Harry Potter e a Ordem da Fênix (2003)
Profecia.
Lançado em
2003, “A Ordem da Fênix” é o quinto
livro da história de “Harry Potter”,
e acredito que o mais pesado, sombrio e melancólico de toda a saga – também
pudera, Lord Voldemort acabou de retornar, e embora Harry Potter e Albus
Dumbledore estejam avisando sobre o seu retorno desde que Harry deixara o
labirinto na final do Torneio Tribruxo, o Ministério da Magia e o Profeta
Diário estão fazendo de tudo para desacreditá-los, porque é muito mais fácil
acreditar que tudo é uma mentira do que enfrentar, de fato, o terror à frente
se o que Harry está dizendo for verdade. Acredito que esse é um livro muito
mais sério, denso e político do que estávamos habituados na série até então, o
que pode vir como um choque para
leitores em um primeiro momento.
Fazia muito tempo que eu não lia “Harry Potter e a Ordem da Fênix”, e em
parte eu sinto que fui injusto com ele
durante muitos anos… sempre o vi como o meu menos favorito da saga e, nesse
momento, eu só consigo pensar na GRANDIOSIDADE desse livro, no quanto ele é
importante para a riqueza da história e para o desenvolvimento dos personagens,
e como foi uma experiência intensa
lê-lo novamente. Uma experiência cheia de raiva, frustração e tristeza, é
verdade, mais ou menos como o quinto ano de Harry em Hogwarts, mas não dá para
dizer que o livro não nos faz sentir
coisas. Não sou de fazer ranking,
então não sei onde o livro se encaixa agora para mim – em algum lugar abaixo de
“Enigma do Príncipe” e “Cálice de Foto”, mas não é mais o
último da lista.
Definitivamente.
É um livro
muito humano, muito sincero… se Harry nunca fora inteiramente feliz e sempre
enfrentara problemas que eram grandes demais para a sua pouca idade e
experiência, “Ordem da Fênix” é um
verdadeiro soco no estômago. É um
livro que inevitavelmente vai gerar desconforto, revolta e frustração, porque é
isso o que o livro quer: ele quer nos colocar no lugar do próprio Harry, que
está tendo o seu pior ano. Ele é atacado por dementadores, atormentado por
sonhos com o cemitério, o retorno de Voldemort e a morte de Cedrico, isolado da
comunidade bruxa sem saber o que está acontecendo, ignorado por Dumbledore,
quase expulso da escola e nem mesmo o retorno à Escola de Magia e Bruxaria de
Hogwarts alivia todo o seu sofrimento, porque é o pior ano que ele já teve…
A construção
é feita desde as primeiras páginas, e eu acho que “Harry Potter e a Ordem da Fênix” tem uma das melhores introduções de toda a saga: o Harry sozinho na casa dos Dursley,
sem qualquer notícia além de cartas vagas dos amigos que não contam nada, e os
seus nervos estão à flor da pele, porque ele está traumatizado, angustiado,
afastado e no auge dos seus 15 anos, idade na qual tudo parece muito mais intenso… além da presença
constante de Voldemort na sua cicatriz que dói mais do que nunca agora que ele
retornou. Harry está irritadiço, sempre a ponto de explodir, e o vemos
responder os Dursley, por exemplo, ou destruir os presentes que Ron e Hermione
enviaram, ou provocar o Duda e a gangue dele… me surpreende que ele tenha
conseguido conjurar um Patrono contra os dementadores em Little Whinging.
Mas ele
conseguiu… e isso quase lhe causa uma expulsão.
A quase
expulsão de Harry resulta em uma das minhas sequências favoritas no livro, que
é o momento em que parece que “os dois mundos” de Harry estão colidindo. Os
Dursley estão preparados para acusá-lo do que quer que tenha acontecido com
Duda, embora o Harry o tenha salvado ao conjurar um Patrono e espantar os
dementadores, mas as coisas acabam mudando
depressa com um monte de eventos inesperados que deixam o Harry surpreso –
e a nós também, como o fato de Petúnia saber o que são dementadores e o que é
“Azkaban”. Além disso, ela recebe um berrador misterioso que a faz mudar de ideia e interceder por Harry quando o
Tio Válter está pronto para expulsar o Harry da Rua dos Alfeneiros, 4. Tudo é
surpreendente e delicioso.
