Wicked: Parte I (2024)
“Everyone
deserves the chance to fly!”
O fantástico
universo de Oz tem muitas histórias a contar! “O Mágico de Oz” é um clássico da literatura que foi escrito por L.
Frank Baum e lançado em 1900, e nos apresentou a personagens como a Glinda, a
Bruxa Má do Oeste e os companheiros de uma garotinha que chegara do Kansas
levada por um tornado. Em 1995, Gregory Maguire, muito antes de “Malévola” ou outras releituras
populares, publicou “Wicked”, um
livro extremamente político que conta a história da Terra de Oz (de muito antes
da chegada de Dorothy até depois de sua partida) do ponto de vista de Elphaba
Thropp, a poderosa bruxa de pele verde que viria a ser conhecida como “Bruxa Má
do Oeste”, e é essa história que deu origem ao popular musical de mesmo nome,
que chegou a Broadway em 2003 e conquistou o mundo!
“Wicked”, o musical, conta com
composições de Stephen Schwartz e livro de Winnie Holzman, e é uma história
deliciosa que suaviza bastante o teor mais desafiador, político e crítico do
livro original de Gregory Maguire – que é uma leitura que vale muitíssimo a
pena! –, mas ainda permite discussões a respeito de racismo, governo, jogos de
poder, mentiras… embalado por canções impactantes e personagens cativantes, “Wicked” vem sendo minha paixão desde
aproximadamente 2008, com o livro de “O
Mágico de Oz” e o de “Wicked”
sendo meu estudo no meu TCC na faculdade de Letras, poucos anos depois, e eu
tive a oportunidade de assistir ao musical ao vivo na Broadway, em Nova York,
em 2015, além da versão brasileira, em São Paulo, em 2016.
Eu esperei
muitíssimo por esse filme… e eu saio do cinema completamente ATORDOADO.
Profundamente feliz e satisfeito, mas atordoado.
Tudo é competente, grandioso, mágico, emocionante… e, mais do que isso, nós
percebemos o quanto o filme é feito com carinho para os fãs de longa data de “Wicked”. Com direção de Jon M. Chu –
responsável também pela direção da excelente adaptação de “In the Heights” –, a decisão de dividir “Wicked” em duas partes, cada uma adaptando um ato do musical de
palco, foi a melhor possível, porque isso nos deu tempo de nos demorarmos em cada cena, curtir os personagens, os visuais impecáveis
e todas as músicas que amamos do musical, sem que nenhuma precise ficar de fora
da adaptação para o cinema.
“No One Mourns the Wicked”, a música de
abertura do filme, é grandiosa como se espera de um bom musical, e é o momento
em que você percebe: é isso, realmente
vamos ter o musical como o conhecemos transposto para o cinema… como fã de
longa data, eu adoro assistir e reconhecer
“Wicked” em pequenos detalhes, quando
muitas vezes as adaptações só nos permitem reconhecer a história e os personagens
de maneira mais ampla. Aqui, os detalhes que amamos estão presentes… amo toda a
sequência de abertura, o flashback
que traz, além do nascimento de Elphaba, um pouco de sua infância, e como isso
intensifica o que veremos mais tarde em tela… sinto que “No One Mourns the Wicked” é ainda
mais forte no cinema do que sempre foi no teatro.
