Marketing do Amor (Renato Ritto)

“Ele me transformou”

UMA LEITURA DELICIOSA DO INÍCIO AO FIM! Com muito bom humor, um gostinho de novidade e um romance caótico e sincero digno das melhores comédias românticas, “Marketing do Amor” é um livro escrito por Renato Ritto e publicado em janeiro de 2023 que eu, particularmente, considero um marco – talvez por eu ter sido um adolescente fascinado por Meg Cabot, que devorou todos os livros possíveis da autora. O livro de Renato Ritto tem o carisma, a irreverência e as referências acertadas para fazer funcionar uma história contada de uma maneira não tradicional, e nos envolve mais a cada página… é aquele tipo de livro que você diz a si mesmo “Ok, só mais um pouquinho”, e quando vê você não consegue mais largar porque precisa saber o que vai acontecer!

Qual é a próxima gravata que o Vlado vai usar, por exemplo…

Ou se alguém vai descobrir que a bunda na fotocopiadora é do chefe…

“Marketing do Amor” me chamou a atenção ASSIM que eu o vi pela primeira vez e eu sabia que precisava lê-lo. Se essa é sua primeira experiência com um livro nesse formato que parece inusitado e te envolve loucamente, saiba que Meg Cabot tem uma série que se iniciou com “O Garoto da Casa ao Lado” – o primeiro livro da série é escrito inteiramente em e-mails, e então outros elementos foram sendo adicionados nos livros subsequentes, até chegarmos a “O Garoto Está de Volta”, o mais recente da série, que também inclui mensagens no celular. Cito Meg Cabot nessa review com tranquilidade porque o próprio Renato Ritto reconhece a importância e a influência dela e de Sophie Kinsella em sua escrita, quando as menciona durante os seus agradecimentos (o que eu achei bem fofo).

Renato Ritto escreveu, então, o que eu sempre sonhei em ler: uma obra que me remetesse às leituras de adolescência de Meg Cabot, mas que fosse protagonizada por dois homens. Atual e descolado, o livro brinca com gírias, memes e referências que têm tudo a ver com a nossa realidade, e faz com que nos apaixonemos imensamente por Thiago e por Vlado… e torçamos por eles. E o livro é uma avalanche deliciosa de emoções: diversão, prazer, angústia, identificação. Fico muito feliz por como obras LGBTQIA+ estão ganhando cada vez mais destaque, porque elas conversam com um público que durante muito tempo ficou confinado à representação heteronormativa de relacionamentos na ficção, e eu quero ver um artista se apaixonando pelo chefe estrangeiro e bonitão, sabe?

Thiago é um rapaz de 25 anos trabalhando em uma empresa que não dá espaço a todo o seu potencial, enquanto ele adia os sonhos de se tornar um artista reconhecido e ter suas obras expostas, e lida com uma mãe que desconhece limites. E sua vida tem uma virada inesperada quando ele vai à festa junina que a mãe está oferecendo no quintal da casa dela e conhece quem parece ser o homem dos seus sonhos: Vladimir, ou Vlado, um estrangeiro charmoso e sensual de 30 anos que chegou recentemente ao Brasil e que se aproxima dele. Tudo funciona à perfeição: o caos inicial com Thiago achando que ele pode estar querendo roubar a casa, até os flertes durante a noite enquanto Thiago faz retratos dos convidados, culminando em uma noite quente e inesperada.

Tenho em mente uma imagem provocante do Vlado seminu naquele quarto, sabe?

E outra dele todo gostoso no escritório, com UMA GRAVATA DO HOMEM-ARANHA. AH!!!

Parece perfeito… como se o destino tivesse sorrido para Thiago e dissesse: “Toma, aqui está o seu próprio Tom Holland”. Até que… bem, a vida de Thiago tem uma nova virada inesperada no dia seguinte ao que pode ter sido a noite mais perfeita que ele já viveu, porque Thiago se depara no escritório com o seu novo chefe: o responsável pela implementação da filial de uma multinacional no Brasil, que comprou a empresa para a qual Thiago trabalhava… Vlado, da noite anterior. Ah, e não basta Thiago ter dormido (e não só dormido) com o seu mais novo chefe: aparentemente, a Innovativ proíbe veementemente qualquer envolvimento romântico entre funcionários… a conexão instantânea e a química latente, então, parecem uma pegadinha de mau-gosto do destino.

