Chiquititas Brasil (1ª Temporada, 1997) – O pai de Vivi e Tati
“Ai, um pai ladrão? Que batia na gente e maltratava
minha mãe?”
Toda a
história do pai de Vivi e Tati é uma das histórias mais fortes da primeira temporada de “Chiquititas” – eu sempre acho muito curioso como “Chiquititas” é sempre considerada uma
novela infantil, porque de fato ela foi feita para esse público, mas como isso
não quer dizer que ela seja uma novela “simples” ou que ignore assuntos muito
sérios e nem sempre fáceis de se lidar… toda a questão do pai de Vivi e Tati é
um dos grandes exemplos disso: de um lado, temos a Tati, que era pequena demais quando o pai foi preso,
não se lembra dele e só sonha com o seu retorno; de outro, temos Vivi, que se
lembra de como o pai bebia diariamente e se tornava agressivo, e como ela fazia
de tudo para proteger a irmã mais nova. Agora, ela não quer que o pai as
encontre novamente.
Quando o Dr.
José Ricardo e Cíntia chamam Vivi, como a irmã mais velha, para conversar e
contar que Francisco Cícero está vivo e preso, Vivi não age com surpresa: ela
se lembra do dia em que ele foi levado pela polícia, mesmo com os protestos do
pai… e ela não quer que eles digam nada para a Tati, tampouco que ele saiba
onde elas estão. Em uma das cenas mais impactantes de Vivi, ela conversa com
Mili e Pata sobre por que quer o pai
longe dela e da irmã: ela fala da bebedeira do pai, fala de como ele maltratava
a mãe e batia nelas, e de como a Tati era apenas um bebê, na época, então ela
se colocava na frente para que ele batesse nela e não na sua irmãzinha… ela a
protegia naquela época e ela pretende continuar protegendo a Tati agora.
É tão forte,
tão triste, tão absurdo – e, infelizmente, tão real. Quando Vivi recebe uma
carta escrita pelo pai no Orfanato Raio de Luz, ela se desespera porque “ele as
encontrou”, e ela nem tem coragem de ler a carta inteira… quem a lê em voz
alta, então, é a Mili, com a presença de Vivi, Cris e Pata, todas as meninas
“grandes”. E, aqui, Vivi tem uma de suas falas mais marcantes e dolorosas,
quando algumas meninas tentam animá-la porque seu pai foi encontrado: “Ai, um pai ladrão? Que batia na gente e
maltratava minha mãe? Não. Prefiro ser órfã!”. Sem querer que Tati fique
sabendo de nada, Vivi mostra a carta para a Cíntia, que estranha o fato de a carta não ter remetente, o que quer
dizer que ela não pode ter sido enviada pelo correio… Cícero está por perto.
Cícero está
em processo de conquistar sua liberdade condicional, e a primeira coisa que ele
faz, quando sai da cadeia, é encontrar a Tati no parque, quando ela está
brincando com as outras meninas e acaba se afastando delas – e o homem causa
uma grande impressão na pequena, que não consegue parar de pensar no homem que lhe deu um chocolate, e eventualmente
volta para tentar reencontrá-lo, e é quando eles conversam de verdade pela
primeira vez… ele se apresenta, a chama de “princesinha”, mas não a deixa saber
que ele é seu pai. E tudo ali é tão complexo e, de certa maneira, assustador:
temos a Tati, em toda a sua inocência infantil, permitindo que ele se aproxime;
e temos o Cícero, cujas intenções ainda são incertas, e nos perguntamos se ele
se arrependeu e quer reconquistar a família…
E, ainda que
seja o caso, ele consegue? Tem tempo para
isso?
Se ele está
mesmo disposto, terá que correr atrás disso. Tem muito erro a consertar.
Mili, sempre
responsável, vê a Tati conversando com o homem e lhe fala sobre o perigo de
falar com estranhos, e ainda diz que o problema é que ela quer tanto encontrar
o pai que “conversa com qualquer um”, mas Tati explica que sabe que aquele
homem não é seu pai (ha!), mas ele estava com uma cara tão triste e ela queria
saber o motivo… Francisco Cícero, agora, quer conseguir um emprego, mudar,
recomeçar a sua vida e, por enquanto, não quer que Cíntia diga nada a seu
respeito para as meninas, porque sabe que elas têm medo dele e que elas estão
bem no orfanato, não é justo mudar a vida delas de uma hora para outra.
Primeiro, ele vai tentar reconstruir a sua vida e ter algo concreto a oferecer
para as filhas… depois, ele pensará em reconquistá-las.
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