Sitio do Picapau Amarelo (2007) – Quem Quiser Que Conte Outra: Parte Final
Acordo entre heróis e vilões.
Eu preciso
dizer: eu AMEI “Quem Quiser Que Conte
Outra”. Com 40 capítulos, essa é a história mais longa da temporada de 2007
do “Sítio do Picapau Amarelo” (embora
“O Anjinho da Asa Quebrada” não
fique muito atrás, com 35 capítulos), e eu achei que ela se tornaria chata ou
cansativa em algum momento, mas acabou sendo uma experiência bastante bacana,
no fim das contas! Baseada no clássico “O
Picapau Amarelo”, de 1939, a história é colorida, divertida e cheia de
personagens, com pequenas tramas que vão acontecendo e se resolvendo, gerando
um clima e um ritmo gostoso… é verdade que temos várias atuações bem fraquinhas no elenco convidado, mas
a história tem um clima tão bom que eu realmente consegui relevar isso tudo e
me divertir!
Uma
experiência e tanto!
Na reta
final de “Quem Quiser Que Conte Outra”,
a Tia Nastácia foi sequestrada pela Dona Carochinha: capturar uma de suas
pessoas mais queridas pode fazer com que a turminha do Sítio do Picapau Amarelo
aceite negociar a “devolução” dos personagens do Mundo Encantado – mas a
turminha está fazendo de tudo para salvar a sua querida Tia Nastácia sem
precisar entregar os personagens de mão beijada de volta à ditadura comandada
pela Dona Carochinha! Emília até consegue roubar um livro intitulado “História de Nastácia”, para que ela e a
turminha reescrevam a história como fizeram com o Barão de Münchhausen, mas
dessa vez não funciona, porque a Madrasta Má enfeitiçou o livro para que tudo
que fosse escrito nele desaparecesse rapidamente.
Então, a
turminha parte pessoalmente para o
Beleléu, para resgatar a Tia Nastácia! Mas não levam nenhum personagem dos
contos-de-fadas com eles: é melhor não se expor às maldades da Dona Carochinha.
Então, Emília, Narizinho, Pedrinho e o Visconde de Sabugosa partem, com o pó de
pirlimpimpim, diretamente para o Beleléu – um lugar imenso no qual eles
precisam procurar… e Emília, com seus
olhinhos de retrós e altura garantida por estar nos ombros do Visconde (!), é
quem consegue avistar ao longe um pontinho que é a única pista que eles têm… e
que eles esperam que seja realmente a Tia Nastácia. Quando chegam lá, eles se
deparam com Nastácia adormecida em um caixão de vidro, como a Branca de Neve em
sua história, e uma escolta peculiar…
O Don Ratão.
O Don Ratão,
que espantou os voláteis que poderiam ter atacado a Tia Nastácia, é reconhecido
por Narizinho como o noivo da Dona
Carochinha… e ele conta sua história e como ele está ali no Beleléu por vontade própria: ele estava cansado
de sempre morrer afogado em uma panela de feijoada no fim de sua história, e
como Carochinha se recusou a mudar o seu final, porque “não se pode mudar o
final de uma história que se conta há muito tempo”, o Don Ratão resolveu ir
embora do Mundo Encantado e morar no Beleléu… ali, pelo menos ele não morria afogado o tempo todo. E Emília
entende, também, que foi por isso que a Dona Carochinha original, aquela da
fitinha no cabelo e dinheiro na caixinha e que queria se casar, acabou virando
a atual “Dona Carochatinha”.
“Então quer dizer que eu transformei a minha
baratinha num monstro?”
A turminha
do Sítio do Picapau Amarelo usa o pó de pirlimpimpim para partir do Beleléu,
levando consigo a Tia Nastácia, que está novamente entre eles… mas segue desacordada. E talvez ela
precise de um beijo de um Príncipe Encantado para despertar? Nenhum dos beijos
parece funcionar, no entanto, e só um príncipe ainda não beijou a Tia Nastácia:
o antigo Príncipe da Branca de Neve, o
príncipe original que a despertou quando ela esteve nessa mesma posição…
então, Emília e Narizinho vão em busca dele no covil da Dona Carochinha e o
levam para o Sítio – ainda que ele esteja temporariamente transformado em sapo. Emília usa o Faz-de-Conta, que não
funciona exatamente como o esperado, e deixa o Príncipe com corpo de homem, mas
ainda com cara de sapo…
Mesmo com
cara de sapo, seu beijo na testa de Tia Nastácia funciona.
E ela
desperta animada por “levar um beijo daquela coisa linda”. Pelo menos até vê-lo.
Com a Tia
Nastácia resgatada e desenfeitiçada, o único trunfo de Dona Carochinha foi para
o beleléu (!), então a baratinha invade o Sítio de Dona Benta com ameaças: “Se vocês não devolverem meus personagens,
não vai sobrar pedra sobre pedra desse Sítio do Picapau Amarelo!”.
Curiosamente, então, o próprio Don Ratão aparece no Sítio, dizendo que está ali
para impedir que Dona Carochinha cometa mais uma loucura – ele pede que ela os
deixe em paz, porque “seu problema é com ele”. Carochinha não parece inicialmente
muito animada por vê-lo de volta, porque a sua partida ainda a machuca (!), mas
o Don Ratão explica que só saiu do Beleléu e retornou porque ficou sabendo que
Carochinha tinha virado “uma baratinha rancorosa e má”.
A conversa
dos dois, na frente de todo mundo, é bem pertinente… Don Ratão fala sobre os
seus motivos para ter partido, e Dona Carochinha diz que sabe que seu final é
injusto, mas pergunta o que seria do Mundo Encantado se todo mundo quisesse
reescrever sua história. Mas, se eles puderem, talvez Don Ratão e Dona
Carochinha possam ter um final feliz?