A maneira como Renato Ritto conta essa história é, sem dúvida, um dos charmes de “Marketing do Amor”. Além dos e-mails corporativos e das trocas de mensagens no chat interno da empresa (que deveria ser só para assuntos de trabalho, mas quem realmente obedece essas diretrizes?), o livro também traz tweets no Twitter, postagens e stories no Instagram, postagens no Reddit, conversas no chat de “Vigias”, um jogo online, conversas de WhatsApp (privadas e em grupos), transcrições de reuniões de trabalho, gravações de conversas no Tom, o celular de Thiago (que deveriam provar que a relação de Thiago e Vlado é estritamente profissional, mas isso meio que desanda depressa), notícias, reportagens, cupons fiscais, listinhas de afazeres e uma live em uma exposição…

Emocionante, por sinal.

Eu sempre digo isso por aqui, mas eu sou um romântico inveterado. Ler o romance e as desventuras de Thiago e Vlado é um prazer, e, de certa maneira, quanto mais caótico, melhor. É divertido como o livro brinca com a ironia de “eles não poderem ser mais do que amigos”, mas eles quererem mais do que qualquer coisa “ser mais do que amigos”. Amo como Thiago está preocupado com o emprego, mas não consegue resistir ao Vlado, e como isso tudo parece ser uma novidade tão grande para o Vlado que ele está entregue rapidinho, fazendo pequenas coisas que deixam o Thiago (e, não vou negar, o leitor) desconcertado, como quando ele coloca o nome no polvinho de “Thiago” porque “é alguém que ele acha bonito”, ou dá “Boa noite” seguido de um coração.

Sério!

O Vlado apaixonado é apaixonante… e o Thiago meio desesperado é, possivelmente, a coisa mais linda que eu já vi – há algo de muito real na maneira como ele teme perder o emprego, porque ele não teria como se sustentar em São Paulo sem um emprego e não quer voltar para a casa dos pais, mas, ao mesmo tempo, ele está tão feliz e tão envolvido que não quer perder isso que surgiu entre ele e o Vlado, porque é muito gostoso e lhe faz bem… quer dizer, eles são tão incapazes de se controlar que eles transam inconsequentemente na sala de reuniões azul da Innovativ, em cima da copiadora, e uma “cópia” da bunda do Vlado acaba circulando pelo escritório! Quer dizer, um amor intenso assim tem suas vantagens, não tem?! Como deixar de lado?!

Uma das minhas sequências favoritas é o retiro de mindfulness da Innovativ no fim de semana (que, por sinal, é tão absurdo que eu fiquei com raiva lendo o e-mail da empresa como se a convocação fosse para mim!), porque eu acho que diz muito sobre a relação de Thiago e Vlado e o que eles vão enfrentar: além da inegável paixão, há também as imperfeições, e eles precisam traçar estratégias para superá-las. O Vlado teimando em não seguir o GPS enerva Thiago (eu estou do lado do Thiago!), e os dois se fazem de durões quando precisam dividir um quarto naquela noite (típico), mas Vlado amolece o coração de Thiago com uma espécie de pedido de desculpas depois de ver seus stories e “contrabandear” um hambúrguer para dentro do retiro e provar que o entende e se importa.

Ali, eu soube que eles fariam funcionar… independente de ocasionais problemas.

O livro também explora a relação de Thiago com a família, e eu preciso dizer que EU ADOREI o fato de ele ensinar a mãe que o que ela fazia com ele era absurdo. O livro constrói uma sensação crescente de sufocamento toda vez que Janaina manda mensagens para o filho, e eu amo o Renato Ritto por explorar isso além de um lado que pudesse parecer meramente cômico… é um assunto sério que muitas vezes não é valorizado porque existe uma tendência de romantizar o amor maternal em várias obras de ficção, mas também existem relações tóxicas entre mães e filhos, e Janaina é uma daquelas mães que exigem tanto do filho que não deixam que ele viva a própria vida. Não parecia que ela via o Thiago como uma pessoa de verdade, mas apenas como alguém para fazer coisas para ela.

Quando e como ela quisesse e impusesse!

Além disso, a sua falta de discrição é absurda, e eu fiquei muito revoltado com as coisas que ela colocou no grupo do bairro ou o que disse no jornal, sabe? Um dos melhores momentos dessa história acontece quando Thiago conta para Vlado sobre como é a sua relação com os pais, exemplificando com uma história sobre um kit de pintura que ele ganhou na infância, e além de a história ser absurda, é ainda mais angustiante que Thiago diga que “a culpa foi sua mesmo”, quando ele era só uma criança… ele cresceu aprendendo a aceitar absurdos da família porque “sempre foi assim”. Fico muito orgulhoso de como o Thiago teve coragem de dar um basta e ensinar a mãe a ser mãe – e como isso não é algo rápido que se resolve em dias… vai levar um tempo ainda.

Já a Dona Neuza e o seu champanhe? FENOMENAL!