Toda a
atitude de Cornelius Fudge à frente do Ministério da Magia durante esse quinto
livro é vergonhosa: ele está tão apavorado com a possibilidade de perder o
cargo que ele escolhe chamar Harry Potter de mentiroso e acusar Dumbledore de
“estar tentando roubar a sua posição”. Então, Harry, Dumbledore e qualquer um
que esteja do lado deles enfrentam uma verdadeira perseguição do Ministério, que conta com a quase expulsão de Harry,
embora exista uma exceção na lei que proíbe menores de usar magia fora da
escola em caso de risco de vida… mas
Fudge expulsaria Harry sem pensar duas vezes se não fosse pela ajuda de Dumbledore,
o depoimento da Sra. Figgs e algumas pessoas que participam do julgamento e
compram a sua história.
Se o
Ministério da Magia não reconhece o retorno de Voldemort, e O Profeta Diário
abafa toda história importante enquanto ridiculariza Harry e Dumbledore, cabe
aos poucos que acreditam e sabem do perigo fazer
alguma coisa – e é assim que a Ordem da Fênix, um grupo que lutou contra
Voldemort da primeira vez, se reúne novamente, tendo o Largo Grimmauld 12, a
antiga casa dos Black, como quartel-general. E é assim que reencontramos
personagens que já habitaram essas histórias anteriormente: Sirius Black, o
padrinho de Harry; Remus Lupin, o professor de Defesa Contra as Artes das
Trevas do terceiro ano de Harry em Hogwarts; Alastor Moody, o importante Auror
aposentado; e personagens novos como Tonks, Shacklebolt e Mundungus.
E, falando
sobre o Largo Grimmauld, 12, eu amo a quantidade de detalhes que habitam aquela casa quando o Harry vai passar uns dias
lá até a sua audiência no Ministério e ele e os demais precisam ajudar a Sra.
Weasley e o Sirius a “limpar” a casa. Temos a árvore genealógica que liga
Sirius a Tonks, apresenta Narcissa, Bellatrix e menciona Regulus, por exemplo,
ou o fato de o Monstro estar tentando pegar coisas escondido antes de serem
jogadas fora, dentre elas “um medalhão que ninguém consegue abrir” (!). Também
temos as reações de Harry gritando com Ron e Hermione quando os vê pela
primeira vez, deixando toda sua frustração sair para cima deles, ou a traição
de Percy, que se tornou uma marionete do Ministério da Magia e está contra a
família…
Gosto muito
de como o universo de “Harry Potter”
vai se expandindo gradualmente. Se tivemos “Pedra
Filosofal” e “Câmara Secreta”
bastante centrados na escola em si, apresentando um pouco da história e das
regras desse mundo, “Prisioneiro de
Azkaban” trouxe Hogsmeade e o conceito da prisão bruxa, enquanto “Cálice de Fogo” trouxera outras escolas
e a Copa Mundial de Quadribol. “Ordem da
Fênix” apresenta dois elementos que eu acho fascinantes e que nos ajudam a visualizar melhor o Mundo Bruxo: o
Ministério da Magia e o Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos. E
isso combina muito com toda a pressão em cima dos N.O.M.s. em Hogwarts e,
consequentemente, o fato de os alunos terem que começar a pensar nas carreiras
que pretendem seguir.
Deixando de
lado toda a raiva que Cornelius Fudge nos faz passar nesse livro, conhecer toda
a estrutura do Ministério da Magia é uma das passagens mais fascinantes para mim durante a leitura. É aquele momento que
nos permite visualizar um pouco do
que o futuro reserva para bruxos adultos, depois de Hogwarts… e são tantas
possibilidades legais! Focamos muito no Departamento de Mistérios, que é o
lugar que Harry “visita” em seus sonhos e onde o clímax do livro acontecerá,
mas a verdade é que eu sinto que poderia passar horas explorando cada um
daqueles andares anunciados no elevador enquanto Harry e o Sr. Weasley estão
descendo para a fatídica audiência. Tem tanta coisa a se conhecer naqueles
corredores e naquelas salas, não tem?
Mas acho que
o livro é principalmente sobre emoção, sobre sentimento… toda aquela passagem
da Sra. Weasley vendo um bicho-papão que assume a forma do cadáver de
diferentes membros de sua família é profundamente dolorosa, por exemplo. E eu
acho muito impactante e muito
realista toda a reação de Harry quando as cartas de Hogwarts chegam ao Largo
Grimmauld e eles descobrem que Ron e Hermione foram nomeados monitores, mas ele
não. Existe um quê de incompreensão e, talvez, inveja que ele mesmo
eventualmente percebe, mas é uma resposta tão natural, tão humana e tão adolescente à novidade, sabe? Toda a
progressão dos pensamentos e sentimentos de Harry fazem todo o sentido, embora
não sejam necessariamente certos.
