4 Minutes – Episódio 6

Realidade? Linha do tempo original?

Com um gostinho de “Dark Matter” e de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, mas com menos complexidade… eu gosto bastante de “4 Minutes”, e estou curiosíssimo para a conclusão da série (apenas mais dois episódios pela frente!), mas eu custo a acreditar que tantas variações, grandes ou pequenas, resultariam em resultados similares o suficiente para que tantos momentos, sucessivamente, se encontrassem em ambas as “realidades” vividas (ou não) por Great: uma de como as coisas originalmente aconteceram, outra em que ele teve a chance de refazer pontos específicos em que foi um completo babaca. Na teoria do multiverso, é muito mais crível a separação de diferentes realidades em diferentes pontos, e essas duas seguem excessivamente próximas…

Mesmo quando mudanças grandes são feitas, como na morte/salvamento de Dome.

Pode não ser o foco da série, e eu sei que tem gente que vai se apegar a isso, mas não dá para negar que há ao menos alguma influência da ficção científica sobre “4 Minutes”: e um conceito importante dentro da proposta da série seria o do efeito borboleta. E eu não sinto que a série conseguiu brincar com e/ou se aproveitar disso para gerar uma boa narrativa… sinto que o roteiro preferiu trabalhar com o conceito de inevitabilidade, mas de uma maneira rasa que, eu preciso dizer: parece reduzir o impacto do que foi apresentado até aqui. As “mudanças” realizadas por Great ao ter a oportunidade de refazer quatro minutos aqui e ali não geram reverberações que produzam eventos completamente inéditos, e as linhas temporais não se distanciam…

Acho que a parte (não) romântica da série se saiu bem – e era essa dicotomia bem usada aqui que eu gostaria de ter visto mais espalhada pela narrativa e sendo refletida em eventos. Nessa realidade, na qual Great matou aquela mulher atropelada no túnel, como vimos no primeiro episódio, ele e Tyme se conhecem de uma maneira diferente… e toda a relação entre eles é construída sob outra perspectiva e, principalmente, sobre outra base: de sentimentos e interesses. Tyme se aproxima de Great sabendo quem ele é e com um propósito claro: ele quer usar o Great para acabar com a sua família. Não há, aqui, as interferências românticas que davam a impressão de que, de alguma maneira, Great e Tyme estavam, de fato, se conectando um com o outro

Inclusive, eu novamente preciso ressaltar a qualidade das cenas quentes de “4 Minutes”. Eu cheguei a comentar isso 2 episódios atrás, comparando as duas cenas de sexo apresentadas do Ton Kla naquele episódio entre si e com a de Great e Tyme. É interessante ter em mente aquela cena sensual e quase poética entre Great e Tyme, que era a representação de um “amor gostosinho”, aquele feito com sentimento, carinho, envolvimento, conexão… são os mesmos dois personagens aqui, os mesmos dois atores, mas em uma “versão diferente” de sua relação, e a cena de sexo é toda construída para que ecoe isso… é bonita e excitante como todas de “4 Minutes”, é verdade, mas é puramente carnal (ou de interesse). É prazeroso, e muito (!), mas não tem o quê de romance.

É curioso pensar que o Tyme que acompanhamos nesse episódio se parece muito mais com o Tyme que originalmente conhecemos no hospital – mais frio e distante – do que com o Tyme que conhecemos com a avó ou com o Great, quando ele se aproxima dele na outra realidade… digo “curioso” porque é muito fácil focar em Great e no ponto de vista dele, mas percebam o quanto o Tyme tampouco é o mesmo. Essa faceta que é 100% centrada em vingança esmorece um pouco na conexão sincera com Great, que não existe dessa vez: aqui, Tyme é capaz de qualquer coisa para atingir as pessoas que ele julga responsáveis pela morte de seus pais… divulgar o vídeo é um golpe baixo, mas aquele Tyme não construiu nada sincero com aquele Great.

