O Planeta dos Macacos: O Reinado (Kingdom of the Planet of the Apes, 2024)

“Humans will never give up. Not until you claim all things for yourselves”

Eu acho o conceito de “O Planeta dos Macacos” FASCINANTE – e as últimas décadas nos provaram a sua riqueza em elementos a serem explorados. Essa ficção científica distópica surge com o romance homônimo do francês Pierre Boulle, que foi lançado em 1963, e ganhou sua primeira adaptação pouco tempo depois, em 1968, dando início a uma franquia com cinco filmes, lançados entre 1968 e 1973, e duas séries, lançadas em 1974 e 1975. Em 2001, “O Planeta dos Macacos” volta a ganhar as telas de cinema com um remake/reboot com uma linguagem diferente, mas foi apenas em 2011 que a franquia se estabelece novamente, com uma proposta nova e curiosa: a de conectar o nosso mundo como o conhecemos ao que encontramos no “O Planeta dos Macacos” original.

As possibilidades aqui são infinitas! Entre 2011 e 2017, a franquia ganhou uma trilogia – formada por “A Origem”, “O Confronto” e “A Guerra” – que acompanha a história de Caesar e, com ele, a transformação do mundo como o conhecemos… pode-se dizer que é a queda da humanidade e a ascensão d’O Planeta dos Macacos. Todos os três filmes foram sucesso de crítica e de público, conduzindo o espectador da culpa da humanidade ao criar o vírus que mudou o mundo até aquela realidade distópica na qual humanos e macacos estão em guerra… e Caesar se torna um símbolo fortíssimo dentro da franquia, sendo um líder sobre o qual muitas histórias são contadas nas gerações seguintes. Algumas verdadeiras e honestas, outras que distorcem suas palavras e crenças.

É aqui que chegamos a “O Planeta dos Macacos: O Reinado”, e essa é, ainda, uma nova proposta à franquia – um possível recomeço conectado ao que estamos acompanhando desde 2011, mas suficientemente independente para iniciar uma história que, agora, é protagonizada por Noa. Depois de tantas gerações, algumas coisas foram estabelecidas… o vírus que deu mais inteligência aos macacos e tornou os humanos selvagens a ponto de perderem a capacidade de fala se espalhou, e muita coisa se tornou “história”. Os macacos se reuniram em diferentes clãs, com suas crenças, seus costumes e suas tradições, e as “manadas” de humanos selvagens, os “ecos”, se tornaram cada vez mais escassas, bem como um passado no qual eles eram inteligentes quase uma “lenda”.

A apresentação do Clã das Águias é feita de uma maneira incrível – e eu adoro esse teor introdutório de sequências como aquela na qual Noa e os amigos saem em busca de ninhos para pegar ovos que eventualmente se tornarão “seus” pássaros de rapina, e vamos conhecendo os rituais de crescimento desse mundo no qual estamos entrando agora… Noa é jovem, corajoso, um tanto inconsequente, mas o tipo de protagonista que adoramos acompanhar. E que tem que enfrentar mais do que ele jamais esperou quando um outro clã de macacos ataca a sua aldeia, coloca fogo em tudo, mata alguns macacos como o seu pai e leva outros como prisioneiros – e eles parecem interessados em uma humana em específico. A humana que segue Noa quando ele inicia sua jornada.

No início, achei que acompanharíamos mais de Noa ao lado de Soona e Anaya, que retornam para o clímax do filme e proporcionam ótimos momentos ao lado de Noa, mas uma boa parte do filme traz Noa realmente fora de sua zona de conforto – inicialmente sozinho, e determinado a resgatar seu clã e levá-lo de volta para casa, ele conhece o extremamente carismático Raka, que é um orangotango que realmente entende as coisas que Caesar pregava (!), e depois se aproxima de Nova/Mae, uma mulher humana que “fala como um macaco”. Algo que ele e o Clã das Águias, provavelmente, nunca tinha visto. Noa se depara, então, com histórias sobre como, em algum momento do passado, os “ecos” foram inteligentes e construíram civilizações inteiras e tudo o mais.

Esse choque é algo muito interessante trazido no novo “O Planeta dos Macacos”. Quando acompanhamos Caesar, ainda estávamos em uma época próxima à época em que os humanos “reinavam sobre a Terra”, e isso é essencial para a construção do seu personagem, porque Caesar viveu ao lado de humanos e pôde entender, por exemplo, que nem todos eram ruins e que, portanto, talvez havia uma maneira de humanos e macacos conviverem em harmonia… em “O Reinado”, tanto tempo se passou e os humanos sobreviventes ou perderam a fala ou se refugiaram em grandes bunkers escondidos dos macacos, que a visão de um humano que fala é inicialmente chocante demais para os macacos. E é curiosíssimo ver Noa começando a entender isso tudo…

E começando a temer.

“O Planeta dos Macacos: O Reinado” é uma grande história sobre a briga por poder… de um lado, temos Proximus, um monarca ditador que está sequestrando clãs inteiros para “fazerem parte de seu reino” e que pretende colocar as mãos em tecnologia e armas da “era de ouro” da humanidade, porque sabe que isso lhe dará ainda mais poder; de outro, temos a humanidade representada por Mae, que está igualmente em busca de armas enterradas em bunkers antigos para reiniciar uma guerra e “voltar ao mundo ao que ele era antes”, incapaz de entender que isso é impossível. Ambos em lados opostos e ambos errados, cada um à sua maneira. E, no meio disso, a esperança representada por Noa, que só quer a liberdade do seu clã e dos demais, para que vivam em paz…

Quem sabe em paz com os humanos, também, como Caesar pregava.

Toda a sequência da invasão daquele silo é uma das sequências mais arrepiantes de “O Planeta dos Macacos: O Reinado”. Gosto muito da inteligência do impacto que é mostrar os macacos encontrando aquele livro humano no qual macacos são presos em gaiolas (!), e gosto muito de como a narrativa nos conduz da parceria temporária entre Noa e Mae enquanto eles têm um objetivo em comum à ruptura eventual quando Mae decide que ela já conseguiu o que veio buscar e ela não pode permitir que Proximus tenha acesso às coisas dentro daquele bunker… tudo é extremamente intenso e, quiçá, complexo demais para se avaliar: não sei se Mae tinha outra alternativa naquele momento, de verdade, mas também é impossível para Noa não se sentir traído.

Sequência fortíssima!

O filme é envolvente, impactante e curiosamente introdutório. É impossível não ter a sensação de que “O Planeta dos Macacos: A Guerra” encerrou uma trilogia magnífica no cinema para “O Planeta dos Macacos: O Reinado” dar início a uma outra, o que parece ser mesmo o plano. Somos apresentados a novos personagens fortes e com poder de liderança, bem como a uma realidade já distante da última vez em que estivemos aqui… portanto, com muito mais a ser explorado. Agora, os macacos são a maioria, os clãs estão espalhados por todo o mundo, cada um com suas convicções, mas os humanos ainda estão aí, sonhando com o retorno do mundo “ao que ele era antes”, e as ações de Mae dão a esses humanos uma esperança que talvez há muito tempo eles não tinham, e eles vão se unir e tentar se levantar.

Vem mais guerra à frente. E uma NOVA TRILOGIA acabou de começar!

 

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