Doctor Who (Filme de 1996)

“I can’t make your dream come true forever, but I can make it come true today”

31 de dezembro de 1999… e o Doctor tem até a virada do milênio para fechar o Olho da Harmonia, salvar a Terra e impedir que o Mestre roube o seu corpo e, consequentemente, suas “vidas” restantes. Lançado em 1996, o filme de “Doctor Who” é uma tentativa de trazer de volta a série que foi cancelada em 1989 – de alguma maneira, com uma roupagem nova e novidades que foram eventualmente abandonadas (o fato de o Doctor “ser meio-humano”, por exemplo), mas de maneira alguma tentando se desvencilhar das 26 temporadas anteriores, tanto que temos referências aos montes, o retorno do Mestre, e Sylvester McCoy interpretando o Sétimo Doctor mais uma vez, até a sua regeneração. E esse é UM FILME MARAVILHOSO para todos os fãs da série!

Amo toda a introdução do filme, e como ele está disposto a fisgar os fãs que acompanharam a série até 1989. Temos uma TARDIS diferente daquela que o Sétimo Doctor usava, mas ele parece bastante aconchegado em sua poltrona, lendo “A Máquina do Tempo”, de H. G. Wells (!), e ouvindo um disco na vitrola… enquanto ele ruma a Gallifrey com uma missão: o Mestre usou a sua última vida, foi julgado por todos os seus crimes e ele quer que o Doctor leve seus restos mortais de Skaro de volta a Gallifrey – o Doctor toma algumas medidas de segurança, porque “não confia no Mestre mesmo em sua morte”, e ele estava certo em não confiar… parece que o Mestre tinha um plano desde o começo, e a sua fuga causa problema na TARDIS e um pouso de emergência.

No fim de dezembro de 1999, em São Francisco. O filme tem um tom um tanto diferente, e eu o associo demais à maneira de fazer ficção científica nos anos 1980 e 1990 – e, como eu já comentei várias vezes por aqui, eu amo essa estética. Há algo de exagerado, mas prazeroso, e toda a construção me parece fascinante… nos primeiros 20 minutos de filme, o Sétimo Doctor é desviado de sua missão, acaba sendo baleado quando a TARDIS pousa na frente de Chang Lee, e ele termina em um hospital, sendo operado por Grace Holloway, uma cirurgiã reconhecida, mas que não sabe lidar com o fato de que seu paciente tem dois corações. Então, em uma sequência que seria desesperadora se não fosse cômica, o Sétimo Doctor morre e é colocado no necrotério…

Onde ele se regenera.

Todo o processo de regeneração é algo fascinante em “Doctor Who”, e a sequência do filme é apresentada com raios em paralelo com cenas de “Frankenstein” que um funcionário está assistindo na TV, e então o Doctor “volta à vida”, como o Oitavo Doctor, agora interpretado por Paul McGann. Mais tarde, ele chega a comentar sobre como “passou mais tempo morto dessa vez”, porque a sedação quase atrapalhou o processo de regeneração… mas tudo está bem, por enquanto, desde que ele consiga sair do hospital, com a ajuda da própria Grace Holloway, antes que alguém o mate novamente – quer dizer, ele não é humano, os médicos não sabem o que fazer, e interpretam os seus batimentos cardíacos como um problema, porque não sabem que ele tem dois…

Gosto demais de acompanhar os primeiros minutos do Oitavo Doctor, enquanto ele ainda está tentando entender quem ele é, e pouco a pouco as memórias vão retornando a ele e as coisas vão fazendo sentido… ele escuta alguém falar de “tempo”, no hospital, e essa é uma palavra que traz algumas memórias de volta, e há algo de muito charmoso e envolvente na maneira como o Doctor vai assumindo sua nova personalidade, com toques de quem ele foi antes, porque é assim que a ideia de “Doctor Who” funciona – gosto muito do processo do Doctor assumindo um novo figurino também, por exemplo, ou de como ele segue apaixonado por jujubas e chega a soltar a clássica “Jelly baby, officer?”, que não falha em colocar um sorriso no meu rosto… cenas incríveis!