E, chegando
à fase adulta, Cynthia Erivo dá vida a Elphaba com toda a força e o carisma de
que a personagem precisa. Elphaba Thropp é uma personagem complexa, que tem
possíveis nuances de deboche, doçura, inocência, poder e determinação. É uma
construção ampla que vai sendo explorada pelo roteiro conforme a história
avança – isso sem contar a Parte 2! “The
Wizard and I” é aquela explosão magnífica, que explora um lado esperançoso
da personagem e acena, em uma série de referências, àqueles que entendem a que
ela se refere quando ela diz que “um dia haverá uma celebração por toda Oz que
terá tudo a ver com ela”, por exemplo. Há tanta cicatriz no passado da
personagem, e aqui é aquela esperança de mudança que sabemos que, na verdade,
jamais acontecerá…
Elphaba
Thropp é uma mulher que cresceu julgada pela cor de sua pele. É isso o que ela
enfrentou na sua infância, quando as outras crianças riam dela e se recusavam a
brincar com ela; é isso o que ela enfrenta quando chega à Universidade Shiz e
todos parecem se afastar dela, embora ela tenha criado uma armadura que se
mostra nas respostas prontas que ela tem; e é isso o que ela enfrentará no
futuro, quando a Madame Morrible vender a história de que ela é “uma Bruxa Má”
e que “a pele verde é a exteriorização de uma natureza perversa”. O fato de
Elphaba ser interpretada por Cynthia Erivo, uma mulher negra, faz toda a
diferença e parece não só acentuar esse aspecto da trama, mas também conferir verdade em uma narrativa dura e honesta.
“Wicked” também traz toda a questão dos
Direitos Animais, e é uma maneira fantástica de representar, em tela, todos
aqueles que são diferentes e que
muitas vezes a sociedade quer silenciar e esconder – e nada disso é sutil, como
não deve mesmo ser. As conversas de Elphaba com o Dr. Dillamond são alguns dos
meus diálogos favoritos no filme, e toda a cena em que Elphaba vê a reunião do
professor com outros Animais aterrorizados (que nos leva a “Something Bad”) é excelente. Ali, o Dr. Dillamond fala sobre os
animais que estão desaparecendo, que estão perdendo
o dom da fala, e, portanto, Elphaba sabe exatamente o que está acontecendo
quando ele é afastado da Universidade de Shiz onde lecionava e é substituído
por um humano que acredita em jaulas e nos Animais “nunca aprenderem a falar”.
Galinda
Upland, por sua vez, é interpretada por Ariana Grande, que se torna a
personagem de maneira magnífica em cena – como já sabíamos desde aquele trailer
que liberou o trecho “I couldn’t
possibly, this is your moment. I’m coming!”. Galinda é, não se enganem, uma
personagem tão complexa quanto a Elphaba, apenas de uma maneira diferente… há,
em Galinda, aquela fachada fútil e cor-de-rosa de uma patricinha clichê, mas
isso é questionado pela sua eventual amizade com Elphaba (Elphie?), e as duas
são opostos quase complementares, uma brincadeira brilhantemente apresentada
por “What is This Feeling?” (toda a
coreografia e a edição aqui: PERFEITOS!), concretizada por “Defying Gravity” e que ainda tem muito a ser explorada na Parte 2.
Existem
coisas que as aproximam… outras que as afastam. E isso é genial!
Eu gosto
muitíssimo do momento em que Galinda Upland muda o seu nome para “Glinda”, como
uma forma de “mostrar sua indignação pelo que fizeram com o Dr. Dillamond”,
porque é, na minha opinião, o melhor exemplo de quem ela é: existe, em Glinda
(o “Ga” é mudo), uma semente de consciência, talvez, mas não existe o que
existe em Elphaba, que é a determinação e, mais do que isso, a coragem para se fazer algo concreto. Em
que a sua mudança de nome realmente
impacta em toda a questão dos Direitos Animais? Eu diria que em nada… e é uma
atitude cômoda e segura que serve principalmente como “espetáculo” – e
funciona, porque todos a aplaudem por seu “grande gesto”. E é isso: ESSA é a
melhor descrição de quem é a Glinda.
Fiyero
Tigelaar, por sua vez, é interpretado pelo Jonathan Bailey – e ter o Jonathan
com todo o seu carisma, seu talento, sua beleza e sua sensualidade tornaram o personagem MAIS APAIXONANTE DO QUE NUNCA.
Eu consigo entender perfeitamente
porque toda a Universidade de Shiz estava suspirando por ele desde a sua
entrada – porque eu, da minha cadeira do cinema, estava fazendo o mesmo. E ele
ARRASA em “Dancing Through Life”, que
tem um quê delicioso de provocação e
é uma sequência musical de tirar o fôlego (por vários motivos). Assisti a toda
a cena de “Danching Through Life” com
um sorriso no rosto e exclamando, por dentro, sobre como aquela é uma adaptação
linda de um musical do palco para o cinema… Jon M. Chu sabia o que estava fazendo.
