Jane Eyre (2011)
“I offer
you my hand, my heart”
“Jane Eyre” é um dos romances mais
importantes da literatura de língua inglesa. Escrito por Charlotte Brontë e
publicado pela primeira vez em 1847, a história é interessante, envolvente e
talvez diferente do que você pode estar esperando… com uma protagonista forte e
que sofre demais durante sua vida inteira,
Charlotte Brontë consegue levantar temas importantes e fazer críticas à
sociedade da época, à maneira como mulheres eram vistas e tratadas, e consegue
contar um romance inusitado que é envolto em mistério, e um tom um tanto quanto
sombrio – o Sr. Rochester não é um homem por quem nos apaixonamos já de cara, e
os segredos de seu passado ainda podem assombrar Jane Eyre. A história é boa,
bem contada e marcou a literatura, sendo constantemente lembrada em outras
obras, como “Anne with an E” ou mesmo
“O Diário da Princesa”.
A história
escrita por Charlotte Brontë recebeu várias adaptações ao longo dos anos,
dentre elas adaptações para o cinema mudo entre 1910 e 1926, adaptações para o
rádio, para a televisão, para o teatro e incontáveis filmes, o último deles
sendo lançado em 2011, protagonizado por Mia Wasikowska como Jane Eyre e
Michael Fassbender como o Sr. Rochester, com direção de Cary Joji Fukunaga. O
filme de 2011, que atualmente tem uma aprovação de 84% no Rotten Tomatoes, é um
verdadeiro espetáculo, representando toda a dor da personagem, todos os
momentos difíceis pelo qual ela passa (e não são poucos), trabalhando muito bem
com o recurso de flashback e flash forward para dar um tom a mais de
suspense para a história que já é repleta de mistério, além de um visual
impecável que nos transporta à era vitoriana e torna isso tudo crível.
Gosto de
como o filme começa em algum ponto perto do fim da história de Jane Eyre,
quando ela está fugindo desesperada, chorando, sem rumo, dizendo que “não pode
ser encontrada”, e nos perguntamos o que
aconteceu com ela para que chegasse a esse estado, a esse momento. Durante
todo o filme, ficamos tentando encaixar a cena inicial na trama, nos
perguntando o que a levará àquele momento, especialmente quando percebemos que a vida toda de Jane Eyre foi repleta de
sofrimento, e algo muito grave precisaria ter acontecido naquele momento
para que ela estivesse tão destruída e/ou assustada. O filme nos transporta de
volta à infância de Jane Eyre, com cenas chocantes de maltratados na casa da
tia que sempre a detestou, antes de ela ser mandada para uma escola – um lugar
onde os sofrimentos dessa garota órfã só vão se intensificar.
As cenas da
escola, Lowood, são difíceis de se assistir. Tristes e deprimentes, todas elas.
Seja pela humilhação constante a que Jane Eyre era submetida, pelos maus-tratos
que as crianças sofriam, ou aquele momento doloroso em que Helen, sua melhor
amiga, morre na cama ao seu lado, depois de um diálogo pungente no qual ela diz
que está feliz porque “está voltando para casa”. Durante anos, Jane Eyre viveu
infeliz em Lowood, supostamente “recebendo a melhor educação possível”, e ela
sai de lá já adulta, rumando para Thornfield Hall, uma casa na qual ela
trabalhará como preceptora. E, de alguma maneira inusitada, pode-se dizer que
Jane Eyre encontra felicidade naquela
casa sombria e cheia de segredos – gosto bastante das cenas em que ela está
ensinando a sua pupila, Adèle Varens, que avança bastante ao longo de poucos
meses.
A principal
história de Jane Eyre em Thornfield Hall, no entanto, é ao lado de Edward
Fairfax Rochester, o bonito, sério e misterioso dono da casa. Eu fiquei muito
confuso nas primeiras cenas dele, porque não sabia o que sentir… algo me dizia
que ele se apaixonaria por ela, e que existiam
chances de ela retribuir esse amor, mas ao mesmo tempo ele era ameaçador.
