Último Capítulo de “Alma Gêmea” (10 de março de 2006)
“Eu voltei pra te esperar e ir com você, meu amor”
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capítulos cheios de romance, de diversão, de maldades, de drama e de lágrimas…
e “Alma Gêmea” chega ao fim no dia 10
de março de 2006 com um capítulo poderoso e, quiçá, inesperado, que mostra o porquê de Walcyr Carrasco ser um autor
do qual o público brasileiro gosta tanto: sua escrita é envolvente demais para
desgrudarmos os olhos da tela! O capítulo nos entrega Cristina no ápice de sua
loucura, “conseguindo” enfim as joias, mas tendo que pagar por um pacto que
fizera anos antes, enquanto Serena descobre qual era sua “missão”, e isso nos
rende duas das cenas mais icônicas da
teledramaturgia brasileira: Cristina sendo levada pelo demônio e os espíritos
de Rafael e Serena rumando à eternidade, passando antes pela Gruta Azul.
No penúltimo
capítulo, Cristina sequestrou Serena
e Terê. O garoto conseguiu fugir, mas Serena ainda está à mercê das sandices de
Cristina, que lhe garante que “ela não vai sair dali viva”. Posso dizer uma
coisa? O discurso da Serena sobre como ela “veio para essa vida para perdoar” e
como “ela perdoa a Cristina independente do que aconteça com ela ali” é bem
cansativo… eu tive a mesma reação de desdém da Cristina enquanto assistia, não
vou negar. Enquanto Cristina faz ameaças a Serena, Rafael se prepara para
entregar as joias (ou “umas” joias), e se despede de Felipe deixando com ele um
cheque que prometera a Olivia e desejando que ele seja feliz como escolher… é
um momento bonito e emotivo de pai e filho, no qual eles se abraçam
reconhecendo o amor que sentem um pelo outro.
Também é muito triste, porque sabemos que é
mesmo uma despedida.
Com a
maioria das tramas paralelas encerradas ao longo da semana, a única história
além da trama principal que fica para o último capítulo é a de Mirna com seu
primo distante, o Zacarias Príncipe. Traumatizada com os seus dois noivos
anteriores, no entanto, Mirna se recusa a noivar
com ele, e diz que se ele quiser alguma coisa, então eles têm que casar de uma
vez… e, assim às pressas, Mirna e Zacarias organizam um casamento com um
vestido branco qualquer e um bolinho que a Mirna prepara, e um padre que é
tirado da cama para poder celebrar o casamento dentro de casa mesmo – e como pode ser tão fofa essa cerimônia?
Acho que tem a ver com a felicidade
transbordando de Mirna – “Ô, seu
padre, ou o sinhô casa nóis ou eu jogo o sinhô no chiqueiro!”.
Mirna está
radiante… ela finalmente encontrou “seu príncipe no cavalo branco”
(literalmente!), e ela tem a garantia de que não vai se casar para ser escrava
de ninguém, porque a família de Zacarias é rica e a sua fazenda está cheia de
empregados que vão fazer tudo por ela! Depois do casório às pressas, Mirna se despede
de Crispim em uma cena muito bonita cujas lágrimas me parecem ir muito além dos personagens – sinto
que, de alguma maneira, também tinha ali lágrimas de Fernanda Souza e Emílio
Orciollo Netto se despedindo de seus personagens… com sinceridade, Crispim
deseja a Mirna toda a felicidade, e Mirna parte com seu príncipe, tomada por
uma felicidade indescritível porque ela finalmente conseguiu aquilo com que ela
sempre sonhou.
E eu fico
feliz por Mirna!
De volta ao
sequestro… Rafael vai até o encontro marcado para entregar as joias a Ivan, mas
não há nem sinal de Serena, porque Cristina não pretende devolvê-la, mesmo
depois de conseguir as joias – “essa é sua vingança”. Quando Ivan retorna com
as supostas joias e Cristina percebe que foi enganada, ela fica ainda mais furiosa e decide que ela vai
buscar as joias ela mesma, na “sua” casa que “a Serena roubou dela”. Então,
Cristina carrega uma Serena fraca de refém, enquanto Rafael e a polícia chegam
ao casebre agora vazio, e Terê aparece para correr dar um abraço em Rafael e
para contar que Cristina foi para a casa…
Cristina e Ivan invadem a casa sem qualquer dificuldade, e colocam Zulmira e
Eurico para correr porque Ivan tem uma arma em mãos.
Mas eu devo
dizer: é um tanto inacreditável. Quer
dizer, 90% do elenco de “Alma Gêmea”
está reunido na sala da casa de Rafael quando Cristina e Ivan entram carregando
a Serena. Ainda que o Ivan estivesse com uma arma, é inconcebível que não
tivesse uma pessoa ali que pudesse
tirar a arma dele e segurar a Cristina… mas a gente releva, porque isso não
causa incômodo de verdade; no fundo, eu acho bem cômico, porque é absurdo
demais e me diverte de alguma maneira. Diferente do discurso repetido de
Serena, que volta a falar de perdão e pede que todos saiam como a Cristina está
dizendo… ela ainda solta um: “Não se
vinguem da Cristina. Eu a perdoo”. Eu sei que é para mostrar que a Serena é
“evoluída” e tudo o mais, mas me parece forçado.
Sei que não
é para ser… mas me parece.