E talvez
seja importante que Ron e Hermione se tornem monitores… é assim que Harry acaba
em um compartimento com Neville, Gina e Luna Lovegood (!) no Expresso de
Hogwarts, iniciando um ano peculiar – e infernal – na Escola de Magia e Bruxaria.
As novidades o recebem desde o primeiro
momento, quando ele vê cavalos alados sinistros puxando as carruagens que
até então pareciam andar sozinhas
(amo o conceito dos testrálios!), ou quando o Chapéu Seletor fala sobre perigos e dá conselhos em sua nova
música e, é claro, quando Dumbledore é, pela primeira vez na história,
interrompido em seu discurso por Dolores Umbridge, e Hermione entende o que
isso quer dizer: que o Ministério está
interferindo em Hogwarts. Por fim, os olhares e comentários porque muita gente não acredita nele…
É um ano
terrível!
Mas nada
supera o que Dolores Umbridge representa – e eu costumo me abster, ao falar
sobre o livro, de mencionar muito os filmes, mas eu preciso dizer que o filme
de “Harry Potter e a Ordem da Fênix”
não faz jus a quem é Dolores Umbridge: ela é muito mais do que chata ou
inconveniente… ela é realmente perversa,
invasiva, preconceituosa, e eu me peguei sentindo ÓDIO toda vez que ela
aparecia em cena… é perturbador ler tudo o que ela fala, faz e representa em “A Ordem da Fênix”. Acredito que grande parte do sofrimento imposto sobre Harry e os
demais nesse quinto ano em Hogwarts é graças a Umbridge, e nem estou dizendo
isso por causa das intermináveis detenções nas quais ela faz o Harry escrever
com o próprio sangue e deixa uma cicatriz em sua mão…
Isso é
físico. O ataque psicológico de
Umbridge é muito pior.
Pequenas
vitórias são conquistadas a cada desafio feito pelos alunos a Umbridge, no
entanto (ou quando McGonagall fica sabendo que Harry gritou com Umbridge na
aula e manda ele “comer um biscoito”). Eu amo ver a Hermione abertamente
desafiando Umbridge durante as aulas ou sendo a líder de uma ideia revolucionária: já que Umbridge não está
disposta a ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas de verdade para eles (as
aulas são apenas teóricas e envolvem leituras, mas não varinhas, porque o
Ministro teme que Dumbledore esteja recrutando gente para um exército para
derrubá-lo ou qualquer coisa assim), Hermione sugere que o Harry faça isso… afinal de contas, ele tem mais experiência nisso
do que qualquer um deles, e eles precisam
aprender.
Não tem como
passar um ano inteiro parado!
É assim que
nasce uma outra organização secreta, essa formada por alunos em Hogwarts: A
ARMADA DE DUMBLEDORE. Hermione se responsabiliza de quase tudo, a não ser as
aulas: ela fala com as pessoas, ela marca uma reunião no Cabeça de Javali, ela
que faz todos assinarem uma lista na qual ela secretamente colocou um feitiço…
e tem um quê quase inesperado de
rebeldia que eu adoro, mas é muito mais do que isso: é consciência, é política!
E para provar o quanto está falando sério e para fazer Harry embarcar nessa com
ela, ela ainda se esforça para dizer
o nome de Voldemort, o que é lindo – e me arranca risadas porque toda vez que
Hermione diz o nome de Voldemort, ela também precisa chamar a atenção do Ron
por causa da reação dele!
A Armada de
Dumbledore acaba se tornando a única
coisa boa de Harry em Hogwarts naquele ano… Umbridge, agora Alta
Inquisidora, está fazendo o que bem entende na escola; as aulas são todas
infernais sendo observadas por ela; e Harry ainda é banido do Quadribol e tem a
sua Firebolt confiscada por uma briga no campo depois de uma partida contra a
Sonserina na qual eles ficaram cantando aquela musiquinha irritante (irritante
pelo teor, mas eu vou dizer que li o livro acompanhado da narração do Jim Dale,
e estava incrível!), passando por cima de uma decisão de McGonagall, que estava
disposta a encerrar o caso com uma detenção. Confesso que ler esse capítulo foi
profundamente angustiante (passei
muita raiva!), e minha sensação era de que tudo
só dava errado para o Harry.
Por isso que
ver o Harry razoavelmente bem nas aulas da AD (possíveis com uma ajudinha de
Dobby, que os apresenta à Sala Precisa) é tão bom, e ele começa as suas aulas
ensinando o seu clássico: “Expelliarmus!”.
