13 Sentimentos (2024)
13 centímetros de diferença…
Escrito e
dirigido por Daniel Ribeiro, que há 10 anos nos trouxe “Hoje eu Quero Voltar Sozinho”, um dos melhores filmes LGBTQIA+ de
todos os tempos, “13 Sentimentos” é
um filme divertido e fofo sobre recomeços…
João acabou de sair de um relacionamento de 10 anos com Hugo assim que eles
voltaram de uma “lua-de-mel às avessas”, mas eles terminaram em bons termos:
sem traições, sem brigas, sem que eles deixassem de se amar… mas eles
perceberam que eles tinham se tornado mais melhores
amigos do que realmente namorados,
e decidiram que era melhor “terminar no auge”, como uma série de sucesso que
ainda poderia render algumas boas temporadas, mas que terminaria cancelada
eventualmente. E, agora, João precisa recomeçar
sua vida.
João é
interpretado por Artur Volpi, e muito do filme se deve à sua boa atuação e ao
seu imenso carisma… João é simplesmente
apaixonante. Eu sinto que “13
Sentimentos” é mais calmo e menos dramático do que algumas pessoas estavam
esperando que fosse, mas esse é justamente um dos charmes do filme para mim: eu gosto de como ele é humano e
despretensioso, e de como o filme explora amizades, oportunidades e encontros…
de como parecemos estar vivendo ao lado
de João enquanto ele não sabe bem o que fazer, porque faz 10 anos que ele
não está solteiro e não flerta com o intuito de ficar com alguém. “13 Sentimentos” é um recorte bem
específico de uma realidade LGBTQIA+, mas que funciona perfeitamente dentro da
sua proposta e é sincero.
Profissionalmente,
João não está em seu melhor momento… e, curiosamente, suas experiências
pós-término o vão ajudando a encontrar novos caminhos. João é editor de vídeos
e cineasta – embora não se considere assim enquanto não fizer o seu primeiro
filme –, mas o filme que parecia prestes a ser produzido é adiado
indefinidamente e ele precisa voltar a trabalhar no roteiro, enquanto aceita os
trabalhos que aparecerem na sua frente para poder pagar as contas… é assim que
ele acaba editando institucionais chatos e filmando outras pessoas fazendo sexo
para os seus perfis no OnlyFans, bem como trabalhando despretensiosamente em um
novo roteiro à parte, sob o título “13 Sentimentos”, que nasce de tudo o que
ele está vivendo e, portanto, tem força.
Diferente do
roteiro anterior, aqui ele sabe do que está falando. Tem alma, tem verdade.
E tenho certeza de que vai ser um sucesso!
As relações
estabelecidas por João ao longo do filme são maravilhosas de se assistir… é um
pouco da sua relação com o seu ex-namorado de 10 anos, sua “série de sucesso”;
com o namorado que veio antes dele e
sobre o qual ele nunca soube mais nada; com o cara por quem ele “se apaixona”
pelo aplicativo e com quem imagina já um monte de coisas; com os amigos e
clientes (?) que inusitadamente ele faz também pelo aplicativo; com as pessoas
a quem ele não dá uma chance porque está focado demais em outra coisa; com os
amigos que o acompanham há tantos anos que o conhecem melhor do que ninguém; e
com a mãe. A força de “13 Sentimentos”
está nessas interações, e em diálogos que vão propositalmente dos mais reais
aos mais absurdos.
Romanticamente,
João quer acreditar que está tudo bem, que ele e Hugo tomaram a melhor decisão
da vida deles, e provavelmente tomaram mesmo, provavelmente está tudo bem, mas não quer dizer que
não seja uma novidade… quer dizer,
foram 10 anos! Horas depois do fim oficial, João já está em um aplicativo
estilo Grindr, e é ali que ele conhece Vitor, um cara muito bonito com quem ele se dá bem e que está interessado nele,
mas ele não quer se precipitar – e os amigos o aconselham sobre como o primeiro sexo depois do término é sempre
ruim, então tem que ser “com alguém descartável”. João “vive”, então, toda
uma história com Vitor através do seu novo roteiro… o personagem no roteiro, no
entanto, vai mudando de nome conforme outras pessoas aparecem.
Termina no Martin.
João vive
algumas coisas naqueles dias e semanas pós-término com Hugo… ele vai à casa do
Alê, que no aplicativo está com o nome de “Marmiteiro”, e acaba se tornando
amigo dele e do marido, e é ali que começa sua carreira de diretor do OnlyFans;
ele descarta Leo, um cara que tinha tudo para ser legal, porque o Vitor manda
mensagem para ele; ele descobre que o Vitor, na verdade, tem namorado, e então
ele decide não transar com ele, porque ele já estava “apaixonadinho demais”
para ainda colocar sexo no caminho; ele encontra um bilhete numa jaqueta de
Orlando, o cara com quem ele saía antes do Hugo (sério, há quanto tempo o João
não lava aquela jaqueta?!), e manda uma mensagem para ele, e descobre que ele
está casado há quatro anos…
Meio que
“graças” a ele, inclusive…
O filme tem
sua pitada de humor e vergonha alheia (as cenas com a projeção de Orlando na
primeira categoria, a maior parte das cenas com Alê na segunda) e um drama
comedido e condizente com a proposta dos personagens no filme… João fica mal ao
ver Hugo com outra pessoa, o que eu acho a
coisa mais natural do mundo, particularmente – não quer dizer que ele se
arrependa da sua decisão, não quer dizer que ele ache que os dois tinham que
ficar juntos ou que o Hugo não tem o direito de sair com outra pessoa, mas eles
passaram 10 anos juntos e terminaram seu rancores e sem brigas, o que quer
dizer que vai ser naturalmente estranho
ver o Hugo com outra pessoa… curiosamente, no entanto, isso é algo que impulsiona João a um recomeço.
João tira
duas coisas do seu caminho antes de “recomeçar”: ele transa com o Vitor, porque
ele meio que “tinha” que fazer isso, e descobre que ele não transa bem ou que, pelo menos, eles não se encaixam; e ele
conversa com Hugo, e é uma conversa lindíssima e sincera na qual eles reforçam
a importância do que viveram e que tomaram a decisão certa… é muito intenso
aquilo que o Hugo diz sobre como João tem a tendência de idealizar o passado e, com isso, esquecer-se das coisas ruins – que
eles também viveram, como seria impossível não ter vivido em um relacionamento
de 10 anos. E é difícil demais competir com isso. É um convite para que João deixe de olhar para a sua própria vida como
uma série, como um roteiro que ele pode escrever como quiser…
E começar a
olhar para as coisas como elas são.
No fim, ele
não precisa planejar nada… ele vai ao cinema, encontra Leo já com outro cara
(amo o fato de terem trazido o Heron Leal para ser o namorado do personagem do
Igor Cosso!), e “esbarra” em Martin, o amigo de seus amigos que ele nem
conseguiu conhecer antes – e que bom que não o conhecera, porque João não estava
pronto para o que ele está pronto agora. A química de João e Martin é
inegável, e eu ADORO a maneira ousada e destemida como “13 Sentimentos” entrega uma cena longuíssima de sexo entre eles,
em toda posição e lugar possível (QUE CENA PERFEITA!), e como tudo parece ser
dito naquelas expressões, naqueles gemidos, naqueles corpos suados, naqueles
olhares, naquele encaixe perfeito,
naquela risada… é uma cena quente e excitante, mas também bela, real e sincera.
Que bela forma de contar uma história!
Amo o simbolismo
do cubo mágico e dos 13 centímetros de diferente de altura.
João encontrou seu recomeço…
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