Podemos conhecer bastante do Oitavo Doctor, mesmo no que parece tão poucos minutos, em comparação aos demais… eu não sei dizer bem como funciona o fato de ele saber tão claramente sobre a vida de pessoas aleatórias que ele encontra pelo caminho, mas eu adoro ouvi-lo dando conselhos – e eu sinto que isso é algo que foi usado pelo 15º Doctor, em “The Church on Ruby Road”. E sem a TARDIS sair da Terra ou do fim de 1999, toda a questão de “todo o tempo e espaço” é trazido através de brincadeiras divertidas dos diálogos, com o Doctor fazendo comentários sobre como Leonardo da Vinci estava com gripe quando pintou um quadro que ele vê, ou que ele estava com Puccini quando Puccini morreu ou que ele conheceu Freud e Marie Curie…

Em paralelo, o Mestre está armando algo grandioso… ele assume temporariamente o corpo de um humano, Bruce, mas apenas o suficiente para colocar o seu plano em prática: e roubar o corpo do Doctor e suas regenerações e vidas restantes. Para isso, ele se aproxima de Chang Lee, o garoto que levou o Doctor para o hospital e que saiu de lá com os seus pertences depois da sua “morte”, e ele parece ser essencial no plano do Mestre, porque a TARDIS do Doctor parece gostar dele… e ele precisa de um humano para abrir o Olho da Harmonia no Salão do Claustro, em toda uma sequência que dá à TARDIS um papel importantíssimo no filme (gosto de quando coisas acontecem dentro da TARDIS), e, quiçá, uma energia mais sombria e mais perigosa para ela.

Quando o Olho da Harmonia é aberto, o Doctor sente que algo está para acontecer, e o filme entra em seu terceiro ato com muita ação – amo a sequência do Doctor pilotando perigosamente uma moto e a Grace o lembrando que, diferente dele, ela “só tem uma vida”. Grace até reluta em acreditar nas coisas que o Doctor está dizendo – Gallifrey, Senhor do Tempo rival, destruição da Terra –, mas coisas estranhas demais estão acontecendo para ela duvidar para sempre… e o Oitavo Doctor precisa da sua ajuda para conseguir um relógio atômico de berílio e impedir o plano do Mestre, que não coloca apenas a sua própria vida em perigo, mas todo o Planeta Terra, que vai ser consumido pelo Olho da Harmonia se ele não for fechado a tempo.

A ideia de ambientar o filme em 31 de dezembro de 1999 é MARAVILHOSA, porque nós, que vivemos essa época, sabemos o quanto os anos que antecederam a virada do milênio geraram burburinho e misticismo sobre o evento – e “Doctor Who” sempre gostou de brincar com eventos como esse e dar “explicações” que envolvem alienígenas… tudo de estranho que acontece na noite de 31 de dezembro tem a ver com o Mestre e o Olho da Harmonia. Não é perfeito?! O Mestre coloca uma roupa tradicional de Senhor do Tempo para o grande evento que é o roubo das vidas do Doctor, e a esperança de todo o planeta recai sobre dois humanos que talvez nem entendam completamente tudo o que está acontecendo: Chang Lee e Grace Holloway.

Grace é considerada uma companion do Doctor, muito embora sua estadia na TARDIS tenha sido curtíssima… mas ela sabe o que fazer, porque o Doctor já tentara fazer antes, e então ela coloca a nave para funcionar, os levando de volta para o passado, revertendo os últimos acontecimentos – que é mais ou menos o que o Doctor faz, também, salvando Lee e Grace da morte pouco. Por ora, o mundo está livre do Mestre, digerido pela TARDIS, mas todos sabemos que ele não vai ficar desaparecido para sempre… de todo modo, o Doctor está de volta em trânsito, não necessariamente para Gallifrey, enquanto Lee e Grace seguem com suas vidas. Uma pena esse Doctor nunca ter tido sua própria série de TV – mas ele tem muitas aventuras no universo expandido!

Um filme delicioso de se assistir! Um marco em “Doctor Who”.

 

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