Este Inverno: Uma novela de Heartstopper (Alice Oseman)

“Tudo fica melhor quando nós três estamos juntos”

COMO NÃO AMAR OS IRMÃOS SPRING?! Em 2014, Alice Oseman lançou o seu romance de estreia, no Brasil intitulado “Um Ano Solitário”, protagonizado por Tori Spring. O sucesso de personagens “secundários” como Charlie e Nick e a certeza de que eles tinham suas próprias histórias para contar, no entanto, levou a autora a se aprofundar. Inicialmente, Alice Oseman presenteou os fãs com duas novelas (que são escritos em prosa, mas são mais curtos que o romance e, nesse caso, com a ajuda de ilustrações muito bonitas que enriquecem a história e são abundantes em “Heartstopper”), ambas lançadas em 2015. A primeira delas, “Nick e Charlie”, traz a eminente partida de Nick para a faculdade; a segunda, “Este Inverno”, o Natal mais difícil de Charlie.

Sabemos, tanto graças a “Um Ano Solitário” quanto ao Volume 4 de “Heartstopper”, sobre o transtorno alimentar de Charlie e sobre a automutilação. Quando as coisas se tornam muito graves e Charlie precisa de ajuda profissional, ele é internado para tratamento, e Alice Oseman faz um trabalho competente que busca informar a respeito de transtornos e tratamentos, na tentativa, também, de derrubar estigmas e preconceitos voltados a transtornos mentais, hospitais psiquiátricos e ajuda. “Este Inverno” se passa no Natal pouco depois de Charlie sair do seu internamento, e tudo o que ele não quer é ser o centro das atenções, mas parece ser exatamente o que acontece. É uma narrativa sensível, pungente, que ocasionalmente causa revolta, mas também acolhe…

Charlie tem pessoas incríveis ao seu redor, como Tori, Oliver e Nick.

“Este Inverno” é uma história sincera, emocional e com tons de melancolia e amor. Novamente, eu preciso dizer que ler esses personagens em prosa é curioso para mim, tendo em vista que meu primeiro contato com eles foi através de “Heartstopper”, e é evidente como parece algo diferente. Sei que “Um Ano Solitário” passou por uma “revisão” que atualizou uma porção de coisas depois que Alice Oseman começou a se dedicar a “Heartstopper”, mas sinto que essas novelas, capítulos “extras” da história de Nick e Charlie, por vezes ainda conseguem deixar “escapar” um pouco de como as coisas eram antes… há algo de diferente no tom, na intensidade, no vocabulário… algo que vez ou outra temos “dificuldade” para conectar ao Nick e ao Charlie dos quadrinhos.

A novela é dividida em três capítulos, cada um narrado por um irmão Spring diferente, o que é um recurso que eu amo na literatura – é gostoso ver diferentes pontos de vista e diferentes sentimentos que transbordam das páginas e nos atingem em cheio… e tudo é muito intenso! O primeiro capítulo, narrado por Tori Spring, levanta uma série de pontos importantes. É bastante triste perceber a responsabilidade que Tori sente, como irmã mais velha, especialmente quando a mãe deles parece estar dificultando tanto as coisas para o Charlie… é forte quando Tori reconhece que “a mãe está fazendo o seu melhor, mas o seu melhor não é bom o suficiente”. Com brigas diárias entre Charlie e a mãe desde que ele retornara para casa, Tori tenta “mediar” isso tudo.

Se “Heartstopper” nos traz a maior parte dos transtornos de Charlie através do seu próprio ponto de vista, “Este Inverno”, assim como “Um Ano Solitário”, entrega a narrativa para a voz de Tori Spring, e ela é uma personagem que eu amo profundamente… a intensidade tão real de seus pensamentos, as pequenas reações a cada situação difícil que Charlie passa com os seus parentes mais sem-noção durante a ceia de Natal, a maneira como ela é espectadora de uma briga entre Charlie e a mãe na qual a mãe está totalmente errada e a forma como ela pede que Charlie não vá embora e “fique com ela naquele Natal”. Ela também está carente, ela também quer a sua companhia, e ela “abafa” muitas vezes a própria dor porque acha que não tem o direito de sofrer e/ou reclamar agora…

Porque o foco tem que estar em Charlie.

Quando Charlie “escapa” de um Natal aterrorizante com parentes revoltantes, a narrativa de “Este Inverno” passa para ele, conforme ele “se esconde” na casa de Nick Nelson: seu namorado praticamente perfeito que o acolhe lindamente. Apesar de eu sofrer por Tori, por saber como ela se sente e como queria ajudar, eu gosto de ver como Charlie é acolhido na casa de Nick por ele, por sua família (a não ser por David, que é SEMPRE uma pessoa asquerosa) e por Henry, o novo cachorrinho que Nick acabou de ganhar de Natal… e é tão gostoso acompanhar essa relação saudável, carinhosa e preocupada de Nick e Charlie, com Nick sabendo exatamente como agir: ele está ali, ele o apoia e está disposto a ouvir quando ele quiser conversar, mas sem pressioná-lo.

É interessante a ideia de “meio-termo” apresentada por Charlie: ele sente que, desde que voltou do internamento, as pessoas ou a) ignoram os seus transtornos e tentam fingir que nada aconteceu, como a mãe, ou b) o tratam como se ele fosse “esquisito” e “diferente”, fazendo perguntas e comentários absurdos, como seus parentes ou o David fizeram. O ideal é um meio-termo, e duas pessoas são incríveis em atingir esse meio-termo: o Nick e a Tori. Por isso é tão legal ver a Tori enfrentar a chuva, preocupada com o irmão, aparecendo na casa de Nick para “buscá-lo”. A relação perfeita dos dois, a demonstração de afeto da maneira como Tori sabe e consegue, o agradecimento de Charlie por ela ter vindo… tudo constrói uma das cenas mais lindas do universo de “Heartstopper”.

Então, Charlie aceita voltar para casa, e a narrativa passa, por fim, para o pequeno e adorável Oliver! São pouquíssimas páginas narradas por Oliver, mas é tão gostoso perceber a sua inocência e a maneira simples e prática como ele vê as coisas, como quando diz à mãe que, se ela disse algo ruim para o Charlie, ela só tem que pedir desculpas, ou quando ele corre para receber o Charlie de volta em casa com um sorriso imenso no rosto e pulando no seu colo, o chamando para jogar Mario Kart… não é necessário muito mais que isso, na verdade, e Oliver parece entender isso muito bem. A “reunião” final de Charlie, Tori e Oliver sentados no sofá jogando videogame juntos é, definitivamente, uma conclusão belíssima para “Este Inverno”. Não foi o Natal perfeito, mas eles têm uns aos outros…

E isso vai ajudá-los a passar pelos dias mais difíceis.

Lindíssimo!

 

Para reviews de “Heartstopper”, clique aqui.
Para a review da novela “Nick e Charlie”, clique aqui.

 

Comentários