É uma cena e
tanto!
E “Dancing Through Life” é, talvez, a cena
mais musical de todo o filme – até
por sua duração, pelas várias vozes e vários ritmos, e pelos vários
acontecimentos que estão incluídos nela… assim como no musical. Ela começa com
Fiyero Tigelaar incitando os colegas a escaparem para o Ozdust Ballroom naquela
noite, passa por convites e esquemas, o “presente” de Glinda a Elphaba e toda a
sequência do baile… inclusive, uma sequência dolorosa na qual Cynthia e Ariana
entregam a emoção necessária às personagens. Há tanta coisa bem contada em
poucos minutos que é surpreendente, e bate em (ainda) Galinda a culpa naquele
momento, quando ela vê Elphaba dançando sozinha, com o chapéu que ela
maldosamente lhe deu de presente, com todos debochando dela ao redor…
Naturalmente,
só bate a culpa em Galinda porque Elphaba realmente
ficou agradecida pelo chapéu e por Galinda ter feito Boq convidar Nessa para a
festa (!), mas ainda assim bate a culpa e, naquele momento, ela faz a diferença
quando se une para dançar com Elphaba… uma dança diferente na qual elas se entregam juntas – e as lágrimas de
Elphaba enquanto ela luta para se manter firme e seguir dançando são como um soco no estômago. Curiosamente, depois
daquele momento, “Elphie” ganha uma amiga… ainda que uma amiga à maneira da
Galinda! “Popular” é propositalmente
exagerado, propositalmente divertido e caótico, e eu amo isso, porque é a
consolidação dessa amizade “improvável” e que vai acabar sendo tão importante
na vida de ambas.
Eu sempre
digo que existe uma parte política em “Wicked”,
ainda que isso seja muito (MUITO!)
mais evidente e mais trabalhado (de forma concreta e madura) no livro de Gregory
Maguire, mas sinto que o filme, com o tempo que ele tem (cada ato adaptado em
um filme de mais de 2 horas), pode expandir
isso do roteiro original da versão de palco… e isso tende a ser muito mais notável na Parte 2, é
verdade. Ainda assim, gosto de como a política se mistura, aqui, ao romance,
quando Fiyero ajuda Elphaba a salvar o filhote de leão (!) que o novo professor
de história trouxera em uma jaula para a aula, e Elphaba se apaixona não pela beleza (inegável) de Fiyero, mas porque
percebe que, no fim das contas, ele não é tão despreocupado e superficial
quanto tenta parecer…
Há uma boa
química e uma boa tensão entre eles na floresta.
Eu também
cantaria “I’m Not That Girl” para
ele!
Falando
sobre carinho aos fãs de longa data de
“Wicked”, o acréscimo em “One Short
Day” é, sem dúvida, a demonstração de como esse filme foi feito pensando, também, nos fãs. Trazer Idina Menzel e Kristin
Chenoweth, as Elphaba e Glinda originais da Broadway, para uma participação é
muito bonito – elas ganham um trecho inédito da música, composto para o filme,
que expõe a importância do Grimório e prepara
o espectador para o que está por vir, além de tudo ser uma grande e deliciosa brincadeira… adorei ouvir a Idina brincar
com as notas finais de “Defying Gravity”,
por exemplo, ou a Kristin “calando” a Glinda quando retornamos à parte da
música que já existia, numa espécie
de “Deixa que eu canto”, e Idina e
Kristin cantam de novo versos que elas
cantaram tantas vezes no teatro…
É tão
bonito, tão emocionante, deixa o coração de fã quentinho!
