Priscilla, a Rainha do Deserto (Brasil, 2024)
“I will survive!”
Um
verdadeiro ÍCONE da cultura pop e LGBTQIA+! Com uma história vibrante, bonita e
necessária, “Priscilla, a Rainha do
Deserto” é um espetáculo que diverte, emociona e empolga, com suas cores
vibrantes, figurinos impecáveis e músicas envolventes, em um grande show de
diversidade que segue marcando pessoas ao longo dos anos! A história foi
contada pela primeira vez em um filme de 1994, que foi adaptada para o teatro
musical em 2006, em Sydney, chegando à Broadway em 2011 – e, particularmente,
eu acho que o musical de palco é a melhor maneira possível de se contar essa história! O musical ganhou uma adaptação
para os palcos brasileiros em 2012, e agora retorna mais uma vez ao Teatro
Bradesco, em São Paulo, para uma temporada em 2024.
“Priscilla, a Rainha do Deserto” é
ARREBATADOR.
É impossível
não sair do teatro feliz depois de
assistir ao musical. Tudo é muito grandioso, muito bonito e as músicas são
verdadeiros hinos que fazem parte de nossa vida e vivência LGBTQIA+, e é uma
delícia vê-las ganhando vida sobre o palco! Stephan Elliott, que foi o
responsável pela direção e roteiro do filme original de 1994, também é
responsável pelo texto do musical, em parceria com Allan Scott. A versão
brasileira fica a cargo de Victor Mühlethaler, com direção artística de Mariano
Detry, direção musical de Jorge de Godoy, coreografia e direção de movimento de
Mariana Barros, cenografia de Matt Kinley, figurino de Fábio Namatame, desenho
de luz de Warren Letton, desenho de som de Tocko Michelazzo, desenho de peruca
de Filiciano San Roman e desenho de maquiagem de Alisson Rodrigues.
No elenco
brasileiro, temos Diego Martins como Adam/Felicia, e embora o ator tenha
ganhado projeção nacional como o Kelvin em “Terra
& Paixão”, ele tem uma história como drag queen, o que é incrível para
o papel que interpreta no musical, e ele está dando um show de carisma do
início ao fim; Verónica Valenttino e Wallie Ruy dividem o papel de Bernadette,
e é incrível ver a representatividade de duas mulheres trans interpretando
esses papeis, como deve ser; e Reynaldo Gianecchini dá vida a Tick/Mitzi, e
infelizmente é preciso dizer que ele está abaixo dos demais e é um pouco incômodo
perceber como sua voz não tem o alcance esperado do personagem, o que tira um pouco do impacto de grandes
cenas de Tick, como a de “Always on My
Mind”.
Além do trio
principal, “Priscilla, a Rainha do
Deserto” conta com um grande e talentoso elenco que dá vida a essa história
de forma tão envolvente e convidativa. Amanda Vicente, Claudia Noemi e Luci
Salutes são as Divas, que, de certa maneira, são AS VOZES desse grande
espetáculo; Luan Carvalho é Miss Cassie, e está fantástico e hilário; Fabrizio
Gorziza é o sempre apaixonante Bob; Andrezza Massei dá vida à Marion e à
Shirley de forma incrível; Tatiana Toyota é a divertida e inesperada Cynthia; e
os pequenos Mateus Vicente, Nico Takaki e Rodrigo Thomaz dividem o papel de
Benji, o filho de Tick. Outros nomes da minha sessão incluem Beto Macedo,
Danilo Santana, Kaiala, Marcelo Vasquez, Wagner Lima, Leo Wagner, Thadeu
Torres, Thiago Garça e Ygor Zago.
Felicia é
uma personagem que inevitavelmente rouba
a cena em qualquer produção de “Priscilla,
a Rainha do Deserto” – e Diego Martins é uma escolha perfeita para esse papel, sem dúvida. Com seu humor ácido, sua
vontade de viver, seus sonhos e sua inconsequência, Felicia é talvez o
personagem mais complexo da história,
por todas as suas facetas: as facilmente visíveis e as que estão escondidas.
Amo o deboche claro da personagem, amo as provocações constantes com Bernadette
(que ela insiste em chamar de Berenice) e amo a juventude destemida que
ocasionalmente a coloca em perigo, mas também a motiva à frente, para realizar
o seu sonho de subir ao topo de uma montanha montada para cantar. Felicia é
simplesmente apaixonante.
