Bonus Track (2023)
“It’s a
very bad fun idea”
Com história
de Josh O’Connor e Mike Gilbert, direção de Julia Jackman e protagonizado por
Joe Anders e Samuel Small, “Bonus Track”
é um filme sobre descobertas, amadurecimento e o primeiro amor… o filme teve
sua primeira exibição realizada no BFI London Film Festival em outubro de 2023,
mas chegou de fato ao público apenas em 2024, e pudemos acompanhar a história
de George Bobbin e Max Marvin, dois garotos de 16 anos que se unem por causa da
música e se apaixonam no seu último ano de escola. Não acho que seja um filme arrebatador, daqueles que
figurarão na minha lista de filmes LGBTQIA+ favoritos, mas eu fico muito feliz
em ver essas histórias simples de romance adolescente entre pessoas LGBTQIA+
finalmente ganhando espaço.
Precisamos
de filmes como esse!
“Bonus Track” é aquele clichê
previsível e aconchegante que acompanhamos com a segurança de que tudo vai
ficar bem no final… não acho que o filme realmente falha em inovar quando essa
não era a sua proposta, mas sinto que, em alguns momentos, o filme patina em
seu tom, que não consegue decidir, por exemplo, se é uma comédia escrachada ou
não. De todo modo, o filme entrega alguns momentos memoráveis – gostei bastante
da conversa de George com o pai, por exemplo, por mais simples que ela tenha
sido –, e eu consegui torcer pelo romance de George e Max, em cada momento que
eles compartilharam, especialmente quando a tensão entre eles se torna palpável durante um abraço depois de “um
dia na cidade”, quando George fura a orelha.
George
Bobbin é um garoto apaixonado por música, mas desacreditado na escola. O seu
professor de música não enxerga qualquer talento nele, os colegas de classe
parecem odiá-lo e debocham dele de maneira maldosa o tempo todo, e ele parece estar falhando em todas as áreas
acadêmicas de seu ano final… quando Max Marvin, o filho de cantores famosos que
acabaram de se separar, é transferido para a escola dele, ele finalmente
acredita na possibilidade de ser ouvido
pela primeira vez. Quer dizer, Max é quem se aproxima dele, e ele entende de
música e parece disposto a ajudá-lo para a apresentação no Show de Talentos dos
Formandos no fim do ano… e, com Max ao seu lado, George tem certeza de que ele
finalmente será ouvido…
E, se o
ouvirem, perceberão que ele tem talento.
A relação de
George e Max se constrói através da proximidade que eles cultivam, aproximados
pela música… gosto da ideia de o Max “pedir ajuda com matemática”, quando
George tão claramente não sabe nada de
matemática, apenas como uma desculpa para se aproximar, e então os dois
começam uma amizade que pode se tornar algo
a mais eventualmente – gosto da ideia de o tempo passar enquanto os dois curtem a companhia um do outro no
quarto de George, dia após dia. E eu amo como Max é idolatrado na escola, porque ele é famoso, afinal de contas (!), e
como em todo momento ele tem o George ao seu lado… minha cena favorita talvez
seja o momento em que ele defende George de um comentário maldoso quando eles
estão no acampamento.
Todas as
conversas que levam a um possível romance também são gostosas de se assistir –
e dizem muito sobre a realidade de um adolescente LGBTQIA+. É impossível não
ler as atitudes de Max como sinais de possível interesse em George, mas, ao
mesmo tempo, George não tem certeza da sexualidade de Max, e tenta fazê-lo
falar sobre isso quando pergunta sobre “o seu tipo” e momentos assim. Gosto de
como Max não usa palavras para dizer
a George como se sente… gosto de como sua atenção está no olhar que ele
reconhece no vestiário da escola; na maneira como ele coloca um fone no seu
ouvido e deita ao seu lado na cama no acampamento; ou na maneira como ele se
aproxima silenciosamente de George, olhando para ele, e eles se beijam pela
primeira vez…
E são fotografados.
A história
de “uma foto de Max e George se beijando sair no jornal” é muito menos
dramática do que eu esperava, o que é algo bom. Quer dizer, a atenção de uma
cidade pequena se volta inteiramente para eles, repórteres estão por todos os
lados e Max anuncia que vai embora para Londres para morar com a mãe, mas ainda
assim o sentimento não parece
exagerado ou forçado. Max chama George para conversar no café, por exemplo, em
uma das melhores cenas do filme, na qual George pede que o Max não vá embora, porque “precisa dele ali” – e Max
teria ficado, com a resposta certa, mas George não sabe dizer por que “precisa
dele ali”. E quando tudo o que ele consegue dizer em voz alta é sobre o Show de
Talentos, Max acaba indo embora mesmo…
É aquele
momento típico em uma comédia romântica
na qual as coisas dão errado, o casal se separa, precisa encontrar uma maneira
de resolver seus problemas e, quem sabe, enfrentam algumas outras coisas
paralelas também… eu amo como os pais de George se comportam na história toda,
porque ele pode nunca ter falado para eles sobre ser gay, mas eles estão ali para amá-lo e apoiá-lo como
deve ser. O pai conversando com ele é muito bonitinho, porque mostra uma
falta de jeito, talvez, mas um sentimento sincero e um amor imenso pelo filho.
A mãe, por sua vez, o aconselha a lutar por Max, se é ele mesmo que ele quer, e
George faz exatamente isso, gravando para Max uma fita, que é o que ele sempre
fazia como uma maneira de se expressar…
George se
prepara, então, para o Show de Talentos dos Formandos, esperando a oportunidade
de ser ouvido… e, como esperávamos
que acontecesse, Max aparece quando ele já está no palco, enfrentando a maldade
de seus colegas de classe, e sobe para cantar com ele, obrigando a escola a ouvi-lo. A cena é uma delícia! A música,
“A Very Bad Fun Idea”, é muito boa, e
eu fiquei todo feliz com o orgulho
dos pais assistindo ao George (inclusive, o pai é interpretado por Jack
Davenport, e eu tenho um crush enorme
nele desde “Smash”), e também com a
conversa sincera que George e Max têm mais tarde, quando George beija Max
destemidamente em público, pedindo mais uma vez que ele fique na cidade… pelo
menos durante as férias de verão que estão começando.
Afinal de
contas, se pode viver uma história durante as férias de verão, não? E o George
era formando mesmo e se inscreveu para uma Faculdade de Música, que sabe-se lá
onde é… em Londres, talvez? De todo modo, o filme tem uma última cena lindinha,
dos pais de George saindo para o flamenco e deixando o filho em casa com o
namorado, dinheiro para o jantar e uma carta que é a resposta da faculdade – e que George vai celebrar primeiramente
com Max, porque ele foi aceito. “Bonus
Track” pode não ser imensamente inovador e se esquivar de aprofundar-se em
temáticas mais sérias, mas é uma história de amor gostosa de se assistir… uma
experiência leve e bonita que tem muito a ver com o primeiro amor, que muitas vezes é negado a pessoas LGBTQIA+ na
adolescência.
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