Muito Gelo e Dois Dedos d’Água (2006)

Vingança.

Ainda estou atordoado e confuso – QUE BIZARRICE FOI ESSA QUE EU ACABEI DE ASSISTIR?! Protagonizado por Mariana Ximenes, Paloma Duarte, Ângelo Paes Leme e Laura Cardoso, “Muito Gelo e Dois Dedos d’Água” é uma comédia zoada e exagerada na qual duas netas tentam se vingar da avó que as “torturava” em todas as férias de verão, as obrigando a tomar sol, alisar o cabelo e se depilar. A proposta do filme é questionável e as atitudes de suas protagonistas podem facilmente levá-las à cadeia, mas o roteiro te convida continuamente a não levar nada a sério… é uma comédia escrachada repleta de situações absurdas e sem-sentido para você se distrair do fato de que, no fundo, as personagens de Mariana Ximenes e Paloma Duarte são profundamente cruéis. E Laura Cardoso estava realmente hilária como a avó em vários momentos.

O filme começa rápido, com Roberta indo visitar a avó e perguntar sobre “o elefante azul de porcelana”: o instrumento perfeito para um golpe na cabeça da avó que coloca em andamento uma vingança que ela e a irmã estão planejando há 15 anos – é hora, agora, de pegar a estrada rumo a uma casa na praia onde a tortura acontecia e onde elas pretendem devolver à avó tudo o que ela fez com elas na infância e adolescência. Enquanto Suzana, a irmã, faz de tudo para se livrar do marido e promete voltar no domingo de manhã, para a festa de aniversário do seu filho, Roberta acaba esbarrando em Renato e o ajudando a escapar de um restaurante depois de ele ter sido enganado pelo grupo com quem estava almoçando, em uma cena divertida na qual ela finge uma briga e os dois saem de lá sem precisar pagar a conta, porque nenhum dos dois têm o dinheiro.

“Muito Gelo e Dois Dedos d’Água” é o típico filme em que as situações malucas se sobrepõem e você tem que suspender a descrença e aceitar a diversão – não é o tipo de filme que nos toca ou que nos faz refletir, nem mesmo aquelas comédias criativas e ricas de cultura brasileira como “O Auto da Compadecida”. Mas o filme traz alguns bons momentos, como a cena da avó totalmente chapada cantando no carro enquanto a neta dirige, a cena do Renato fumando maconha pela primeira vez para “provar que não é careta” ou descobrindo que “tem uma velha no porta-malas”, e as cenas de Francisco, o marido de Suzana interpretado por Thiago Lacerda, que acaba descobrindo o roubo de seus entorpecentes e sai em busca da esposa e da cunhada, mesmo que não tenha a menor noção de onde fica a “casa de praia” para a qual as duas estão indo.

Pelo menos o filme não se esforça em tentar fazer uma cena fofa ou de redenção de nenhum dos personagens… não temos a avó se arrependendo de ter feito as netas sofrerem por tantos anos ou as netas se compadecendo da avó por sua idade. Os únicos momentos mais próximos de uma redenção talvez sejam: a) a conversa no telhado de Roberta e Renato, quando Renato tenta fazer uma alegoria sobre como Roberta é o “copo com muito gelo e dois dedos d’água”, o gelo sendo o iceberg do seu coração gelado e os dois dedos d’água a pouca emoção na qual esse iceberg boia; e b) a conversa de Roberta e Suzana na qual Suzana fala sobre como ela é igualzinha à irmã e sobre o fracasso de seu casamento, mas o quanto ama o filho e o quanto está falhando com ele por nem conseguir levar um palhaço para a sua festa de aniversário no domingo.

O relacionamento de Roberta e Rafael nasce no meio de uma situação complicada e crescentemente bizarra, mas acho que eles se encontram de alguma maneira, e eu achei bonitinha a cena do Renato se tornando o palhaço para a festa; e, no fim, eles precisam inesperadamente salvar o “marido careta e certinho” de Suzana, que acaba preso com uma série de acusações graves das coisas que fez enquanto tentava encontrar a esposa e a cunhada… o filme termina com Roberta tentando convencer a avó de que nada daquilo aconteceu de verdade, em uma cena quase macabra, mas divertida, como a maior parte do filme. No fim, acho que “Muito Gelo e Dois Dedos d’Água” não tem mensagem ou moral nenhuma, e não é um filme particularmente memorável, mas, naqueles 90 minutos, conseguiu me distrair e arrancar algumas risadas.

 

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Comentários

  1. Me divirto muito com as cenas bizarras e absurdas desse filme (hahahahhahahahah)

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