Gosto muito de como as aulas evoluem, de como o Harry se preocupa em ajudar
todo mundo e consegue ver o avanço deles, e como ele vai criando laços… durante
uma parte muito grande de “A Ordem da
Fênix” Harry está se sentindo ou se obrigando a ficar sozinho, então é bom
vê-lo rodeado de gente. E, é claro, também tem todo o romance de Harry com Cho,
mas essa não é das melhores partes do
livro: é mais aquela coisa do crush,
do amor platônico, e nenhum dos dois sabe muito bem o que fazer quando algo acontece
entre eles… é um desastre que só.
Harry estava
mais feliz apaixonado por Cho do que
de fato namorando ela.
Mas enfim.
Grande parte
de “Harry Potter e a Ordem da Fênix”
é sobre como o Harry está vulnerável
ao Voldemort agora que ele retornou… os sonhos com o Departamento de Mistérios
e a dor constante na cicatriz são a prova disso. O ataque ao Sr. Weasley no
Ministério da Magia é, a meu ver, uma das passagens mais fortes de toda a saga, e é angustiante de se ler, porque é
como se fosse um “sonho” do Harry, mas, no sonho, Harry é a Nagini e é como se ele estivesse atacando o Sr. Weasley…
ele não está apenas assistindo, ele
está atacando e está sentindo o que Nagini ou o próprio
Voldemort estão sentindo naquele ataque. E isso é apavorante. Ele desperta
atordoado, a cena no escritório do Dumbledore é igualmente alarmante, a ênfase
no fato de o diretor não olhar para ele,
a vontade irracional que Harry sente de atacá-lo…
Como se ele ainda fosse a cobra.
Harry se
sente culpado pelo ataque ao Sr.
Weasley, embora a Sra. Weasley o agradeça porque, se não fosse por ele, ninguém
teria o encontrado tão cedo e talvez ele não tivesse sobrevivido, mas Harry se
recusa a voltar a dormir naquela noite, porque ele tem medo de “virar” a cobra
novamente e atacar o Ron, dormindo ao seu lado, ou outra pessoa… e isso resulta
em uma das passagens mais sombrias do
livro, quando o Harry se fecha, atormentado pelo medo, pela culpa, pela
angústia – e tudo piora consideravelmente quando ele escuta uma conversa de
Molly, Arthur, Tonks e Moody na qual eles falam sobre “o Voldemort estar possuindo o Harry”. É de fato assustador
demais para ele, e ele pensa em fugir, desaparecer, mas Dumbledore o manda ficar onde ele está.
Só Hermione
consegue tirá-lo do quarto depois de um tempo dele se escondendo de todo mundo.
O ataque ao
Sr. Weasley é o que nos permite conhecer o Hospital St. Mungus para Doenças e
Acidentes Mágicos, e ele exerce sobre mim o mesmo fascínio que o Ministério da
Magia exercera antes: todas as alas repletas de possibilidades! A visita ao Sr.
Weasley também traz de volta o Lockhart, que ainda não se recuperou do feitiço
de memória lá na Câmara Secreta, e uma sequência fortíssima com os Longbottom…
Harry e os demais encontram Neville e a avó visitando os pais dele: os pais de
Neville, membros da Ordem da Fênix original, enfrentaram Voldemort e foram
torturados com a Maldição Cruciatus por Comensais da Morte até que eles perdessem
completamente o juízo… agora estão ali, em estado vegetativo, enfrentando um
destino pior que a morte.
O Neville em
silêncio, as expressões dele.
ISSO É TÃO
IMPORTANTE E ENRIQUECE TANTO O PERSONAGEM!
Com toda a
conexão entre Harry e Voldemort saindo de controle, e o Harry descobrindo que
Voldemort o está possuindo (!), Dumbledore decide que Harry precisa fazer aulas
de Oclumência com Snape, para aprender a proteger a sua mente – Harry não gosta
nada disso, mas ele entende o motivo. Ainda assim, ele é bastante negligente com as aulas e com os
treinamentos que devia estar fazendo sozinho, e parece que ele piora depois de começar as aulas, se
tornando mais vulnerável a sonhos com
o corredor que leva ao Departamento de Mistérios no Ministério da Magia ou aos
humores de Lord Voldemort, como quando ele ri compulsivamente no dormitório,
ecoando a risada distante do próprio Voldemort, sabendo que “ele está mais
feliz do que esteve nos últimos 14 anos”.
E logo ele
descobre o porquê: a fuga em massa de
Azkaban.
Muitos
Comensais da Morte à solta!
