The Rocky Horror Picture Show (1975)
“Don’t
dream it, be it”
Uma
verdadeira viagem alucinante, mas uma experiência interessantíssima. “The Rocky Horror Picture Show”,
adaptação do musical de palco de 1973, é uma paródia e/ou tributo musical a
filmes de ficção científica e terror das décadas anteriores, como o número de
abertura brilhantemente sugere ao transformar títulos de filmes e personagens famosos
na letra de “Science Fiction / Double
Feature”, e a própria premissa básica traz um clássico dos filmes de terror
unido a um quê “Frankenstein” em uma
composição inusitada e envolvente. Personagens carismáticos e sinistros, uma
condução absurda da trama, e uma série de músicas contagiantes tornam “The Rocky Horror Picture Show”
merecedor do status de cult que conquistou ao longo dos anos.
Viajado,
colorido, ousado, melancólico… com o potencial de levantar reflexões a respeito
da própria vida e das relações humanas, ou não, talvez eu termine o filme sem
saber qual de fato é a sua ideia – mas o mais interessante é que isso não importa. É a história de um
casal, Brad e Janet, que acabou de ficar noivo e, quando o pneu do carro deles
fura à noite durante uma tempestade, em uma estrada macabra, eles decidem parar
em um castelo e pedir ajuda, sem imaginar que uma convenção está acontecendo ali dentro, e que os moradores
daquele castelo vieram diretamente do Planeta Transexual, na Galáxia
Transilvânia, e o anfitrião está “construindo” um homem, “com músculos e um
bronzeado”, para satisfazer os seus desejos sexuais.
Os
personagens de “The Rocky Horror Picture
Show” são muito interessantes. Barry Bostwick interpreta Brad e Susan
Sarandon interpreta Janet, um casal apaixonado, aparentemente inocente, e que
tem a oportunidade de ser tentado
quando estão no castelo do Dr. Frank-N-Furter, interpretado por Tim Curry, o
excêntrico anfitrião e cientista maluco. Peter Hinwood interpreta o sexy Rocky, a “criatura” que está sendo
criada por Frank-N-Furter, e que desperta desejos em mais de um personagem…
Charles Gray interpreta o criminologista/narrador, que é uma mistura quase
paradoxal de seriedade e sátira, que funciona muito bem. Além dos vários
criados que trabalham no castelo e que têm suas próprias histórias, desejos,
segredos e intenções.
Para mim, o
que torna “The Rocky Horror Picture Show”
tão interessante é o fato de que ele é um musical excelente, repleto de músicas
realmente muito boas. A apresentação de Janet e Brad com “Dammit Janet”, quando Brad a pede em casamento na igreja onde
outro casamento acabou de ser celebrado, mas ela está agora sendo arrumada para
um funeral, é excelente! “Over at the
Frankenstein Place” conduz a chegada ao castelo do Dr. Frank-N-Furter, onde
os personagens são recebidos com a contagiante “The Time Warp” (que fica na nossa cabeça mesmo depois do filme), e
conhecem o seu anfitrião na impressionante “Sweet
Transvestite”. A primeira meia hora do filme é uma sucessão de números
musicais um melhor do que o anterior.
Lembro-me
de, quando assisti ao filme pela primeira vez, ter me surpreendido com a
maneira natural como o filme constantemente
se transforma, e isso ainda é algo que me impressiona, porque saímos de
algo totalmente colorido, romântico e fofinho no início do filme para algo mais
ousado e agressivo quando se chega à casa do Dr. Frank-N-Furter, e as coisas
ali oscilam entre a comédia, o suspense, o terror e o drama… e, como deve
acontecer com todo bom musical, as músicas nos conduzem por diferentes emoções, as intensificando (a animação que
toma conta de nós durante “Hot Patootie”,
por exemplo, ou a sensualidade notadamente divertida de “Touch-a, Touch-a, Touch-a, Touch Me” ou ainda a beleza e a
melancolia de “Don’t Dream It, Be It”).
“The Rocky Horror Picture Show”
certamente é uma experiência inusitada e que vale a pena: musicalmente se
sobressai e entrega excelentes números, mas também é um bom filme ao brincar
com elementos da ficção científica e do terror ou mesmo ao referenciar
diretamente filmes e personagens que fizeram muito sucesso nesses gêneros, mas
talvez a sua vitória esteja nos seus personagens e no quão complexos eles podem
ser. Imperfeitos, eles se tornam realmente humanos.
Qual era a natureza do Dr. Frank-N-Furter no fim das contas? Acredito que nem
boa nem ruim, cometendo erros que são frutos da premissa do filme, enquanto tem
buscas genuínas por amor e pela ideia de “casa”. Além disso, a mensagem queer do filme transcende o próprio
personagem de Frank-N-Furter e vai além…
Através de Brad,
Janet e toda a experiência deles por exemplo…
Brad e Janet
só queriam poder usar um telefone emprestado, e acabam entrando no que deve ser
a aventura mais bizarra da vida deles, mas é mais do que isso: é uma experiência reveladora também,
porque eles certamente não saem de lá as
mesmas pessoas que entraram. E talvez seja muito bom para eles que eles
tenham saído mais conscientes do que
sentem, do que desejam e do que lhes dá prazer… talvez essa seja toda a ideia
de “The Rocky Horror Picture Show” no
fim das contas. Talvez sua mensagem fale tão diretamente com a comunidade
LGBTQIA+ por ser uma mensagem de liberdade, sobre SERMOS NÓS MESMOS, ser quem
quisermos ser… sobre sabermos o que queremos e o que nos faz feliz. Sobre não
ter medo de ir atrás disso.
É muito
bonito.
Para reviews de outros FILMES, clique aqui.
Comentários
Postar um comentário