Sítio do Picapau Amarelo (2007) – O Adorável Abominável: Parte 2

“Por que todo mundo é mau comigo?”

Que delícia é acompanhar a maneira como um livro como “Caçadas de Pedrinho” é revisto e reimaginado para se tornar uma história como “O Adorável Abominável”: percebemos as inspirações, a estrutura narrativa e, ainda assim, é uma história “nova” e atualizada, que tem tudo a ver com o “Sítio do Picapau Amarelo” de 2007. Sem o Quindim, essa história nos apresenta ao Fofim, um suposto extraterrestre que chegou ao Arraial dos Tucanos e ao Capoeirão dos Taquaruçus e que está se escondendo no Sítio de Dona Benta, com a ajuda de Emília, enquanto os agentes XB1 e XB2, da C.A.C.A., chegam à região em busca do “inimigo”, dispostos a “destruí-lo” se for necessário… quando, na verdade, o Fofim é um amor e é julgado por sua aparência.

A amizade da Emília e do Fofim é um dos destaques de “O Adorável Abominável”, mas isso não quer dizer que a bonequinha de pano interesseira não pise na bola – e até que bem rápido! Afinal de contas, ela só descobriu o Fofim no Capoeirão dos Taquaruçus porque estava atrás de “alguma novidade que pudesse interessar o Pedrinho”, já que ela queria que ele lhe desse aquele carrinho pelo qual ela se apaixonou… e eu acho que a Emília não faz por mal, sabe? É o seu jeitinho interesseiro e meio sem coração mesmo. Emília cuida do Fofim e invade a cozinha da Tia Nastácia em busca de comida para o seu “homem-dinossauro”, como ela o está chamando, mas também corre para conversar com o Pedrinho e o provocar com a sua grande “descoberta”.

Quando fica acordado entre Emília e Pedrinho que um homem-dinossauro seria muito mais valioso do que o carrinho e, portanto, Pedrinho estaria disposto a trocá-lo, Emília leva ele e Narizinho até a capela onde escondeu seu novo amigo, e eles se surpreendem ao conhecê-lo – “Minha nossa! Um homem-dinossauro de verdade!”. As crianças e o Visconde ficam encantados com o Fofim, e Emília está satisfeitíssima “fazendo negócio” com o Pedrinho para trocá-lo pelo carrinho, mas o Fofim acaba escutando essa negociação toda e não fica nada feliz com isso… afinal de contas, parece que a Emília não era sua amiga como ela estava dizendo. Furioso, Fofim grita dizendo que ele não tem dono e vai embora gritando, dizendo que não acredita em mais ninguém e que é sempre a mesma coisa.

Foi triste, sabe?

Emília realmente errou com ele!

E a Cuca acha tudo fascinante, porque essa é a sua oportunidade de se vingar da turminha do Sítio do Picapau Amarelo: “Eu vou transformar aquele monstro bonzinho em um monstro odioso e vingativo”. Depois do ocorrido, Narizinho e Visconde chamam a atenção do Pedrinho por tudo e dizem que o Fofim tem todo o direito de ficar triste (e tem mesmo), mas eu acho que a bronca devia ser muito mais direcionada à Emília, sabe? Foi ela quem se disse amiga do Fofim, o trouxe para o Sítio e depois o trocou como se ele fosse um objeto qualquer! Quando chega a vez da Dona Benta ficar sabendo de toda a história e dar o seu sermão, ela é dura com ambos, enquanto Emília faz de tudo para fugir daquele “perguntatório”, mas eventualmente ela se mostra realmente arrependida…

À sua maneira.

Narizinho diz que ela é uma desalmada e Emília acaba chorando – “Sou toda arrependimento ambulante. Pronto. Desculpa”. Mas é como Dona Benta diz: não é a eles que ela deve desculpas… a bonequinha até sabe, mas não sabe se o Fofim vai querer voltar a ser seu amigo um dia, mas como Dona Benta a aconselha a nunca desistir de um amigo, Emília parte de volta para o Capoeirão dos Taquaruçus para tentar encontrar o seu “homem-dinossauro”, e Pedrinho diz que vai junto, porque “ele também errou com o Fofim”. Assim, os dois terminam na mata a tempo de ver uma explosão causada pelos agentes da C.A.C.A. XB1 e XB2, e agora Emília está convencida de que o Fofim morreu… felizmente, o Fofim é muito mais forte do que uma simples explosão.

Mas Emília não sabe disso… Pedrinho a faz ir embora com ele antes que os agentes da C.A.C.A. também os ataquem, e Fofim fica para trás, se perguntando por que todo mundo é mau com ele, e aquele é um dos momentos mais tristes de “O Adorável Abominável”. Esse sentimento de pesar do pobre do Fofim, que é justamente o que a Cuca quer usar para transformá-lo em um “monstro em busca de vingança”. Assim como na história da Branca de Neve, a Cuca aparece para o Fofim fantasiada de velhinha para torná-lo vingativo e ruim, e embora ele diga que “não quer se vingar, só quer ficar sozinho”, a Cuca oferece para ele uma maçã envenenada… não para matá-lo nem nada, mas para despertar um sentimento destruidor de raiva e de vingança. E, então, ele vai atrás da Emília.

Como a Emília vai se safar dessa?!

 

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