Divertida Mente 2 (Inside Out 2, 2024)
“Alegria… a Riley quer você”
Riley tem 13
anos, é oficialmente uma adolescente e está indo para o Ensino Médio sem as
suas melhores amigas… quer dizer, o que pode dar errado? A Ansiedade tem
algumas ideias sobre isso. A vida de
Riley está mudando novamente e, dessa vez, novas
emoções chegam à sala de controle para dar conta dessa nova fase chamada
“puberdade”. Em 2015, a Pixar lançou uma de suas melhores animações: “Divertida Mente” é inteligente,
emocionante e humana, e ficou no topo da minha lista de favoritos do estúdio
até o lançamento de “Viva: A Vida é uma
Festa”, em 2017. “Divertida Mente 2”,
um dos filmes mais aguardados de 2024, vem quebrando recordes de audiência e
agradando crítica e público, provando mais uma vez o quanto a Pixar sabe contar uma boa história.
Anos se
passaram desde o primeiro “Divertida
Mente”. Agora, a Ilha da Família se tornou algo pequenininho na mente de
Riley comparada à Ilha da Amizade, algo que representa bem a adolescência de
muita gente, e é por isso que a premissa do filme lida com os anseios de uma
grande mudança e a angústia de pensar em começar em uma escola nova sem as amigas – por isso, Riley tem um
fim de semana que pode definir todo o seu futuro, e uma decisão importante a
tomar: ela curte ao lado de Grace e Bree os últimos jogos de hóquei que pode
ter com elas, ou ela usa a oportunidade para impressionar Val e a treinadora do
time do Ensino Médio, garantindo uma vaga no time e, quem sabe, entre as
garotas populares que facilitarão sua vida no ano seguinte?
A Alegria, a
Tristeza, o Medo, a Nojinho e a Raiva não
estão sozinhos para lidar com esse fim de semana importante… algumas
mudanças no painel de controle parecem deixar as emoções exacerbadas, e uma equipe de demolição chega para reformar a sala
de controle, para “arrumar espaço para as novas emoções” – e, então, a Alegria
e as demais veem a chegada de quatro novas emoções, que serão muito presentes nessa nova fase da vida
de Riley: primeiro, a Ansiedade, que é a primeira a chegar e não consegue ficar
parada, querendo controlar tudo; depois, a Vergonha, o Tédio e a Inveja… e
todos têm muitas ideias sobre o que deve ser feito, como Riley deve se
comportar, e eles colocam em risco o que as outras emoções levaram 13 anos para
construir…
O
“senso de si” da Riley.
Gosto muito
de como “Divertida Mente 2” expande a
premissa do primeiro filme, e como explora facetas interessantes da
complexidade do que é a mente do ser humano… toda a questão das memórias que
são levadas a um lugar especial para se tornarem convicções que, por sua vez, constroem o que Riley pensa sobre si
mesma é SENSACIONAL! E é esse “senso de si” que é questionado pela Ansiedade –
quando tudo parece depender daquele fim de semana de hóquei e as perspectivas
para o futuro parecem tão assustadoras, a Ansiedade se livra do senso de si original de Riley, prende as
emoções originais e as reprime, e toma conta das ações, criando novas
convicções que, baseadas primordialmente na Ansiedade, podem criar um novo
senso de si preocupante.
Enquanto a Alegria
e as demais emoções reprimidas tentam recuperar o senso de si original da Riley
e retornar para a sala de controle, “Divertida
Mente 2” lida bem com conceitos como o Fluxo de Consciência (achei muito
bom!), o Abismo do Sarcasmo, uma Tempestade de Ideias e, é claro, a Terra da
Imaginação – o filme sabe aproveitar-se de maneira inteligente de elementos
como esse: nessa nova fase de sua vida, a imaginação da Riley está trabalhando
na criação de cenários de “o que pode dar errado”, sob encomenda da Ansiedade,
e isso é genial! Triste e sufocante, é verdade, mas genial… é essa materialização das nossas emoções e do
que acontece na nossa mente que tornam “Divertida
Mente”, o primeiro e o segundo, filmes com os quais podemos nos identificar
tão bem!
A Ansiedade,
a Inveja e o Tédio tomam decisões questionáveis
no controle da mente de Riley, enquanto a Tristeza é mandada de volta à sala de
controle, para levar a Alegria e os demais de volta assim que eles recuperarem
o senso de si da Riley, mas isso parece cada vez mais impossível… é como se tudo o que a Alegria fizesse desse num beco
sem saída, e ela quase chega a desistir em algum momento, dizendo que “não sabe
como deter a Ansiedade” – e ela chega à conclusão de que “talvez seja isso
mesmo, talvez se sinta menos Alegria de agora em diante”, o que é uma das falas
mais inteligentes, verdadeiras e dolorosas de “Divertida Mente 2”. Mas ela tem uma última ideia, porque não é a
Ansiedade quem vai definir “quem a Riley é”, e ela “surfa” de volta à sala de
controle…
Em uma avalanche de memórias relegadas ao
fundo da mente…
Que vêm à
tona!