E desse
presente, nos encaminhamos para o clímax de “Wicked:
Parte I”, para o momento em que verdades são reveladas e Elphaba descobre
que foi manipulada pela Madame Morrible e que o Mágico, sem poder algum,
pretende usar o poder verdadeiro que ela
tem para dar continuidade aos seus planos – planos esses que envolvem a
perseguição aos Animais e tudo o mais que Elphaba despreza. Esse é um
momento-chave da história de “Wicked”,
porque é o momento em que tudo se escancara: o poder imenso de Elphaba,
conseguindo ler o Grimório e transformando todos os macacos do Mágico em
macacos alados; a podridão do Mágico e da Madame Morrible; o conformismo e a
busca por comodidade de Glinda, capaz de “ignorar” isso tudo por aquilo que ela quer…
Elphaba não
pode fazer isso.
E como
Elphaba não se submete às vontades alheias e a coisas às quais é contrária,
ainda que isso fosse lhe dar “conforto”, ela se transforma na BRUXA MÁ. Não
porque ela seja, de fato, má, mas porque as pessoas no poder e no controle das
mídias conseguem vender a história que eles quiserem… como quiserem. Eu amo a
Elphaba… é impossível não amá-la. Elphaba sonhou, de fato, com conhecer o
Mágico, com ser respeitada pela população de Oz e não ser discriminada por sua
cor, mas ela escolhe o caminho difícil, porque não está disposta a abrir mão de
seus princípios por isso. E, assim, o caminho dela e o de Glinda se separam, e
Elphaba foge… com um feitiço de levitação, Elphaba pega uma vassoura e parte
rumo ao céu do Oeste, enquanto sua imagem é associada, pelo Mágico e por
Morrible, à maldade…
“Defying Gravity” é poderoso. Terminar
um filme com essa música e com toda essa sequência faz com que passemos algum
tempo estáticos, olhando para a tela e para os créditos, descrentes do que
acabamos de assistir, porque é incrível. Como todo fã de “Wicked”, eu amo “Defying
Gravity”, e eu amo tudo o que ela traz: eu amo a discussão da Elphaba e da
Glinda e de como ela se transforma em uma espécie de entendimento, de desejo
mútuo e real de felicidade e, por fim, em uma despedida… visualmente também é
impactante, com direito ao grito final da Elphaba, tão marcante, nos lembrando
a maneira como vemos esse mesmo momento nos palcos, há mais de 20 anos. E é
excelente. Cynthia Erivo é uma Elphaba perfeita, e nos arrebata naquele grito.
A atuação, a
potência vocal, todo o sentimento transbordando.
DE TIRAR O
CHAPÉU.
“Wicked: Parte I” é um espetáculo… um
verdadeiro espetáculo. Eu, assim como tantas outras pessoas que amam o musical,
esperei muito tempo por essa adaptação, e eu não poderia deixar a sala de
cinema mais satisfeito – e talvez até
incrédulo em pensar que mais de 2h30
se passaram, porque eu realmente não
senti esse tempo passar. É lindo ver o respeito com a obra original e o
carinho com os fãs, demonstrado na atuação, na direção, na fotografia, na
orquestração. Foi uma experiência para toda a vida, e eu mal posso esperar para
retornar ao cinema, no fim do próximo ano, para assistir à Parte 2 – esperando
por expansão na história, por mais política, por novidades e por músicas como “No Good Deed” e “For Good”, além das já anunciadas músicas novas…
“Wicked” é um evento. Eu nunca duvidei.
QUE FILME!
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Simplesmente sensacional! Acredita que eu conheci o musical aqui no blog? Ano passado tive a chance de ver a versão brasileira em São Paulo e, como você falou, é nítido o carinho com que ele foi adaptado pro cinema. A decisão de fazer um filme para cada ato faz total sentido. E a história por si só já é maravilhosa, assim como as canções. Cynthia e Ariana deram o nome. E o Jonathan Bailey tava encantador. Dancing Through Life foi minha canção favorita no filme, mesmo todas estando incríveis.
ResponderExcluirNossa, eu achei esse "Acredita que eu conheci o musical aqui no blog?" TÃO LINDO que você não tem noção!!! 💚 Como você sabe, eu sou completamente apaixonado por Wicked, demais demais demais, e o filme foi feito para nós, né? Também amei "Dancing Through Life" (sempre amei a música, mas Jonathan Bailey arrasou!), eu fiquei sorrindo que nem bobo a música toda!!!
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