As terríveis
aulas de Oclumência acabam rendendo um dos momentos mais memoráveis e surpreendentes de “Harry Potter e a Ordem da Fênix”. No início de cada aula, Snape
retira memórias que ele não quer que o Harry acesse por acidente enquanto tenta
se proteger e as deposita em uma Penseira, e quando um imprevisto acontece, uma
aula de Oclumência é cancelada e Harry se vê sozinho no escritório de Snape com
a Penseira, ele não consegue segurar a curiosidade… e é mais um evento
frustrante e de sofrimento para Harry adicionar à longa lista dos
acontecimentos terríveis daquele ano: Harry tem a oportunidade de ver o pai e
os outros Marotos em sua época de escola,
e aquela memória de Snape faz com que ele questione tudo o que ele sempre
acreditou sobre o pai.
O capítulo
da memória de Snape é fortíssimo, causa revolta e, de alguma maneira, é um dos
meus favoritos no livro todo! É impactante ver um pedaço da adolescência de
James, Sirius e Lupin, e perceber que que James era arrogante, maldoso e um bullie. Quase quero dizer que o James
era para o Snape o que o Draco é para o Harry, mas sabe? O JAMES ERA MUITO
PIOR. Sentimos nojo de James Potter
em cada segundo de interação com Snape, cada provocação, cada xingamento, cada
humilhação… e, assustado, Harry se coloca
no lugar do Snape, talvez o entendendo pela primeira vez – percebendo que,
a julgar pelo que ele acabou de ver, James era mesmo tão arrogante quanto Snape sempre lhe dissera, e ele sempre tentou
se convencer de que era mentira.
Mas não era.
A imagem que
Harry sempre tivera do pai, algo a que ele sempre se agarrara, acaba
questionada.
Gosto de
como o “alívio” para todos os momentos pesados de “Harry Potter e a Ordem da Fênix” vem discretamente em pequenos
momentos, como quando Hermione organiza uma reunião com Rita Skeeter, porque
ela tem uma proposta a fazer: uma entrevista dela com Harry, contando tudo o
que aconteceu na final do Torneio Tribruxo, que será publicado n’O Pasquim, a
revista do pai de Luna. Depois da publicação dessa entrevista, Harry recebe uma
série de cartas, e a raiva de Umbridge faz com que ela proíba O Pasquim de circular pela escola, mas é como Hermione
dissera: essa é a melhor coisa que ela
podia fazer, porque, com a proibição, Umbridge garantiu que TODA A ESCOLA fosse
querer ler. E, agora, mais pessoas acreditam em Harry…
Seamus, por
exemplo. Finalmente.
Com o
Ministério interferindo cada vez mais
em Hogwarts, Umbridge consegue a demissão da Professora Trelawney, enquanto
tenta conseguir também a de Hagrid, e é quando o Dumbledore impede Umbridge de expulsar Trelawney do castelo, porque
“essa decisão ainda cabe ao diretor”, que Umbridge decide, de uma vez por
todas, pegar o cargo dele… tudo começa com a Marietta, uma amiga de Cho,
dedurando as reuniões da AD para Umbridge, e até Cornelius Fudge aparece
pessoalmente na escola para expulsar o Harry (o que ele tem tentado fazer desde
o início do livro), mas o Dumbledore consegue reverter tudo com o fato de que o
nome da organização é “Armada de Dumbledore”… Fudge adoraria mandá-lo para
Azkaban por “traição”, mas Dumbledore não pretende se deixar prender.
E ele faz
uma fuga ESPETACULAR.
O problema,
é claro, é que Dolores Umbridge assume a diretoria de Hogwarts a partir daí, e
se tudo estava terrível até então, só
tende a piorar… Draco Malfoy e uma série de outros sonserinos ganham poderes
absurdos pela Alta Inquisidora/Diretora, e Umbridge chega a interrogar Harry
oferecendo Veritasserum para ele, para tentar arrancar dele a informação de
onde está Albus Dumbledore ou Sirius Black. Curiosamente, no entanto, alguns
dos melhores momentos acontecem
depois de Umbridge assumir a direção, como a vitória da Grifinória graças ao
Ron sendo INCRÍVEL como goleiro e a Grifinória mudando a letra de “Weasley é Nosso Rei” (EU AMO ESSA
PARTE!) ou a “vingança” de Fred e George Weasley, que têm planos que vão além
da escola…
Fred e
George passaram o ano inteiro, seu
último ano em Hogwarts, desenvolvendo e testando novos produtos para a loja de
brincadeiras que pretendem abrir no Beco Diagonal com o dinheiro do Torneio
Tribruxo que o Harry dera para eles no fim de “O Cálice de Fogo”, e com a saída de Dumbledore, eles sentem que
não devem mais nada à escola… E ARRASAM! Eu amo a maneira como eles deixam a Umbridge louca com fogos
de artifício infinitos zanzando pela escola o dia inteiro ou um pântano em um
corredor, e é muito bom como alguns professores, como a McGonagall e o
Flitwick, poderiam ajudar, mas não o fazem, para perturbar a Umbridge mesmo, e
rola até um pouquinho de deboche, o que eu acho SIMPLESMENTE MARAVILHOSO, sabe?
