Heartstopper, Volume 5 – Mais Fortes Juntos (Alice Oseman)

“Eu te amo… e você é gostoso PRA CARALHO!”

Chegamos ao penúltimo volume de “Heartstopper”, que no Brasil recebeu o subtítulo de “Mais Fortes Juntos”, e Nick e Charlie estão prontos para dar um passo importante no seu relacionamento: a primeira vez. Gosto muito de poder acompanhar o amadurecimento da relação de Nick e Charlie, e de como o volume lida bem com os mistérios e as vontades que envolvem a descoberta do sexo na adolescência, e de como o volume ainda traz alguns outros elementos que são essenciais, conforme Nick e Charlie pensam a respeito do futuro… Nick Nelson está começando a pensar na faculdade em que ele vai estudar quando terminar a escola (!), e talvez tanto ele quanto Charlie Spring precisem lidar, eventualmente, com um “namoro à distância”.

Há algo muito doce, mas também realista, sobre a vontade que Nick e Charlie estão de ter a sua primeira vez, e eu fico feliz por “Heartstopper” ter caminhado para abordar isso também, lembrando que o sexo é uma faceta também muito importante de muitas relações românticas. Com o tempo que Nick e Charlie estão juntos, é bastante natural que eles estejam com vontade de descobrir novas experiências, de conhecer o corpo um do outro, o sexo, um novo tipo de prazer… e a novela “Nick & Charlie”, que foi publicada como um “extra” de “Um Ano Solitário”, antes mesmo de Alice Oseman começar a contar a história dos personagens desde o início em “Heartstopper”, se passa em um momento à frente onde uma das maiores diversões de Nick e Charlie é justamente transar

Sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, eles estariam ali.

Tanto Nick quanto Charlie já perceberam que os seus beijos estão ficando cada vez mais intensos… agora, quase toda vez que eles se beijam, é como se algo tomasse conta deles – e muitos de nós entendem esse desejo da adolescência, esse “fogo”, essa coisa que acontece quando estamos beijando alguém e temos vontade de mais. E é quase divertido ver como o Charlie expressa essa vontade que ele está sentindo, como ele quer fazer sexo com Nick, mas ele não sabe se isso é algo que o Nick também quer, porque da última vez ele dissera que “não estava pronto para isso”… mas a última vez em que eles falaram sobre isso foi há muito tempo, e as coisas podem ter mudado (e mudaram). Por isso, o Charlie precisa conversar com o Nick sobre isso!

“Seja sincero com ele. Vocês são Nick e Charlie. Vão ficar bem”

Posso dizer que eu ADORO ver o Nick e o Charlie muito mais saidinhos que o normal? Eu gosto de como cada toque e cada beijo faz com que a imaginação de ambos vá longe (!), e de como eles estão “se testando” continuamente, para tentar entender as intenções do outro, como quando o Charlie está na aula de Educação Sexual e manda mensagem para o Nick, falando sobre colocar camisinha em um pepino, o que já fizera no ano anterior, e o Nick tem coragem de responder com um sugestivo “Talvez você deva tentar em algo que não seja um pepino da próxima vez”. Quer dizer, EU DEI UMA SURTADINHA NESSE MOMENTO, NÃO NEGO! Agora, no entanto, eles ainda precisam entender quando e onde eles vão ter a oportunidade de fazer isso pela primeira vez…

É muito difícil convencer a mãe de Charlie a deixá-lo dormir na casa de Nick, por exemplo! E essa é uma trama interessante, que é o reflexo dos temas tratados em volumes anteriores… toda a questão do distúrbio alimentar de Charlie e a sua internação fazem com que a mãe o veja como “frágil”, como se ele precisasse ser observado o tempo todo; e Charlie já tem que lidar com suas próprias inseguranças com o corpo, por exemplo, porque se acha magro demais e teme que o Nick não vá gostar de vê-lo pelado – tanto que ele fica de camiseta na primeira vez em que eles fazem algo mais quente. A primeira vez acontece depois de uma briga de Charlie com a mãe, na qual ele diz que ele não é mais uma criança e “pode passar tempo com o namorado se quiser”, e sai sem sua autorização…