Bernadette,
por sua vez, é uma personagem mais contida, mais pé no chão, mais machucada
pela vida e, portanto, mais cautelosa. Depois da morte do marido, ela aceita o
convite de Tick para uma viagem pelo deserto australiano até um cassino pelo
qual elas foram contratadas para fazer um show, e no meio do caminho ela
encontra inesperadamente o amor na forma de um mecânico que vem ajudar com a
Priscilla, o ônibus no qual elas viajam, e fica por ali… gosto demais da
relação de Bernadette com Bob, e sou apaixonado pela maneira como ele se
desenrola de maneira despreocupada e simples, permitindo que a personagem
reencontre a felicidade quando talvez já estivesse desanimada de sonhar com
ela. Uma mensagem muito bonita.
Por fim,
Tick, que é o motivo pelo qual eles estão viajando… sua esposa (!) o convidou
para fazer um show em seu cassino e, de quebra, conhecer o filho, que até então
ele não teve coragem de conhecer, porque “não sabe o que ele vai pensar dele”.
Todos os medos de Tick são reflexo de uma sociedade preconceituosa que já o
julgou e o desprezou infinitamente apenas por ser quem é, e as suas cenas com
Benji rendem alguns dos meus momentos favoritos em “Priscilla, a Rainha do Deserto”. Eu amo o contraste entre Tick e
Benji: de um lado, um homem gay cheio de medos e inseguranças; de outro, uma
criança que vê as coisas com tamanha simplicidade que nos arranca lágrimas. Ele
está feliz em ter um pai que é um grande artista, e o aceita exatamente como é.
Sem máscaras, sem mentiras…
“Mamãe diz que já passou da hora de você
arranjar um namorado!”
“Priscilla, a Rainha do Deserto” é um espetáculo
LGBTQIA+ dos mais lindos. É uma grande comédia cheia de cor, de brilho e de
vida, mas também toca em temas delicados e nos entrega cenas como aquela em que
o ônibus é pichado de forma ofensiva – é tão real e tão doloroso o Tick dizendo
que a gente acha que é forte, mas esse tipo de coisa ainda machuca que me levou às lágrimas – ou quando Felicia é
perseguida e agredida, mas defendida por Bernadette. Ao mesmo tempo, é um grito
de resistência, representa a força de quem está aqui e quer o direito de
EXISTIR, e nós continuaremos existindo e resistindo. A amizade e o apoio entre
o trio principal, mesmo com todas suas diferenças, é uma força lindíssima. E
toda a mensagem passada através da história com Benji também.
Falando em
espetáculo, talvez não haja palavra melhor para descrever “Priscilla, a Rainha do Deserto”. Assim como deve ser, o musical É
UM ESPETÁCULO. Uma variedade imensa de cenários, a Priscilla sendo um destaque
muito bem utilizado sobre o palco, figurinos de tirar o fôlego, um mais lindo
do que o outro – e sempre muita cor, muito brilho, muita luz, muita música! Eu
amo estar no teatro e me sentir PARTE disso tudo! Quando o musical começa com “It’s Raining Men” eu já estou sorrindo
de orelha a orelha (inclusive, eu amei
a escolha dessa versão de trazer os garotos do Ensemble de maneira provocante nessa música, tem tudo a ver
com a música e com o musical!), e essa é uma sensação que nos acompanha durante
todo número musical!
Destaco: “Don’t Leave Me This Way”, que é o
funeral mais divertido que eu conheço; “Venus”,
que é a entrada aplaudidíssima de Felicia; “Go
West”, que eu acho divertidíssima, e “Color
My World”, que é o momento em que Priscilla é pintada de rosa e tudo é
muito colorido e muito bonito; “I Will
Survive”, um hino LGBTQIA+ que embala o impactante e maravilhoso fim do
primeiro ato; a montagem da apresentação do Cassino, maravilhosa; e duas das
minhas favoritas: “Always on My Mind/I
Say a Little Prayer”, que é o momento mais bonito e mais emocionante do
musical, com Tick, Benji e aquele abraço que representa tanto no final; e “We Belong”, que é uma música que eu amo
e é perfeita para representar Tick, Felicia e Bernadette nessa conclusão tão
bonita.
Amo esse
musical, de verdade!
“Priscilla, a Rainha do Deserto” está em
cartaz no Teatro Bradesco, em São Paulo.
Para outros
espetáculos, visite “Teatro no Brasil” nessa página.
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