A saída de
Fred e George é ESPETACULAR, daquelas que ficarão para sempre marcadas na
história de Hogwarts: eles são aplaudidos por toda a escola, admirados, e ainda
ganham um monte de clientes em potencial para a loja que em breve estará
funcionando… e, depois de sua partida, a escola vira um verdadeiro caos, porque
um monte de aluno parece querer “assumir” a posição de “encrenqueiros da
escola” agora que Fred e George foi embora, e eles abriram as portas para esse
tormento que Dolores Umbridge bem merece, então é hilário. Amo todas as novas
confusões, amo o fato de eles usarem os doces dos Weasley para terem sintomas
como vômitos ou narizes sangrando para sair da aula de Defesa Contra as Artes
das Trevas e tudo o mais!
Harry, Ron,
Hermione e todos os seus companheiros do quinto ano, no entanto, não podem
simplesmente abandonar a carreira
acadêmica – e eles têm os famigerados N.O.M.s à frente (amo que o nome em
inglês seja O.W.L.s), que são provas importantíssimas a partir do qual o seu
futuro na escola e depois dela serão decididos. E para as quais eles estudam e se preparam exaustivamente. Gosto
muito do capítulo sobre os N.O.M.s, de como o livro traz detalhes sobre as provas, teóricas e práticas, e o método de
avaliação, e de como o Harry se sai bem em Defesa Contra as Artes das Trevas,
por exemplo. O capítulo ainda traz o Hagrid sendo mandado embora na calada da
noite, durante um exame prático de Astronomia, e a McGonagall sendo atacada
covardemente.
E é durante
a última prova dos N.O.M.s que Harry cai no sono sobre a mesa, tem mais um
sonho com o Departamento de Mistérios e o clímax de “Harry Potter e a Ordem da Fênix” começa. Harry vê o Voldemort
torturando Sirius Black em uma sala do Departamento de Mistérios, e ele decide
imediatamente que precisa ir para lá e ajudar o Sirius… é muito curioso que é o descuido e a
irresponsabilidade de Harry que, de certa maneira, resulta nos acontecimentos
terríveis do fim do livro: Harry poderia ter checado o presente que Sirius deu
para ele na última vez em que esteve no Largo Grimmauld; Harry poderia ter
levado mais a sério as suas aulas de Oclumência, já que Dumbledore lhe
garantira que elas eram de suma importância; e Harry poderia ter escutado
Hermione.
Ao saber do
que Harry vira, Hermione é a única que age com a razão, e percebe que pode haver algo de errado, que o Voldemort
pode estar tentando enganar o Harry: afinal, ainda são cinco horas da tarde, o
Ministério da Magia está cheio de gente
a essa hora, Aurors, inclusive, e Voldemort e Sirius são os dois bruxos mais procurados do mundo no momento… como eles
teriam entrado lá sem ser detectados?! Harry tem mesmo certeza de que a sua
visão é real?! Ela fala sobre como o Dumbledore e o Sirius insistiram na
importância de Harry aprender Oclumência para não ter mais sonhos como aquele, então nem era para ele estar vendo
isso… e o Voldemort já usou a Gina antes para atraí-lo para dentro da Câmara
Secreta no segundo ano… e se ele estiver fazendo algo assim novamente?
Mas a
verdade é que Harry não quer ouvir nada disso – ele acredita que Sirius está em
perigo e, se ele não consegue avisar ninguém da Ordem da Fênix sobre isso, ele
vai pessoalmente ao Ministério da Magia. Tudo o que Hermione consegue convencer
Harry a fazer é tentar falar com o Sirius antes… através da lareira no escritório de Dolores Umbridge. Quando eles
são flagrados ali, no entanto, eles precisam improvisar. Eles mentem que estavam tentando contatar o Dumbledore,
Harry manda uma mensagem codificada para Snape, que é a sua última esperança, e
Hermione inventa uma história convincente sobre como Dumbledore estava
“construindo uma arma que está escondida na Floresta Proibida”, e ela consegue
manipular a Umbridge e entregá-la aos centauros…
Inclusive, que prazer ver a Umbridge sendo
levada para bem longe.