É até meio caótico como chegamos a esse momento, mas é interessante ver o Charlie desabafar antes de se deitar em uma cama com Nick e, então, eles começam a se conhecer de uma maneira que até então não se conheciam. A “primeira vez” deles não envolve penetração, ainda, mas isso não quer dizer que não seja uma prática sexual que gera prazer e faz com que eles se perguntem “por que eles não fizeram isso antes”… é bom que eles estejam se descobrindo sexualmente juntos, preocupados um com o outro, e gosto desse tom delicioso quando eles terminam e dizem um ao outro que “precisarão de muita prática”: ISSO É TÃO REAL! E mesmo que eles ainda não estejam autorizados a dormir juntos, eles “não precisam dormir juntos para repetir o que fizeram ali”.

Acho importante vermos essa faceta mais “saidinha” de Nick e Charlie, tanto porque combina com o que lemos na novela dos dois, quanto porque eu imagino que é o que estaria acontecendo na vida real mesmo… a mãe de Charlie tem uma conversa bem sincera e bem compreensiva com o filho depois daquela briga de ambos e o autoriza a dormir na casa do seu namorado, mas só quando as provas terminarem, em três semanas – e, durante esse tempo, eles colocam em ação essa coisa de que “precisam de prática” e “não precisam dormir juntos para fazer o que fizeram”, e eles vão se descobrindo e aproveitando cada momento que têm sozinhos para repetir o que descobriram ser tão prazeroso, até que eles tenham a oportunidade de dar ainda mais um passo

Em paralelo, temos toda a questão de Nick em breve estar indo para a faculdade, e ele ainda não está conseguindo tomar decisões… ele não sabe bem o que ele quer estudar, nem para onde ele quer ir, e ele meio que prometeu ao Charlie que colocaria Kent como sua primeira opção porque é perto de casa e ele não quer ficar longe do namorado, mas é realmente em Kent que ele quer estudar? E se ele “quer” estudar lá apenas porque acha que o Charlie não pode ficar sozinho, como a mãe dele acha? Sem contar que estudar em Kent “para ficar perto do Charlie” é a solução de um “problema” apenas por um ano, porque depois o Charlie também vai para a faculdade, e se ele for para um lugar longe? E se o Nick escolheu Kent só porque ele mesmo não sabe “quem ele é” sem o Charlie?

É muita coisa em jogo aqui, e eu gosto da atenção dada ao personagem de Nick… é triste ver como ele não tem muitos amigos de verdade, como ele não tem pessoas com quem possa conversar além do Charlie – e às vezes é bom poder falar com alguém que não seja o seu namorado. A viagem de Nick com Tara e com Elle para visitar faculdades é muito importante para o seu desenvolvimento, e culmina em coisas importantes tanto para o Nick quanto para o Charlie, curiosamente… primeiro, eles visitam Kent, a apenas alguns minutos de casa; depois, Oxford, Loughborough e, por fim, Leeds. E é de Leeds, a 4h28min de distância, que Nick Nelson mais gosta… aquele é o lugar no qual ele se imagina estudando e jogando rúgbi quando chegar a hora…

Mas ele dorme chorando naquela noite, em um conflito interno palpável.

