Ser Rei” traz um garoto chamado Alex que, por
acaso, acaba “esbarrando” na Excalibur fincada em uma pedra em uma construção
abandonada, e que acaba sendo “convocado” para uma batalha contra Morgana, que
está prestes a retornar durante um eclipse solar que vai acontecer em quatro
dias… o filme tem efeitos duvidosos, um uso exagerado de chroma key, e talvez seja longo demais para a história que conta –
ainda assim, o filme tem carisma e me divertiu. Certamente é o tipo de filme
que eu assistiria na “Sessão da Tarde”
e eu sinto que não era nada além disso que o filme intencionou ser.
Assim, “O Menino Que Queria Ser Rei” não é uma
grande aventura épica, uma revolução nas adaptações das histórias do Rei Arthur
nem um filme expressamente memorável – mas é competente dentro da sua
simplicidade aventuresca que se propõe a contar a jornada de um garoto de 12
anos de Londres a Tintagel, acompanhado de seu melhor amigo, dois antigos
inimigos que se tornam seus cavaleiros leais, e uma versão “jovem” de Merlin
com uns truques de mágica bacanas… é leve, colorido, divertido e cheio de
coração, porque é quase que inteiramente motivado pela paixão e pela esperança
de uma criança que simplesmente acredita
no que está vivendo, e que espera, talvez, que essa sua aventura o leve de
volta ao pai que ele nunca conheceu, e que ele acredita ter lhe dado um livro
do Rei Arthur no qual o chamava de seu “once
and future king”.
A parceria
de Alex e Bedders rende alguns bons momentos – e eu adoro as referências que
são feitas no filme, quando eles dizem que são como outras grandes duplas, como
Frodo e Samwise ou Han Solo e Chewbacca, por exemplo. Alex é justamente o que
se valoriza nas histórias do Rei Arthur: um garoto de coração puro, heroico e
que gosta de ajudar os demais… mas ele também é perseguido por bullies que eventualmente o descobrem
com a Excalibur no canteiro de obras abandonado e se tornam cavaleiros pelos
motivos errados, mas, de um jeito ou de outro, se tornando parte da aventura.
Lance e Kaye são as pessoas que Alex “recruta”, quando se convence de que o que
o novo adolescente esquisito que acabou de chegar à escola (e que acaba sendo
Merlin) está dizendo é verdade, e
salvar a Inglaterra de um futuro terrível nas mãos de Morgana é sua obrigação.
O filme traz
uma redenção bacana e convincente para Lance e Kaye, que começam como os
valentões covardes que atormentam a vida de Alex e Bedders, e que tentam
abandoná-los depois de Lance tentar roubar a Excalibur e acabar quebrando a espada, mas que acabam se
tornando cavaleiros de verdade e
fazendo uma promessa quando percebem que tudo isso é, de fato, maior do que
eles – a Dama do Lago retornando a Excalibur reconstruída é o suficiente para
assustá-los e/ou convencê-los. Alex, Bedders, Lance e Kaye formam um bom e
carismático grupo, que precisa se virar, por exemplo, quando anoitece e eles
são atacados por Mortes Milles, e o exagerado (e, eventualmente, divertido)
Merlin não pode ajudá-los… cenas de perseguição, fugas inteligentes, batalhas
inesperadas com soluções que funcionam de um jeito ou de outro, e eles seguem
em frente.
Toda a
sequência de Tintagel é bacana, com direito ao Bedders (provavelmente o
personagem mais fofo desse filme)
demonstrando que ele aperfeiçoou seu truque de multiplicação dos metais e uma
revelação feita a Alex: seu pai o
abandonou, e nunca foi ele quem lhe deu o livro sobre o Rei Arthur. Sentindo-se
desiludido e com raiva da mãe, porque ela
mentiu para ele durante toda a sua vida, Alex não pode deixar de encontrar
uma entrada para o Submundo e destruir Morgana antes que ela use o eclipse
solar para retornar ao nosso mundo. A sequência acaba sendo quase boba, devido aos efeitos fracos e à
tentativa de evocar grandes clássicos como a batalha de Gandalf contra o Balrog
em “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do
Anel”, mas é um grande feito para Alex, que encontra uma solução alternativa que é a única maneira de
vencer Morgana.
Mas sabemos
que é cedo demais no filme para que Morgana seja derrotada – e ela estará de
volta durante o eclipse solar… e, para poder vencê-la de verdade, Alex precisa
se lembrar das coisas que Merlin ensinara, a respeito do Código de Honra, por
exemplo, e ele percebe que errou ao
ficar com raiva da mãe, porque ele precisa “honrar aqueles que ama”. Então, ele
tem uma cena bonita com a mãe (e prova para ela que toda essa história de Rei
Arthur é verdade, evocando a Dama do Lago para devolver-lhe a Excalibur na banheira de casa), antes de reunir
seus cavaleiros, Bedders, Lance e Kaye, e todo um exército para lutar contra
Morgana e as demais criaturas do Submundo que estão voltando à vida durante o
eclipse, prontos para acabar com o mundo como o conhecemos… e a batalha da
escola durante o eclipse até que é um clímax bem legal.
Então, Alex
e os amigos derrotam Morgana, por ora, mas isso não quer dizer que não haverá
mais batalhas a serem travadas no futuro – mágicas ou não. “O Menino Que Queria Ser Rei” diverte, mas não surpreende. Fiquei
até um pouco surpreso com sua avaliação de 90% de aprovação da crítica no
Rotten Tomatoes, mas acho que tem a ver, apesar dos seus problemas técnicos, com aquilo que eu comentei no
início dessa review: é um filme
despretensioso, com espírito aventuresco e que busca divertir em uma jornada
mirabolante e inocente ao longo de suas duas horas… soma-se a isso o apelo
nostálgico e emocional que as histórias que envolvem o Rei Arthur e Merlin têm
sobre uma parcela significativa do público, e a capacidade de entregar
personagens carismáticos, embora potencialmente caricaturados e unilaterais, e
é uma fórmula que dá certo.
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