4 Minutes – Episódio 8: Finale

Vingança. Justiça. Recomeço. Possibilidades.

Para mim, é uma das maiores produções BL do ano. Além de uma produção lindíssima, uma qualidade técnica indiscutível, e a química perfeita entre os personagens – tanto Great e Tyme quanto Ton Kla e Korn, que protagonizam o que é, na minha opinião, a cena mais impactante desse último episódio –, eu adorei a história de “4 Minutes” e, mais do que isso, a maneira como se escolheu contá-la… abusando da não-linearidade com responsabilidade e mesclando o que é real e o que são apenas projeções, “4 Minutes” construiu uma trama complexa sobre pessoas e relações imperfeitas, encontrando estratégias que permitiram que se apresentasse visualmente angústias, arrependimentos, sonhos e esperanças… é uma técnica narrativa inusitada, curiosa, ousada…

E que funciona!

Gosto muito de como a história se construiu ao longo desses 8 episódios, com uma virada no sexto episódio que fez com que as peças começassem a se encaixar. Também acho que foi inteligente, da série, apresentar a realidade de Great e Tyme depois de ter apresentado o que poderia ter sido se as atitudes de Great tivessem sido diferentes, porque, desse modo, a série permitiu que criássemos uma conexão com o personagem – o inverso precisaria de uma desconstrução que provavelmente não funcionaria. O conceito dessa outra “realidade” que é vivida nos quatro minutos em que o cérebro sobrevive sem oxigênio permite a visão mais íntima que se poderia ter desses personagens. Ironicamente, ali dentro os conhecemos sem máscaras, sem muros, sem ressalvas…

Não é real, mas é o que eles sentem, o que eles são ou o que eles queriam ser.

No sétimo episódio, entendemos que os corações de Great e Tyme pararam de bater ao mesmo tempo – exatamente às 11 horas. E se toda a primeira parte de “4 Minutes” nos apresentou o que o Great estava vivendo nesse tempo, os primeiros 15 minutos desse episódio final trazem os “4 minutos” de Tyme… E COMO AQUILO É MÁGICO! É isso o que eu quero dizer quando falo sobre conhecer esses personagens sem máscaras e sem ressalvas: o Tyme da realidade é muito mais duro, muito mais distante, muito mais rancoroso, enquanto o Tyme que está tendo essa experiência de quase-morte é apenas o Tyme entregue inteiramente ao que ele queria, que era uma vida tranquila ao lado de Great. São apenas 15 minutos, mas que nos entregam cenas incríveis!

Na projeção de Tyme, ele conhece Great quando ele o procura no hospital por causa de uma dor no estômago, e existem faíscas desde aquela primeira cena perfeita do Great querendo tirar a camisa para ser examinado ou tentando prolongar sua estadia no consultório ao fim da consulta… depois, Great convida Tyme para comer alguma coisa, e os dois constroem uma relação. É uma perfeita utopia, uma fantasia criada inteiramente por Tyme e muito distante dos acontecimentos da realidade, mas é gostoso acompanhar os dois naquela relação leve e despreocupada. Vemos encontros, vemos o Great na casa de Tyme cozinhando com a sua avó, vemos os dois treinando juntos, vemos os dois deitados na cama, apaixonados e curtindo a companhia um do outro…

Mas Tyme não pode ficar ali para sempre.

A transição dessa fantasia de Tyme de volta à realidade é uma das minhas cenas favoritas não só do episódio, mas da série toda. Quando fica sozinho na cama, Tyme vê o relógio marcar 11:03 e escuta a voz de Den em algum lugar chamando por ele, dizendo que aquilo não é real e pedindo que “ele não deixe que os 4 minutos se esgotem”. A sequência é frenética, intensa e emocionante, com Tyme batendo à porta chamando pelo nome de Great, que não o responde, enquanto elementos da realidade escapam para essa fantasia, como a chuva que está caindo sobre o seu corpo quase morto naquele beco (e eu preciso comentar que o Tyme sem camisa dos 4 Minutos sendo molhado por aquela “chuva” estava absolutamente lindo, sabe?). Então, ele retorna.

