Evidências do Amor (2024)

“O universo não é feito de átomos. Ele é feito de histórias”

QUE DELÍCIA DE FILME! Protagonizado por Fábio Porchat e Sandy Leah, com direção de Pedro Antônio, “Evidências do Amor” é tanto uma comédia deliciosa quanto uma história de amor apaixonante, com seus toques de drama e seus momentos perfeitamente emocionantes – tudo embalado por canções que “podem te levar de volta no tempo”, que compõem uma trilha sonora repleta de nostalgia incluindo, naturalmente, a icônica e atemporal “Evidências”, amada por toda uma nação, e outras canções que marcaram época e embalaram uma série de histórias nas vidas de milhões de brasileiros desde o seu lançamento, como “Cheia de Manias”, do Raça Negra, e “Brincar de Ser Feliz”, também de Chitãozinho & Xororó. É uma viagem criativa e humana!

Marco Antônio e Laura se conheceram em um karaokê e, de certa maneira, foram unidos por “Evidências”. Quando ambos escolhem a mesma canção e embarcam em uma breve discussão a respeito de quem é a música – José Augusto ou Chitãozinho & Xororó? –, Marco Antônio tem duas ideias maravilhosas: a primeira quando ele responde à lógica de Laura sobre como “a música é sempre de quem canta” a convidando para tornar a música deles, então; e a segunda quando ele joga uma moeda para o alto para decidir se eles cantam a música separadamente ou como um dueto. É em cima daquele palco, ao som de “Evidências”, que Marco Antônio e Laura se apaixonam… e eles passam os próximos três anos juntos, até que o relacionamento chegue a um fim abrupto.

Próximo a um possível casamento.

Um ano depois do término do namoro/noivado, Marco Antônio e Laura não voltaram a se ver, e ele ainda não entende o que levou ao término de fato… e é daí que parte a premissa de “uma música te levar de volta no tempo”. Afinal de contas, Marco acredita que ele era o namorado perfeito, que não existiam problemas no relacionamento dele com Laura, e que ela terminou “sem nenhum motivo” – quando ele começa a voltar no tempo toda vez que escuta “Evidências”, então, ele é “convidado” a revisitar memórias ruins para começar a entender o que foi que ele fez de errado… como ele não era o namorado perfeito que se convenceu de que era, na verdade, e como ele poderia ser diferente. É uma jornada pessoal bastante significativa que ele empreende.

Gosto de como “Evidências do Amor” brinca com o humor, e acho que o Fábio Porchat é excelente nisso. Todo o desespero dele ao perceber o que está acontecendo, porque ele “não pode escapar de uma música que está o tempo todo tocando em filme, em série, em elevador, em apresentação de slides, etc.”, gera alguns ótimos momentos de comédia no filme, bem como a parceria com Júlia, interpretada pela Evelyn Castro, que também rende risadas maravilhosas. Há um equilíbrio inteligente entre leveza, comédia e seriedade, e sinto que o filme consegue entregar momentos muito bonitos, como quando Marco Antônio “reencontra” o pai em uma memória, depois de ele já ter começado a entender o porquê de ele estar vivendo essa loucura toda.

Quando Marco resolve buscar Laura para tentar reconquistá-la e para dizer que finalmente sabe onde errou e que está pronto para ser um namorado melhor e para ouvir, ele resolve, antes de tudo, contar o que está acontecendo com ele toda vez que ele escuta “Evidências” – e, então, o filme tem uma surpresa bacana: Laura também está tendo a mesma experiência. Toda vez que escuta “Evidências”, Laura também é transportada de volta para alguma memória do tempo em que eles estavam juntos, mas, diferente dele, que revisita sempre memórias ruins e brigas, ela é levada sempre para memórias boas… agora, Marco é como se fosse “uma coleção de memórias boas” para ela, mas ela ainda não consegue conciliar essa versão do Marco com a que está na sua frente, no presente.

Até porque ela está tentando seguir em frente.

A dinâmica é muito interessante, e é bonito como ambos têm coisas diferentes a entender através das memórias juntos e de “Evidências”. Marco precisa entender que ele podia ser muito chato várias vezes, e que ele gostava das coisas do seu jeito e no seu tempo, mas o seu tempo não é “o melhor tempo possível”, é apenas o seu tempo, como ela diz. Laura, por sua vez, precisa ser relembrada do porquê de ter se apaixonado por Marco e de como ele era, sim, um namorado incrível muitas vezes – imperfeito, sim, e com muitos defeitos, mas também apaixonado, cuidadoso e presente. A memória com “Cheia de Manias” é lindíssima (a dancinha é tudo!), e é um bom contraste com o novo namorado de Laura, que trata a coisa de ser cantora como “uma brincadeira”.

Marco não soube respeitar o tempo de Laura, mas ele a apoiou. O que o novo namorado não faz.

Então, os dois vão juntos reencontrando o caminho um para o outro… eles escutam “Evidências” juntos e retornam para o dia em que estavam brincando de mímica com nomes de filmes (“Ninguém Segura Esse Bebê”, “O Silêncio dos Inocentes”, “A Origem”), e antes que aquele Marco e aquela Laura do passado comecem a brigar, eles assumem seus lugares para que a memória não seja ruim, e eles compartilham um dos momentos mais bonitos do filme, mostrando tanto a conexão que eles construíram ao longo de três anos de relacionamento, quanto o sentimento que ainda está ali… e, como diz a música, Laura vem “negando as aparências, disfarçando as evidências”, para tentar fingir que ela está mais feliz agora… mas não está.

No fim, ambos precisavam desse tempo separados… e toda a premissa do filme é uma alegoria divertida e inteligente a um necessário tempo de reflexão, para que eles voltem melhores do que estavam quando terminaram – eles ainda se amam, só precisam saber onde ajustar para que possam ser feliz e fazer o outro feliz. Em uma montagem linda, Marco Antônio e Laura vão entrando cada vez mais fundo na sua própria história, memória dentro de memória como o sonho dentro de outro sonho em “A Origem”, e mais do que reviver, eles criam memórias, entendendo como as coisas poderiam ter sido… e descobrindo juntos como as coisas podem ser de agora em diante. Um filme inspirado e com uma mensagem bonita e tocante. Uma deliciosa surpresa!

 

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