As conversas de Nick com Tara e Elle são ótimas de se ler, e há muito sinceridade ali. Eles falam sobre escolhas, sobre faculdades, sobre namoros à distância, e Elle fala sobre como ela também tem o Tao que vai ficar para trás, mas ela não pode basear todas suas escolhas nele nesse momento: é a sua vida, a sua carreira, o seu futuro, e ela quer tomar a decisão que a faça feliz, e manter um relacionamento à distância com Tao, que ela só pode esperar que funcione… é muito maduro e bonito da parte dela. Nick está, então, nesse dilema: ele não quer ficar longe de Charlie, não quer magoá-lo por não colocar Kent como primeira opção como prometera, mas também é o seu futuro e, como a Elle diz, esse é um momento em que ele precisa “se priorizar” e escolher o que é melhor para ele…

O medo expresso de Nick de “não saber quem é sem o Charlie” é fortíssimo…

E Elle diz que talvez seja a hora de descobrir.

Na ausência de Nick, Charlie também tem experiências importantes que o ajudam a crescer. Ele recebeu dois convites importantes: um para tocar bateria em uma banda e outro para se candidatar a líder estudantil. Nos cinco dias que passa sem o namorado, Charlie leva esses dois convites em consideração, e é uma maneira encontrada por Alice Oseman para mostrar que não significa que seja fácil ou que Charlie não queira o Nick ao seu lado, mas ele pode sobreviver… e pode crescer por conta própria. É importante DEMAIS a cumplicidade do casal, mas também a sua individualidade. Charlie já aceitara o convite para a banda, e agora ele pensa na proposta do Sr. Farouk e escreve a sua ficha de inscrição para líder estudantil, falando um pouco sobre si mesmo…

Vai ser bom ver o Charlie buscar isso!

A apresentação em si também é ótima. Antes da viagem do Nick, e durante ela, Charlie fala sobre como o quer ali para lhe dar um abraço de boa sorte antes de ele subir ao palco, porque ele estará nervoso e, infelizmente, o Nick não consegue chegar a tempo de dar um abraço no namorado – Charlie já está no palco, tocando, quando Nick chega. É bonito ver a maneira como o rosto de Charlie se ilumina ao ver o Nick na plateia, mas como ele conseguiu subir ao palco e arrebentar mesmo sem o abraço dele no começo… se o Nick estiver longe no seu primeiro ano de faculdade, essa é a prova de que ele pode ficar bem. Haverá dias de mais saudade, haverá dias em que Charlie precisará de um abraço e Nick não estará por perto para isso, mas não é o fim do mundo.

Isso é algo que ambos precisam entender.

A reta final desse Volume 5 de “Heartstopper” é onde toda a construção do volume culmina na primeira vez de Nick e Charlie com penetração, e é uma cena romântica e bonita. Eu gosto de como isso é intensificado pela saudade dos cinco dias separados e o orgulho e o tesão (SIM, O TESÃO!) que o Nick sentiu ao ver o Charlie em cima do palco, com aquela camisa provocante… e então eles curtem o resto do dia juntos até a hora de ir para a casa vazia de Nick: os beijos no carro, no corredor, na escada… o Charlie perguntando se eles vão transar, porque ele quer muito, e o Nick depressa tirando a própria blusa, para depois o Charlie pedir que ele também tire a dele… o elogio, o encontro, os beijos, a conexão. Estou muito feliz por esse passo que eles deram.

E, agora, eles vão encontrar como fazer funcionar no futuro.

Mas eles são “Nick e Charlie”. Vão ficar bem.

 

Para mais textos de “Heartstopper”, clique aqui.

 

P.S.: A história de Tori e Michael é muito bem abordada em “Um Ano Solitário”, mas eu gosto muito de ver o Michael em “Heartstopper”, mesmo que aqui ele seja um personagem secundário… a história dos dois têm algum desenvolvimento em uma conversa muito bonita de Tori e Charlie antes da apresentação do Charlie, na qual Tori fala sobre nenhum deles ser hétero: Michael é bissexual ou pansexual, e ela é assexual, e ela não acha que o relacionamento deles tenha futuro, mas o Charlie faz um papel bonito de irmão conselheiro e faz, pelo menos, com que Tori converse com Michael ao invés de ficar fugindo deles… eu torço muito para que dê certo entre eles.

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