Uma das melhores coisas a se observar aqui é a diferença entre os 4 minutos de Great e os 4 minutos de Tyme… eles não são compartilhados, e têm características distintas com base no que eles estavam sentindo no momento de sua quase morte. Great tem uma experiência que o leva de volta ao passado, para lidar com a culpa que sente por atitudes que ele sabe que não foram certas, e então ele se dá a oportunidade de recriar esses momentos, a oportunidade de se sentir uma pessoa melhor; Tyme, por sua vez, tem uma experiência que o leva para o futuro, que projeta todo um relacionamento em detalhes com Great… feliz. Talvez ambos com pitadas de arrependimento: um querendo poder refazer o passado, outro querendo dar uma chance ao futuro.

Poesia.

De volta à realidade, porque a trama de Ton Kla é algo que sempre esteve ambientado na realidade (!), ganhamos a conclusão dramática e arrebatadora do personagem, que brilha no último episódio como brilhara durante toda a série, e eu digo com certeza: é um dos melhores personagens de “4 Minutes”. Ton Kla, Win e Korn protagonizam uma cena de tirar o fôlego, mas a atuação de Bas como o Korn é o grande destaque aqui – eu tive vontade de me levantar e aplaudir o quanto ele entregou, o quanto ele convenceu e o quanto ele marcou! Korn está verdadeiramente preocupado com Ton Kla, acabando de uma vez por todas com as dúvidas a respeito de seus sentimentos por Ton Kla: ele pode ter sido um namorado imperfeito, mas o amor era sincero…

Em algum momento, algo se perdeu, mas Korn amava o Ton Kla e esse episódio deixa claro!

Quando Korn vê, na televisão, que Ton Kla está sendo procurado pela polícia como o principal suspeito pela morte de Title, ele corre para encontrá-lo e para ajudá-lo a fugir, e ele não se importa que Ton Kla tenha matado uma pessoa – ele entende que foi vingança pelo assassinato de Dome, e ele não vai julgá-lo por isso. Os dois escapam juntos enquanto a polícia os caça ferozmente, e eles acabam encurralados sob uma ponte justamente por Win… e aquela cena é tensão pura. A quantidade de elementos a se observar ali é absurda! Temos toda a confusão de Win, querendo saber se “o Ton Kla está fazendo isso tudo porque está decepcionado com ele”, mas a verdade é que Win não entende muita coisa… como o fato de que ele era coadjuvante nessa história.

“4 Minutes” deixa isso muito claro, no entanto. Win é mais um espectador do que um protagonista daquela história, e é esse papel que ele desempenha enquanto Ton Kla conta a Korn que duas pessoas estavam na morte de seu irmão: Title e Great… foi ele quem atirou em Great. Bas entrega uma atuação tão poderosa que nós sentimos todo o conflito transbordando de dentro dele, e ele não tem tempo de processar aquilo tudo, no fim das contas, porque Win acaba atirando e acertando Ton Kla – Korn é o protagonista de todo o resto daquela cena, segurando o corpo de Ton Kla junto ao seu, chorando pela morte do homem que ele ama e não soube amar, e então tirando a própria vida porque não lhe interessa viver em um mundo em que o Ton Kla não existe…

E talvez eles fiquem juntos em algum lugar, afinal.

Fortíssima a cena, e me doeu ver os corpos inertes de ambos ali. Mas impactante.

Depois da sequência toda dos 4 minutos de Tyme e da conclusão da trama de Ton Kla, Win e Korn na realidade, retornamos a Great e Tyme – possivelmente também na vida real, e é nisso que queremos acreditar, embora alguns elementos precisem ser observados com cautela… e falarei sobre eles a seguir. Mas vemos Great e Tyme tendo a chance de recomeçar, e de construir ali um pouco do que eles “viveram” nos quatro minutos em que quase morreram. Eles precisam tomar decisões – Great precisa se responsabilizar pelas suas atitudes que levaram a ou permitiram a morte de algumas pessoas, e Tyme precisa decidir o que ele fará se ele se deparar com os responsáveis pela morte de seus pais ou de sua avó… vingança ou justiça? Tem alguma diferença?