Estão vendo o que eu quero dizer com efeito borboleta x inevitabilidade? Eu acho que “4 Minutes” soube usar o conceito do efeito borboleta muito bem ao construir a relação de Great e de Tyme de duas maneiras diferentes, mas a série “se perde” quando coloca todas as cenas “originais” em uma mesma linha do tempo, porque é reducionista: não importa se Great matou a mulher atropelada ou chamou a ambulância; não importa se ele deixou Tle matar o Dome ou se o salvou; não importa quem tirou a máscara de Tyme depois de ele atacar Korn; não importa se Great salvou a vida de Nan ou não… esses eventos levam um ao outro, em um ciclo, independentemente de como o Great tenha se portado em cada um deles. E esse pode ser um problema.

Há, no entanto, algo ainda a se pensar aí – e, sim, eu tenho noção de que minha review se torna paradoxal, mas foi justamente minha sensação ao assistir ao episódio. Todas as “mudanças” feitas por Great acabam não mudando muito a sua vida – a não ser pelo fato de ele ser mais babaca em uma realidade do que em outra –, mas as mudanças, reais ou não, são mudanças que salvam a vida de outras pessoas… esteve nas mãos de Great deixar a mulher do túnel, o Tle e a Nan morrer ou não. E, em um dos meus diálogos favoritos nesse episódio, Tyme diz algo que, quiçá, funciona mais à audiência do que ao próprio Great: ele traz à tona a ideia de “Great deixar pessoas morrerem por sua covardia”. E foi exatamente o que aconteceu em cada um dos eventos que Great mudou…

Ou quis mudar.

Onde está Great? Em qualquer uma das realidades, ele termina baleado… em uma delas, do lado de fora do prédio onde ele está conversando/discutindo com a mãe; em outra, no elevador, tentando voltar para casa. E sigo acreditando que o que acompanhamos anteriormente a partir dele é algo se passando dentro de sua mente durante os 4 minutos que o cérebro consegue sobreviver sem oxigênio. Esse episódio, mais do que nunca, dá a sensação de que o que foi mudado toda vez que Great voltava 4 minutos era uma projeção, um desejo imenso dele de ter agido diferente em momentos em que ele se arrepende do que fez. E não por bondade, mas por culpa. Foi bem pesado acompanhar esse Great, vê-lo fugir do atropelamento ou assistir em silêncio enquanto Dome ou Nan eram assassinados…

Mas sabe o que mais? Era essa a intenção do episódio, claramente. E esse é um dos elogios que eu quero fazer à série: ela se dispôs a apresentar um protagonista que não é apenas imperfeito, mas um completo babaca mesmo… um garoto rico, “rebelde” e cujas atitudes são responsáveis por (no mínimo) três mortes. Então é para simpatizarmos com ele? Eu não diria que sim. Ainda assim, Great também é um personagem “quebrado”, e várias cenas do episódio evidenciam isso: a risada dele sentado à mesa, a briga com o pai e a busca por Tyme mesmo depois do vídeo divulgado, tentando “mais uma noite” ou mesmo a maneira como ele decide tentar ajudar a resgatar Nan, mais para “descontar” na família do que porque ele de fato se importa com Nan ou com o Tyme…

Great NÃO é um personagem simples.

Mas falando em personagens que não são simples, temos o queridinho de “4 Minutes” que anda “sumido” nos últimos episódios, e para quem sentiu falta de Ton Kla, eu gostaria de lembrar duas coisas: 1) nós já vimos a história dele nessa realidade em que não houve mudanças, por isso sua ausência aqui, nesse episódio; e 2) é quase como se o Ton Kla “não existisse” na outra realidade, se ela for mesmo apenas uma projeção de Great sobre momentos em que ele gostaria de ter agido diferente, porque ela é algo “irreal” que gira em torno apenas do Great e de sua própria culpa… o caminho de Great e Ton Kla só chega a se cruzar de verdade nesse momento, no elevador, na conclusão desse episódio. E, por sinal, é preciso dizer: QUE GRANDE CENA, QUE BELO GANCHO!

Pode vir brilhar, Ton Kla!

 

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