Com a casa
agora vazia (e os 90% do elenco esperando do lado de fora), Ivan sobe sozinho
para buscar as joias enquanto Cristina fica com a arma apontada para Serena, e
Rafael decide entrar assim que ele chega de volta em casa. Em mais uma exibição
de humilhação própria (a novela está cheia de personagens patéticos que adoram
fazer de si mesmos piadas), Ivan cobra Cristina quando ela manda ele deixar as
joias na escada e ir embora, dizendo que “ela prometeu que eles iam embora
juntos” e perguntando se “ela não o ama”. Soltei
uma gargalhada, é verdade. Cristina também ri de Ivan – “Eu te usei. É tão idiota, que não
percebeu!” –, e ele finalmente percebe que não há mais nada a fazer, a não
ser obedecer… foi gostoso ver o Ivan sendo levado preso.
Cristina,
então, fica sozinha com Rafael e Serena, e Rafael percebe que o que aconteceu
há tantos anos está prestes a acontecer novamente… e assim como Luna se colocou
na frente de um tiro que era para ele da outra vez, ele agora se coloca na
frente de um tiro que era para a Serena, e Cristina percebe tarde demais o que
fez: “Eu matei o Rafael. Eu matei o meu
amor”. Enlouquecida, Cristina diz que ninguém vai pegar ela (A IRONIA DESSA
FALA!!!), pega as joias e corre escada acima, e então nos preparamos para uma
das cenas mais icônicas de “Alma Gêmea”.
Cristina se refestela com as joias que sempre quis, enquanto sombras e risadas
a rodeiam. Enquanto Cristina coloca as joias e ri, as velas que se acenderam
sozinhas começa um incêndio na casa…
QUE
SEQUÊNCIA MARAVILHOSA, DE VERDADE! Flávia Alessandra está icônica na última
cena de Cristina, e tudo ali é impactante. A loucura com a qual ela coloca as
joias, a trilha sonora macabra, o incêndio tomando conta do quarto depressa e
consumindo tudo, ela percebendo o que está acontecendo e achando que ainda está
no controle da situação: “Um dia, eu te
prometi a minha alma, e você veio buscar. Mas você não vai me levar”.
Então, o demônio sai de dentro do espelho em forma de fogo, agarra Cristina e a
leva para dentro de volta, enquanto ela grita desesperadamente… há algo de
perversamente poético aqui, é uma maneira brilhante de representar visualmente
o diabo cobrando a alma que um dia ela lhe prometera. Um marco da
teledramaturgia!
Do lado de
fora da casa, Rafael está prestes a morrer por causa do tiro que levou – “Eu não quero ir agora. Eu não posso ir. Eu
não quero ficar longe de você. Eu te amo”. Finalmente entendendo, Serena
diz que ele pode ir em paz, porque o sopro no seu coração existe porque ela não suporta perder ele. Acho muito
bom como isso funciona num sentido físico e espiritual: por causa do sopro no
coração, Serena deveria ser poupada de “emoções fortes”, e perder o Rafael
certamente se caracteriza como uma; e também existe esse lado mais poético e
espiritual de que “ela não pode viver sem ele”. Serena entende que voltou para
esperar o Rafael para que eles pudessem partir juntos, o beija, e então os dois
morrem, assistidos por todos que estavam reunidos ali.
Uma cena
fortíssima. Os espíritos de Rafael e Serena se levantam e caminham para longe
sem olhar para trás, enquanto vemos brevemente as reações, como o grito
angustiado de Felipe chorando sobre o corpo dos pais, sendo tirado de lá por
Vitório. Em paz e com uma trilha sonora etérea, Serena e Rafael caminham juntos
até a Gruta Azul, na qual falam sobre a eternidade, e ganhamos aquela sequência
de arrepiar na qual podemos espiar
outras vidas que essas almas gêmeas compartilharam,
em diferentes épocas e em diferentes gêneros… outro momento marcante desse
último capítulo de “Alma Gêmea”, e eu
amo o detalhe de eles não terem sido sempre um homem e uma mulher. Então, eles
partem juntos para algum lugar… rumo ao
desconhecido.
“Eternidade”
15 anos
depois, temos a chance de ver um pouquinho do que aconteceu aos personagens
queridos de Roseiral depois da morte de Serena e Rafael, e é bom ver que eles
conseguiram seguir em frente…
especialmente Felipe e Terê, que perderam os pais de uma só vez! Há algo de muito Walcyr nessa sequência: as
caracterizações e as atuações são exageradas, acredito que de maneira
proposital, e depois de uma sequência pesada e dramática, sinto que ela precisava estar ali para aliviar o clima
de alguma maneira. É divertido ver a Mirna chegando realizada e com filhos, ver
um pouquinho mais da Anja e do Crispim, ver a Clarinha crescida, ver a Olivia
chamando a Divina de gulosa, a Divina reclamando e o Vitória soltando um “Olivia, não fale assim com a mamãe”.
Soltei uma
boa risada!
Vera
conseguiu encontrar uma milagrosa cura espiritual. O Felipe ficou ainda mais bonito do que ele já era (ele
estava muito gato nessa sequência,
meu Deus!). E o Terê… Terê virou um estudioso e um escritor, E ESSE É UM
DETALHE TÃO LINDO! Essa sequência final é o lançamento de um livro chamado “Alma Gêmea”, que tem o formato do livro
que víamos ser fechado ao término de cada capítulo (!), e é a história de
Rafael e Serena contada por Terê. Ainda que David Lucas não pudesse interpretar
a versão adulta do Terê e o personagem seja assumido por Ângelo Paes Leme, a
cena é perfeitamente emocionante porque sabemos
que é o Terê ali, e eu fiquei bastante emotivo… com a simbologia dessa cena,
com o discurso dele. Um sinal sensível, bonito e inspirado.
Em 2006, Rafael e Serena se reencontram… na
sua próxima vida.
QUE CAPÍTULO
INCRÍVEL!
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