Ele diz que, se ela parar de perseguir os personagens, ele volta para a
história deles, mudam o final juntos e eles vivem felizes para sempre – e é
meio o que a Carochinha quer, no fim das contas. Furiosa, a Madrasta Má diz que
isso é “contra as regras” e diz que, se Carochinha fizer isso, ela “vai virar
uma rebelde como os demais”, mas Carochinha está feliz demais para se importar…
então, a Madrasta Má vai embora
prometendo retornar.
Eles “não perdem por esperar”.
Em paralelo,
também acompanhamos um pouquinho a história do Delegado Lupicínio José – que
até então não sabia que era o lobisomem.
Essa é uma trama “maior” para a temporada, e a Dona Miúda passou grande parte
de “Quem Quiser Que Conte Outra”
tentando encontrar uma maneira de acabar com a maldição do seu filhinho, sem
precisar jamais contar a verdade para ele, para “protegê-lo”. Quando Xing Ling
diz que não pretende mais guardar esse segredo e que, se ela não contar, ele
mesmo o fará, Dona Miúda toma coragem e conversa com Lupicínio, dizendo toda a
verdade… “Você é o lobisomem, Lupicínio.
Você é meu sétimo filho. Nasceu depois de seis filhas seguidas”. Agora,
Lupicínio sabe da verdade… a quebra da maldição, no entanto, fica para a próxima
história.
Enquanto
esperam pelo certeiro ataque da Madrasta Má e os demais vilões, Dona Benta faz
com que as crianças se perguntem o que será dos vilões se todos os heróis
abandonarem suas histórias… como ela diz: ninguém
quer ir para o Beleléu, nem mesmo os vilões. E é verdade. Por isso, com
toda sua sabedoria, Dona Benta é ESSENCIAL na conclusão dessa história toda! A
Madrasta retorna ao Sítio do Picapau Amarelo, acompanhada de um grande grupo de
vilões, disposta a iniciar uma guerra,
mas Dona Benta pede a palavra, dá razão a ambos os lados (!) e diz que tem uma
proposta: tanto heróis quanto vilões
precisam ceder e encontrar um meio-termo. Um pouco a contragosto, a
Madrasta pede que ela pare com esse blá-blá-blá e conte logo qual é sua ideia
concreta…
Então, Dona
Benta sugere que os personagens sigam vivendo suas histórias antigas, assim
elas vão sempre continuar existindo e os vilões não acabarão no Beleléu, mas
também tenham a liberdade para viver as novas histórias que quiserem… assim,
eles serão livres e novas histórias sempre existirão! É um acordo que pode
resolver o problema de todo mundo, e a própria Madrasta Má reconhece isso e
“cancela” a invasão do Sítio de Dona Benta: está
tudo acertado, chega de guerra – desde que todos se comprometam a continuar
vivendo suas próprias histórias, antes de sair por aí vivendo suas novas
aventuras, quaisquer que elas sejam… de
agora em diante, heróis e vilões serão inimigos apenas dentro de suas próprias
histórias. E, para simbolizar isso, Peter Pan e Capitão Gancho apertam a
mão um do outro.
Só o “Sítio do Picapau Amarelo” pode
proporcionar isso!
Em relação à
Branca de Neve, o Príncipe Sapudo e o Riquê do Topete, Narizinho tem uma ideia:
e se o antigo Príncipe e o Riquê
trocassem de lugar? Afinal de contas, agora o Príncipe tem uma aparência
que lhe permite “interpretar” o Riquê do Topete, e Riquê e Branca de Neve podem
se casar e viver o romance que surgiu ali no Sítio do Picapau Amarelo… e ambos aceitam a proposta. Devo dizer
que eu gosto dessa conclusão, porque
não invalida o romance da Branca e do Riquê, vivida durante a história! Assim, “Quem Quiser Que Conte Outra” termina
com um casamento duplo, celebrado por ninguém menos que o Grilo Falante: a
Branca de Neve e seu novo Príncipe, e a Dona Carochinha com o Don Ratão… e tudo
termina em festa, música e uma despedida melancólica.
Ótima
história!
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de Luz
Já tinha lido, mas nem lembrava dessa histórinha da dona Baratinha que perdia o marido na panela... Um dos livros que mais li quando criança foi o do "Reino Perdido do Beleléu", agora não sei se é por causa do livro que veio a palavra "Beleléu" ou se a palavra já existia, mas a historinha é mto boa, bem maluquinha 😂
ResponderExcluirNão conheço esse "Reino Perdido do Beleléu", acho que eu vou procurar!
ExcluirCarochinhas e baratas são bichos diferentes, mas a "dona Carochinha" vem dos livros de Alberto Figueiredo Pimentel, escritor e jornalista que traduziu pela primeira vez os contos de fadas dos irmãos Grimm e os publicou na coletânea "Dona Carochinha" de 1940, além de publicar livros infantis como as "Histórias da Avozinha", "Álbum das Crianças", etc.
ResponderExcluirTraduziu pela primeira vez no Brasil, esqueci de completar. Lobato tbm foi tradutor de contos de fadas, mas ele meio que traduzia do jeito dele, tentava deixar a linguagem menos rebuscada, mais acessível para crianças em comparação com as traduções de Pimentel e outras que surgiam etc.
ExcluirEssa coisa de o Lobato traduzir as coisas "do jeito dele" é algo que ele colocou na própria escrita do "Sítio do Picapau Amarelo", né? Em "Reinações de Narizinho" tem uma passagem em que diz que a Dona Benta "lia do jeito dela" ou algo assim (inclusive, é uma passagem da qual eu gosto bastante, eu gosto do conceito hahahaha)
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