Catártico.
O clímax de “A Ordem da Fênix” é ELETRIZANTE. Eu
acho que talvez ainda não se equipare ao de “O
Cálice de Fogo”, com o retorno de Lord Voldemort e tudo o mais, mas
certamente é frenético! Harry parte para o Ministério da Magia acompanhado não
apenas de Ron e de Hermione, mas também de Gina, Luna e Neville – ele até tenta
impedi-los de ir, mas eles tanto mostram para ele que ele não está sozinho quanto que a
Armada de Dumbledore foi criada por um motivo. Era sobre isso, não era?
Sobre enfrentar o Voldemort? Gosto muito de toda a construção do voo nos
testrálios (só imagino o quanto deve ser apavorante
para aqueles que não podem ver os testrálios
porque nunca presenciaram a morte) e da chegada ao Ministério vazio até o
Departamento de Mistérios…
Conhecemos,
aqui, novas salas do Departamento de Mistérios, a partir de uma sala circular
escura, iluminada por fogo azul, cujas portas na parede ao redor giram depois que cada uma é aberta e
fechada novamente – isso cria suspense, aumenta a tensão e o sentimento de
urgência, e ainda apresenta elementos a serem explorados mais tarde, como a
sala do tempo, dos cérebros e do véu.
Mas é à Sala das Profecias que Harry está rumando… ao corredor 97, onde
supostamente Sirius está sendo torturado por Voldemort – mas que está vazio, como Hermione temeu que estivesse
e tentara alertar Harry. E, então, Harry vê uma profecia com o seu nome, e faz o que Voldemort esperava que ele fizesse, o
motivo de tê-lo atraído até aquele lugar: ele
pega a Profecia.
É aí que o
pandemônio explode. Os Comensais da Morte aparecem em peso, e uma perseguição
através do Departamento de Mistérios se inicia, e não tem outra maneira de descrevê-la
a não ser FRENÉTICA. É muito perigo constante, muito chão a cobrir, muitos
elementos novos, e ler àquelas páginas é eletrizante. E o perigo é palpável:
todos estão arriscando a sua vida ali. Hermione é atingida e nocauteada, por
exemplo; Ron é atingido por algo que o deixa abobalhado, rindo feito um idiota,
até ele ser atacado pelos cérebros do tanque; Gina quebra o tornozelo; Neville
está com o nariz sangrando compulsivamente e acaba sendo vítima da Maldição
Cruciatus de Bellatrix, a mesma maldição que enterrou seus pais no Hospital St.
Mungus…
E, no meio
disso tudo, Harry tenta proteger a Profecia e tirar todos em segurança do
Ministério da Magia, porque ele sabe,
no fundo, que é por sua culpa que eles estão ali: se ele tivesse escutado a
Hermione, eles nunca teriam ido… e parece um motivo de alívio a chegada da
Ordem da Fênix e de Dumbledore, mas acaba sendo um dos momentos mais
traumáticos de toda a vida de Harry, quando ele vê seu padrinho, Sirius Black,
morrer na sua frente, através do misterioso véu na Sala da Morte. A negação de
Harry, a revolta, o ódio que o faz tentar usar a Cruciatus ele mesmo contra
Bellatrix… Harry atordoado assistindo ao duelo elaborado de Dumbledore versus Voldemort… a chegada de Cornelius
Fudge, enfim percebendo que Voldemort
realmente retornou…
UAU! ESSE CLÍMAX É DE TIRAR O FÔLEGO!
Eu amo toda
a construção de “Harry Potter e a Ordem
da Fênix”, e como ela faz SENTIDO. O ano de Harry foi uma crescente de
frustrações e revoltas, e a morte de Sirius Black é a gota d’água. Enquanto
Dumbledore confere 30 minutos do seu tempo a Fudge no Ministério da Magia
depois da fuga de Voldemort, Harry se vê sozinho no escritório do diretor, e
vemos explodir dele todos os sentimentos negativos que ele vem guardando: toda
a frustração, toda a raiva, toda a culpa…
aquilo o sobrecarrega, o sufoca, e ele não é capaz de processar tudo. De processar a própria culpa ou a raiva que está
sentindo do mundo e de Dumbledore. É fortíssima a maneira como Dumbledore se
mantém aparentemente calmo, tentando falar com Harry, enquanto Harry quebra
coisas de seu escritório…
A conversa
de Harry e Dumbledore no escritório parcialmente destruído é um capítulo cheio de explicações, de maneira bem
didática, mas é um dos meus FAVORITOS na saga toda. Muita coisa vem à tona ali,
muita coisa é explicada. Dumbledore
explica por que agiu como agiu o ano todo, mantendo-se tão afastado de Harry
quanto era possível, explica o que no fundo ele sabia que o Voldemort podia
tentar fazer, mas escolheu não dizer nada, e explica até mesmo por que ele
precisava morar com os Dursley até completar 11 anos, e por que precisa
retornar para a Rua dos Alfeneiros todo verão, e tem a ver com um poder que o
Voldemort não entende e nunca entenderá: o
amor. O amor e o sacrifício de Lily ainda corre nas veias de Potter, e
Dumbledore garantiu que Voldemort não poderia atacá-lo enquanto ele estivesse
na casa de Petúnia…
A irmã de Lily. O mesmo sangue.