Também preciso falar sobre Nicole, a melhor amiga de Thiago – aquele tipo de amiga que todo mundo merecia ter. Confidente, parceira, mas que também não passa a mão na cabeça dele em todos os momentos, Nicole é encantadora como pessoa e amiga (embora ela mime um pouco o Hugo, é verdade), e talentosa e competente como profissional, e tem seu próprio arco por causa da doença da avó, a Vovó Vera, e eu acho que isso traz ao livro uma característica muito realista, porque existem momentos na nossa vida em que tem tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo… e você simplesmente tem que lidar com todas elas em paralelo. A dor e o luto de Nicole trazem momentos quase inesperados no livro, e a relação dela e de Thiago no meio disso tudo é lindíssima.

Como costuma acontecer em comédias românticas, chega um momento em que TUDO PARECE DAR ERRADO NA VIDA DE THIAGO – e eu confesso: fiquei exasperado. Acho que tudo começa naquela reunião com a Caseira, na qual o Paulo destila preconceito, testando Thiago até que ele esteja no limite e finalmente exploda, e então Thiago espera que Vlado o defenda, porque “era os dois contra o mundo”, mas Vlado é covarde demais para fazer isso, porque também estava sob pressão de seus superiores para não perder nenhum cliente para a Innovativ e tudo o mais… Thiago sai chorando e destruído da reunião, pede demissão, a mãe abre a boca para contar sobre o caso dele com Vladimir no telejornal local, e quando tudo já está muito ruim, ele recebe a mensagem de Nicole sobre a Vovó Vera…

Sempre tem como piorar.

O desastre é tão imenso que Thiago parece “se fechar para o amor”. Ele teve o coração destruído por Vlado, e agora ele ainda tem as preocupações de como vai pagar as contas do mês no apartamento que divide com a Nicole, e no meio de tanta coisa acontecendo, ele não quer conversar com Vlado… não quer ouvir pedidos de desculpas, não quer conversar com o Vlado, mesmo quando o Vlado reconhece que foi um idiota e que deveria ter agido diferente. Quando Thiago bloqueia Vlado de todas as maneiras possíveis, resta a Vlado pedir conselhos no Reddit e, quem sabe, conseguir a ajuda de pessoas próximas a Thiago? Pessoas como a Nicole, a Janaina e a Zilda? Afinal de contas, ele não é uma má pessoa… é uma boa pessoa que pisou feio na bola, mas tem salvação.

Ele só tem que provar isso e conseguir uma nova chance.

Chegamos, então, àquele momento característico de comédias românticas que chamamos de “grande gesto”. Assim como o Lloyd segurando o rádio sobre a cabeça com In Your Eyes para chamar a atenção de Diane em “Digam o Que Quiserem”, o Charlie impedindo o Howie de ir embora em “Fire Island: Orgulho & Sedução”, o Alex cruzando o oceano para conversar pessoalmente com o Henry em “Vermelho, Branco e Sangue Azul” ou, ainda, o Teddy fazendo toda aquela declaração para dizer que “é gay pelo Sky” em “O Azul Daqui é Mais Azul”. Aquele que é, possivelmente, o momento mais aguardado de qualquer comédia romântica, porque é sempre delicioso ver o que o personagem vai fazer para se redimir e se declarar para o outro, sabe?

Vlado não decepciona. Afinal, ele é um máximo.

Então, Vlado conta com a ajuda de Janaina e Zilda para organizar uma exposição das artes de Thiago Souza, com curadoria feita por ele, e com a ajuda de Nicole para levar Thiago até a exposição… nem que seja só para ele ver o que ele preparou e para ouvir o que ele tem a dizer. E tudo é emocionante como deve ser, como esperávamos que fosse! O discurso de Vlado na live sobre como Thiago o transformou e agora ele quer pertencer a algum lugar, e a emoção transbordando dele tão claramente, conforme vemos o personagem deixando de lado aquela vida monótona e aquela faceta mais fria que o impediu de viver de verdade até agora… a chance de Thiago, o beijo apaixonado dos dois, o número crescente de pessoas assistindo, a Zilda sem saber quando parar de gravar…

Tudo é perfeito.

Ler “Marketing do Amor” foi uma experiência ESPETACULAR. Eu me despeço de Thiago e de Vlado com um sorriso no rosto, desejando toda a felicidade do mundo para eles e, não vou negar, com o coração um pouquinho apertado porque eu gostaria de acompanhar mais, de saber mais – mas vou ficar atento a tudo o que Renato Ritto tiver de novidade daqui para a frente… um talento inegável que queremos ver brilhar (sim, foi proposital). Uma comédia romântica gay deliciosa do início ao fim, que sabe ser divertida, caótica e sensual, mas também humana, verdadeira e emocionante. Um livro envolvente, mágico e marcante. Leia “Marketing do Amor”, você vai adorar conhecer esses personagens, passar um tempo com eles, viver suas histórias!

 

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