Mas ao menos eles não estão sozinhos agora… é bonito ver Great e Tyme tendo um ao outro, se apoiando mutuamente – se é real mesmo ou se, de alguma maneira, as últimas cenas ainda se passam dentro dos 4 minutos de Great, eu não acho que seja possível afirmar categoricamente. Mas quer saber? Eu GOSTO disso! Fiquei pensando muito em “Inception” quando o episódio terminou… sabe como ficamos nos perguntando se o peão ainda está girando ou não, e eventualmente percebemos que isso nem importa de verdade, porque o totem de Cobb provavelmente é a aliança, e não mais o peão? Eu sinto que “4 Minutes” faz algo muito parecido, e ainda desvia nossa atenção com toda aquela coisa do relógio mudando para 11:05, mas isso não prova nada…

Assim como, em “Inception”, não vemos Cobb ouvir a música/sentir o chute para atravessar todas as camadas de sonho até a realidade, mas vemos isso nos demais personagens, em “4 Minutes” não presenciamos como Great supostamente retornou de seus 4 minutos para a vida real, como vemos acontecer com Tyme… isso quer dizer que o Great nunca retornou de fato? Não necessariamente… mas quer dizer que ele pode não ter retornado. E existem dicas a esse respeito, a principal delas sendo, provavelmente, o fato de ele e Tyme estarem, ao fim do episódio, em um lugar para o qual Great dirigiu aleatoriamente nos seus 4 minutos, e que ele não conhecia na realidade… um lugar que, vamos ser sinceros: talvez nem mesmo exista na realidade.

Qual a chance de ele imaginar um lugar em que nunca esteve e, depois, ele ser idêntico na vida real?

Gosto daquele diálogo, daquela “brincadeira” debochada de “4 Minutes”, porque eles querem nos convencer de que é só isso… uma “brincadeira”. Mas e se não for? Não existe prova alguma de que aquele lugar existe, e a pergunta de Tyme sobre isso mostra que ele esteve ali com Great, mas o Tyme da vida real não deveria nem saber da existência daquele lugar ou o reconhecer, porque ele não compartilhara com Great os mesmos 4 minutos, ele estava vivendo a sua própria experiência à parte… e o relógio “provando” que eles saíram ao mudar de 11:04 para 11:05 não chega realmente a provar nada, porque os relógios só marcavam as horas reais quando o dono daquela “dimensão” estava sozinho. Se o Great continua dentro dos seus 4 minutos, na presença de Tyme o relógio vai se mover normalmente…

O 11:05 é uma distração, mas não é uma prova, no fim.

“Ah, mas a autora disse que…”. Precisamos entender que o que vale é o que está colocado dentro da obra, explícita ou implicitamente, mas dentro da obra, seja ela qual for; o que é dito em entrevistas ou qualquer outro contexto não faz parte dela. E a obra só está completa de verdade ao encontrar seu interlocutor; uma vez finalizada, ela passa a “pertencer” a quem a consome, o leitor ou o espectador que também é responsável pela construção de sentido… isso é básico quando estudamos literatura, por exemplo. Não cabe a Machado de Assis decidir ou definir se Capitu traiu Bentinho ou não, se ele não fez isso explicitamente na obra: esse é o trabalho do leitor quando ele entra em contato com o seu texto… algo que, na verdade, eu considero um ponto positivo.

Acho fantástico quando uma obra tem a habilidade de gerar debate… é por isso que “Dom Casmurro” é, até hoje, uma das obras mais importantes e mais comentadas da literatura brasileira. É por isso que “Lost” mantém sua importância dentro da história da televisão e ainda gera fascínio e comentário. Sinto que “4 Minutes” levantou a possibilidade de discussão semanalmente e, portanto, não havia melhor maneira de encerrá-la do que fazendo isso uma última vez… é assim que ela se manterá viva, e eu acho que há um quê de poético nisso. Me despeço de “4 Minutes” sentindo-me privilegiado por ter feito parte disso, de alguma maneira. Uma obra que certamente figurará entre minhas favoritas na Retrospectiva que eu fizer no fim do ano!

Belo, sentimental, destemido… chocante. Uma obra e tanto!

 

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