Os diálogos são incrivelmente bem-escritos e geram todo o clima de suspense
pelo qual “Jane Eyre” evidentemente
ansiava… de quebra, ainda temos cenas marcadas pelo mistério de coisas que
acontecem em Thornfield Hall e das quais Jane não tem conhecimento – como
quando um homem aparece baleado na casa e o Sr. Rochester pede que ela o ajude,
ou quando o quarto de Edward está em chamas e Jane Eyre acaba salvando a vida
dele… e, aos poucos, algo nasce entre
eles.
Gosto do
desenvolvimento do romance, um romance imperfeito, mas convincente. Quando eles
se aproximam pela primeira vez, quando ela salva a vida dele, ela fica
visivelmente balançada, e triste, no dia seguinte, quando ele parece ter
desaparecido e ela não tem ideia de quando estará de volta em Thornfield Hall;
ela sofre ainda mais quando ele retorna com alguém que a Sra. Fairfax parece
acreditar que é sua prometida, e eu adoro
aquela cena em que o Sr. Rochester é sincero sobre os seus sentimentos, fala
sobre erros do passado e sobre como conheceu alguém que iluminou o seu mundo,
ou qualquer coisa assim, e Jane Eyre parece confiante de que ele está falando
sobre Blanche… eventualmente, no entanto, ela descobre que ele estava falando
dela, e como o bobo romântico que sou, eu fiquei todo bobo com o pedido de
casamento do Sr. Rochester a Jane Eyre. Aquele momento em que ela fala sobre
“ter vivido uma vida plena ali” e pergunta se ele acha que ela é “uma máquina
sem sentimentos”, e ele “oferece sua mão e seu coração”, a convida a passar o
resto da vida ao seu lado, a ser sua esposa.
É TÃO LINDA
AQUELA CENA. Diálogo parecendo poesia, Jane Eyre falando de forma linda,
trágica e poética… não me surpreende mesmo que Anne Shirley-Cuthbert tenha se
encantado por Jane Eyre.
Mas alguma coisa ia acontecer… ainda não
tínhamos entendido a cena de abertura do filme.
Quando Jane
Eyre está prestes a se casar com Edward Rochester, e ele já está agindo de
maneira muito estranha naquela
sequência toda, o casamento é interrompido por um homem que anuncia que Edward Rochester já é casado.
Descobrimos, então, o segredo escondido pelo Sr. Rochester em um quartinho de
Thornfield Hall: uma esposa que ficou
louca e que ele retirou de um manicômio. É demais para Jane Eyre, em vários
sentidos. Ela vê seu sonho e seu amor se despedaçar, ela descobre que o Sr.
Rochester mentiu para ela, e o estado daquela mulher também é assustador.
Edward casou-se com Bertha no passado por conveniência da família, e realmente
não existe um “casamento” entre eles, mas Jane Eyre jamais aceitaria viver ao
seu lado sabendo que ele já é casado… por isso, transtornada, ela parte de
Thornfield Hall… e o ciclo se fecha.
O trecho do
filme que mostra o depois de Thornfield
Hall parece quase deslocado do restante, aquele pequeno trecho com o
interesseiro John Rivers que, felizmente, acaba depressa, e Jane Eyre retorna
correndo para Thornfield Hall, para reencontrar o seu amor… e para descobrir,
em uma cena dramática, que Bertha finalmente conseguiu o que sempre tentou e
colocou fogo na casa. O tom do filme todo é melancólico, mesmo em sua parte
supostamente mais “romântica”, e esse final, embora conte com o emocionante
reencontro de Jane e Edward (que agora está cego), também tem um tom mais forte
de melancolia do que de qualquer outra coisa… mesmo assim, é um tom poético e
belo que finaliza com perfeição a trama dessa personagem que só passou a vida
buscando a felicidade e um lugar a que pertencesse – e talvez ela tenha,
finalmente, o encontrado.
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Belíssimo filme. Eu adoro! Pretendo assistir novamente, várias vezes. S2
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