Água Para Elefantes (Water for Elephants, 2011)
“You’re a
beautiful woman, you deserve a beautiful life. Nothing less”
Baseado no
livro homônimo de Sara Gruen, “Água Para
Elefantes” é um filme que chegou às telas de cinema em 2011, protagonizado
por Robert Pattinson e Reese Whiterspoon, sob a direção de Francis Lawrence.
Com um visual de tirar o fôlego e uma história dramática e tocante, o filme nos
conduz por um ano na vida de Jacob Jankowski, um estudante de medicina
veterinária prestes a se formar que perde tudo no momento em que seus pais
morrem e ele descobre que a casa pertence ao banco, por causa de dívidas não
pagas pelo pai, e então ele deixa tudo o que conhecia para trás e pula em um
trem em movimento, que o leva até uma vida no circo… ele não sabe dizer se foi
ele quem encontrou aquele trem ou se foi aquele
trem que o encontrou.
Algo de que
gosto muito no filme é o fato de ele ser uma história que está sendo contada
por uma versão muito mais velha de Jacob Jankowski, enquanto tenta conseguir um
emprego na bilheteria de um circo – uma história sobre algo que aconteceu em
1931, justamente o ano em que o circo dos Irmãos Benzini chegou ao fim… essa premissa escancara o fato de termos um narrador
não-confiável, o que funciona perfeitamente na ficção! No fim, não sabemos o
quanto dessa história contada por Jacob é verdade, o quanto ele pode ter
inventado deliberadamente ou o quanto ele se
convenceu de que é verdade ao longo dos anos… a morte de August, por
exemplo, foi exatamente como ele contou? Mas isso importa? Ou o que importa é a
história sendo contada?
Jacob
Jankowski – jovem, bonito e inteligente – quer um lugar no circo porque é sua
única esperança de seguir em frente…
e ele gosta e se importa com os animais, e convence August Rosenbluth, o dono
do circo, de que ele precisa de um
veterinário. “Água Para Elefantes”
é um espetáculo e uma jornada de autoconhecimento, de paixão, de amores, de
angústia, de frustração e de cuidado. Em meses no circo, Jacob Jankowski vive
intensamente ao fazer novas amizades, encontrar maneiras de sobreviver, se
apaixonar pela atração principal do Circo dos Irmãos Benzini (e esposa de
August) e cuidar de Rosie, uma elefanta encantadora que é comprada por August
para se tornar a nova atração do circo quando um cavalo doente precisa ser
sacrificado e substituído.
Eu acho que
Rosie é muito mais um símbolo em “Água
Para Elefantes” do que necessariamente real
– assim como o tigre em “As Aventuras de
Pi” – e um paralelo perfeito à Marlena. Tanto Rosie quanto Marlena são
lindas, imponentes, admiradas e “a atração principal do circo”, e a maneira
como Rosie é tratada por August e por Jacob é uma representação visual e direta
de como Marlena é tratada por ambos. August vê Rosie apenas como uma atração,
como uma maneira de fazer dinheiro, como uma propriedade sua, e quando ele a machuca e a deixa sangrando, por
exemplo, Jacob vai atrás dela com um balde de água para limpar seu sangue e
cuidar de seus ferimentos… assim como Jacob também está ali por Marlena para
cuidar dos ferimentos não-visíveis deixados por August.
Jacob é a
própria água que limpa e trata ferimentos.
Isso é
genial, e deixa tudo ainda mais belo e mais impactante no filme. Sinto que além
do romance como ele é apresentado, de forma mais direta, entre Jacob e Marlena,
ele também é construído através do cuidado que Jacob tem com Rosie, por amá-la,
respeitá-la e entendê-la como August não o faz… toda a crueldade crescente de
August contra Rosie ecoa na crueldade dele contra Marlena – velada durante toda
a vida, mas escancarada no momento em que ele percebe o carinho que existe
entre ela e Jacob… a loucura que toma conta de August contra Marlena e Jacob é
a mesma que tomara conta dele contra Rosie quando ela “perdeu o controle” no
espetáculo, e eu acho que esse entendimento muda drasticamente a maneira como
encaramos o fim do filme.
A tensão e o
drama são crescentes rumo ao clímax de “Água
Para Elefantes”, exatamente como deve ser. Todas as peças foram bem
colocadas para concluir essa história no grande clímax, que é o momento em que
um grande desastre acontece e o circo morre definitivamente. Toda a sequência
dos animais soltos é ótima, mas, depois de entender a Rosie como um símbolo e
uma representação de Marlena, e lembrando que temos um narrador não-confiável
contando a história, tudo em que eu consigo pensar é na morte de August e o que
ela representa: o fato de ele estar tentando matar Marlena e ela ser defendida
por Rosie me parece, agora, uma fantasia do que provavelmente realmente
aconteceu… que é a Marlena precisando se voltar contra August para salvar a
própria vida…
E matando o
August ela mesma.
Rosie é o
elemento narrativo mais INCRÍVEL dessa história, e abre a muita discussão!
De todo
modo, o filme me parece genial. Acho que o filme funciona muito bem de maneira
literal, e é uma boa história contada com um visual belíssimo que, para mim, é
um dos grandes destaques de “Água Para
Elefantes”. Mas o filme também funciona fora da literalidade, e eu acho que
ele se torna ainda muito mais rico a
partir do momento em que os símbolos são entendidos e percebemos que há muito
mais além do que é dito diretamente…
definitivamente, uma grande e emocionante história sobre duas pessoas que
estavam tentando pertencer a algum lugar e ter um lugar para chamar de “lar”.
Com toda a dor, todos os traumas e tudo o que foi superado, Jacob e Marlena
encontram uma maneira de realizar os seus sonhos, de enfim ser feliz.
Muito
bonito!
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