A “mesma” proteção, de alguma maneira. E
ela sabe disso.
O capítulo
também traz a integridade da Profecia que se partiu durante toda a confusão no
Departamento de Mistérios: uma profecia que foi originalmente feita de
Trelawney para Dumbledore, e que é um peso que Harry terá que suportar agora, e
que conduzirá o restante da saga, de certa maneira, em “Enigma do Príncipe” e “Relíquias
da Morte”. Aqui, Harry descobre que havia uma profecia falando sobre uma
criança que nasceria no fim de julho de pais que enfrentaram Voldemort três
vezes e que seria aquele com o poder de derrotá-lo… até então, no entanto, a
profecia podia se referir tanto a ele mesmo quanto a Neville Longbottom, também
nascido no fim de julho e também filho de pais corajosos que enfrentaram Lord
Voldemort três vezes…
Mas
Voldemort, desconhecendo a íntegra da Profecia, “escolheu” Harry como aquele
que o derrotaria, porque a profecia falava sobre como “ele o marcaria como seu
igual”. Ao tentar matar o Harry, 14 anos antes, Voldemort deixou a cicatriz na
sua testa e transferiu a ele alguns poderes que o “marcaram”. Então, agora, a
Profecia se refere, sim, diretamente a ele… por isso havia seu nome na etiqueta
do Departamento de Mistérios. Além disso, a Profecia também fala sobre como um vai ter que matar o outro no fim, e
agora Harry vive com o peso de saber que ou ele terá que cometer um assassinato
ou ele será vítima de um. E era em busca dessa Profecia que Voldemort esteve
esse ano todo: ele quer entender por que
não foi capaz de matar Harry das outras vezes…
Ele quer saber como garantir a sua morte na
próxima vez que tentar.
“Aquele com
o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima… nascido dos que o desafiaram
três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês… e o Lorde das Trevas o marcará
como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece… e um
dos dois deverá morrer na mão do outro pois nenhum poderá viver enquanto o
outro sobreviver… aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá
quando o sétimo mês terminar…”
Agora, mais
uma vez, as coisas mudaram… sempre falo que “O
Cálice de Fogo” é um divisor de águas na saga, mas eu acho que ele e “A Ordem da Fênix” funcionam muito bem
em conjunto, porque é esse quinto livro que concretiza
as mudanças introduzidas lá – é agora que a Segunda Guerra Bruxa se inicia de
verdade, quando o retorno de Lord Voldemort é reconhecido oficialmente pelo
Ministério da Magia e uma nova era de terror se inicia. É um alívio saber que
Dumbledore retornou à direção de Hogwarts, que o Profeta Diário está divulgando
a verdade finalmente e que as famílias bruxas começarão a tomar precauções para
se proteger de Voldemort e dos Comensais da Morte, e é bom ver as pessoas
reconhecendo que Harry sempre esteve dizendo a verdade…
Mas tempos
sombrios estão à frente.
E Draco
Malfoy, furioso porque seu pai foi mandado para Azkaban “por culpa de Harry”,
jura que ele vai se arrepender – e esse é um aceno importante a uma das
principais tramas de “Enigma do Príncipe”.
Diferente do que eu mesmo acreditava até essa última releitura, “Harry Potter e a Ordem da Fênix” é UM
LIVRO GRANDIOSO! Além de expandir ainda mais o universo (o Ministério, o
Hospital, os N.O.M.s…), ele prepara o leitor para o terror que está por vir com
Voldemort ascendendo novamente ao poder e nos aproxima de Harry nos permitindo
sentir sua raiva, revolta e frustração. É um livro que mostra o amadurecimento
da saga, que sabe que é necessária uma mudança no tom conforme a história avança, e é impossível passar indiferente
por ele.
Uma leitura poderosa.
Que venha “Enigma do Príncipe” agora!
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