Justiça 2 – Balthazar Gomes da Silva: Primeiro Capítulo

“Eu não fiz nada, não, veio, cês tão ficando maluco”

“Justiça” é uma das minhas séries brasileiras favoritas. Escrita por Manuela Dias, a primeira temporada foi ao ar em 2016 e eu a considero um verdadeiro marco da teledramaturgia brasileira. O anúncio de uma “Justiça 2” me empolgou e me amedrontou na mesma medida: em parte, eu tive medo de uma segunda temporada que não tivesse o mesmo impacto da primeira, que não fosse tão boa quanto porque não era a ideia original ter mais de uma temporada; por outro lado, o formato me agrada muito, os temas tratados também são bons, e Manuela Dias optou por fazer uma “sequência” que não mantivesse os mesmos personagens, apenas a mesma estrutura, e isso é certamente um acerto… aqueles personagens de 2016 tiveram suas histórias encerradas.

Curiosamente, as histórias de “Justiça 2” começam justamente em 2016. Na primeira trama, conhecemos Balthazar Gomes da Silva, interpretado pelo incrível Juan Paiva, e ele tem um “primeiro capítulo” excelente, embora angustiante de se assistir… sua trama conta com injustiça social, direitos trabalhistas negados e racismo estrutural. O tema fica muito claro desde a primeiríssima cena, quando Balthazar está trabalhando como entregador para um restaurante e ele é parado pela polícia sem nenhum motivo aparente. A cena, revoltante justamente porque nós sabemos que isso acontece o tempo todo na vida real, causa um desconforto tremendo, e não nos deixa dúvidas do que está por vir: Balthazar será acusado por qualquer crime que ele não tenha cometido.

A história de Balthazar é sofrida. Com apenas 18 anos (a julgar pela sua data de nascimento em 1998 no computador da delegacia), ele é responsável pela avó, que está doente, e tudo começa a dar errado. Os poucos momentos de alegria do personagem chegam nos primeiros minutos do capítulo, depois da abordagem policial, quando Balthazar dá uma cadeira de rodas motorizada para a avó no dia do seu aniversário, que ele comprou com muito esforço. Ver o Balthazar sorrindo com a felicidade da avó é algo marcante, mas a gente sabe que não vai durar… e não dura. O estado de saúde da avó piora, por causa da diabetes e de uma trombose, e o restaurante no qual ele trabalha está demitindo todos os funcionários porque “está enfrentando problemas financeiros”.

Então, Balthazar precisa virar entregador de aplicativo, o que não lhe garante nenhum direito trabalhista… e Nestor, sogro de Galdino, o dono do restaurante, e responsável por essas “mudanças” que estão sendo feitas, não pensa em ajudar o garoto de nenhuma maneira – e, convenhamos, PAGAR OS SEUS DIREITOS NÃO É “AJUDAR”. Balthazar tem DIREITO a seu acerto! Enquanto ele não sai, no entanto, Balthazar se mata de trabalhar por 12 horas seguidas no aplicativo, às vezes até de bicicleta depois de deixar sua moto de garantia na farmácia porque a avó está muito mal e precisa tomar uma injeção que custa 400 reais, mas ele não tem como pagar… até que ele chega em casa, encontra a avó caída a sabe-se lá quanto tempo, e chama uma ambulância.

Toda a história de Balthazar com a avó é profundamente triste. Todas as cenas dele com o Nestor, por sua vez, são revoltantes. Quando ele vai conversar mais uma vez com Galdino para pedir pelo menos uma parte do seu acerto, e o dono do restaurante lhe entrega o dinheiro, Nestor o faz devolver, dizendo que “eles não podem pagar”, e o expulsa de maneira violenta, encontrando uma maneira de agir como se o Balthazar o estivesse agredindo, quando a única vez que ele o empurra é para se defender porque Nestor o está empurrando e gritando com ele desde o primeiro momento. Quando o restaurante é assaltado a mão armada naquela noite, Nestor vai à delegacia fazer uma denúncia, e ele e a esposa, Silvana, acusam Balthazar de ser o assaltante.

Sem nenhuma prova. E Balthazar é levado preso, também sem nenhuma prova.

Apenas por uma acusação vazia, baseada em racismo e mau-caratismo.

A cena da prisão de Balthazar Gomes da Silva é ANGUSTIANTE de se assistir. Simplesmente revoltante. Balthazar passa os próximos 7 anos preso, até que finalmente é solto porque um advogado tem cuidado de seu caso nos últimos 2 anos… nesse período, a avó de Balthazar morreu e ainda não sabemos o que aconteceu com a casa que era dela nem com a namorada que Balthazar tinha. O advogado, Cassiano, fala sobre como o processo ainda não acabou, e como ele deve receber uma indenização do Estado por dois crimes que lhe foram imputados e pelos quais ele já foi inocentado: assalto a mão armada e um assassinato (!). E Cassiano ajudou Balthazar por um motivo bem pessoal: ele também teve a sua vida arruinada por Nestor, há aproximadamente 12 anos

E ele quer ajuda para se vingar.

Vamos ver como essa história se desenvolve! O primeiro capítulo foi muito bom!

 

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