A
representação de uma crise de ansiedade quando Riley é afastada por 2 minutos
do jogo por causa de uma falta é incrível: dentro e fora da mente da garota. A
dificuldade de respirar, do lado de fora, enquanto a Ansiedade toma conta do
controle, aperta botões desesperadamente e o novo “senso de si” de Riley lhe
diz que “ela não é boa o suficiente”. As demais emoções, então, precisam
encontrar uma maneira de chegar até a Ansiedade, tirá-la do controle, e
reestabelecer um “senso de si” diferente em Riley – mas tampouco é aquele que a
Alegria fez de tudo para ir resgatar… aquele que enfraqueceu nesse tempo todo e
já não tem o mesmo efeito que tinha antes. Riley
está crescendo, o que quer dizer que algumas coisas inevitavelmente precisam
mudar.
O mais legal
dessa conclusão, para mim, é justamente o fato de a Alegria perceber que, à sua
maneira, ela estava fazendo a mesma coisa
que a Ansiedade, tentando definir
sozinha quem a Riley deveria ser, o que devia virar convicções e o que deveria
ser descartado, mas quando aquelas memórias retornam e se tornam uma variedade
imensa de convicções, o “senso de si” de Riley se transforma… em algo mutável e
poderoso. ISSO é genial! Somos complexos demais para que o nosso senso
de si não o seja. É com esse novo senso de si mutável e com as emoções
reunidas, abraçadas à “Riley”, que Riley finalmente pode se acalmar, retornar
para as amigas e para o jogo – dessa vez, com o controle pedindo a Alegria no comando… a Riley a quer naquele momento.
Um filme
LINDÍSSIMO, que se caracteriza como mais um grande acerto da Pixar. Eu não
diria que ele é melhor que “Divertida Mente”, que apresentou esse
conceito de maneira inovadora e divertida, mas é um ótimo filme que lida bem
com as armadilhas de uma sequência, e que tem alma, força, verdade e é humano e
honesto. Conhecemos novas emoções – e as reconhecemos em nós –, e somos relembrados
de que todas essas emoções são
importantes, por motivos e em momentos diferentes, mas todas importantes.
Nós, como pessoas, somos mesmo uma junção de tudo o que vivemos: memórias e
convicções, tanto as boas quanto as ruins, que formam o que pensamos sobre nós
mesmos, o que sentimos, como agimos… que filme maravilhoso temos aqui!
Para a
review do primeiro “Divertida Mente”,
clique
aqui.
Vc poderia fazer um ranking de filmes da Pixar? Só estou interessada em saber toda a sua ordem...
ResponderExcluirVixe, pior que eu não costumo fazer rankings, eu não consigo definir uma "ordem" porque às vezes eu gosto muito de mais de um por motivos diferentes. Por exemplo, gosto muitíssimo de "Procurando Nemo" e muitíssimo de "Monstros S.A." e não consigo colocar um acima do outro, não sei dizer qual acho melhor... única coisa que eu tenho bem definida é o que já está no texto. Em primeiro lugar, meu favorito da Pixar é "Viva: A Vida é uma Festa". E em segundo, "Divertida Mente".
ExcluirA mesma ordem para mim! Em terceiro lugar, estou MUITO dividida entre ''Up'', ''Wall-e'', ou ''Soul''.
ExcluirÉ muito difícil mensurar gostos, né? Certamente você gosta desses 3 de maneiras diferentes, não dá para dizer que um é necessariamente "melhor" que o outro. Por isso tenho dificuldade com rankings hahaha A não ser por "Viva" e "Divertida Mente" mesmo, que para mim são os dois melhores.
ExcluirQual personagem ou sentimento novo vc mais gostou? Seu favorito? Além da Ansiedade, que é dona do filme todo, né? Acho que vc não falou muito delas no texto.
ExcluirDas emoções novas menos a Ansiedade? Eu acho que, no geral, elas foram bem subaproveitadas, sabe? Mas eu gostei da Vergonha, especialmente pelo design, que eu acho que se encaixa perfeitamente na proposta, e acho que o personagem foi bem usado, com sua maneira única de apertar os botões e assumir o controle, ou se escondendo e tudo o mais...
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