Spare Me Your Mercy – Episódio 3
“You didn’t
kill him. You
euthanized him”
A minha
sensação depois de assistir ao terceiro episódio de “Spare Me Your Mercy” vem da satisfação de assistir a uma história bem contada. Que episódio fenomenal, de
verdade! Novamente, a série trabalha bem – e, quiçá, de maneira provocante! –
com todo o seu tom de mistério e de suspense, proporcionando pequenas
reviravoltas que já são esperadas por fãs de outros trabalhos da autora, como “Manner of Death”. Eu gosto muito de
como a série nos conduz a conclusões ao mesmo tempo em que nos distrai, e toda
aquela história com o Boss e o Dr. Somsak é, a meu ver, uma maneira do roteiro
de “Spare Me Your Mercy” nos dizer
algo como “Calma, ainda está cedo demais
para você achar que entendeu tudo”. E quer saber? EU AMO ISSO!
Confesso que
a história de Boss e de Somsak me pegou totalmente de surpresa, e é o claro
exemplo de como o episódio vai nos guiando por caminhos errados – como toda a
questão da ligação, que parecia claramente ser para o Dr. Kan, para ser para o
Dr. Somsak no fim das contas. Boss, um dos trabalhadores da farmácia do
hospital, é interrogado pela polícia sobre o cloreto de potássio e o fato de
algumas saídas não estarem batendo com o número das receitas, e ele faz a coisa
mais estranha e mais suspeita possível, que é tentar escapar antes de retornar
e contar uma história claramente fabricada
que ele podia ter contado desde o começo. Quer dizer, eu não acho que
alguém teria acreditado na história
dele, de todo modo, mas depois da tentativa de fuga?
Impossível.
Descobrimos,
eventualmente, que Boss tem um “caso” com o Dr. Somsak – se é que o que eles
têm pode ser chamado assim. A narrativa de Boss deixa claro que ele “não é gay,
mas faz o que é preciso para sobreviver”, e eu custo a acreditar que tenhamos
entendido todas as facetas dessa relação de sexo e poder… inclusive, existe
muito segredo entre os dois, ao que
tudo indica. A tensão criada de forma palpável na maneira como Boss pergunta ao
Dr. Somsak por que ele perguntara
“para quem ele tinha roubado o cloreto de potássio”, como se não acreditasse
que ele podia ser o assassino – há
algo perverso, estranho e quase assustador ali. E acho que isso tudo, de alguma
maneira, conduz aos últimos acontecimentos do episódio, mas ainda existem
lacunas.
Lacunas que
não preencheremos por enquanto.
Wasan, por
sua vez, está de olho no Dr. Kan e naquela caixa que ele e a enfermeira estão
levando para fora do hospital de maneira tão apressada – mas eu confesso que eu
esperava um pouquinho mais de
inteligência do Wasan aqui. Parte de mim ficou profundamente orgulhoso quando o Wasan disse que eles podiam ir e
que ele ia acompanhar os dois e a entrega do remédio, já que não podia abrir a
caixa, mas logo em seguida ele me decepciona quando ele aceita trocar de lugar
com a enfermeira e ir no banco da frente. Quer dizer, é evidente que aquela era
outra forma de distrair Wasan, e eles certamente são rápidos o suficiente para
trocar o conteúdo da caixa enquanto a enfermeira se senta atrás de Wasan e Kan
se aproxima para “colocar o sinto”.
(Eu
também me distrairia com a proximidade do Kan)
O trio
termina em um lugar distante onde o Dr. Kan tem mais um paciente com câncer em
estágio terminal, e eu acho que em algum momento o Wasan se perdeu em qual era
o seu objetivo seguindo o Kan até ali… ele sai e deixa o médico para trás com
Zapa, o paciente ainda consciente para dar a sua permissão à eutanásia. Mais
uma vez, “Spare Me Your Mercy”
levanta a discussão da eutanásia, nessa cena e nas posteriores, ao contrapor o
discurso de Wasan, que considera qualquer morte assim um assassinato, e o de Kan, que se pergunta se não é diferente uma
vez que o paciente queira isso… uma
questão de misericórdia, talvez? Zapa mesmo era um caçador ágil que está há um
ano sem poder se mexer – e todas as pessoas que o amam parecem em paz com sua
partida.
“Go in peace, Zapa”
Há algo de
profundamente filosófico em “Spare Me
Your Mercy” – exatamente como o tema suscita. Após a morte de Zapa, Wasan e
Kan parecem se confrontar. De maneira quase contida, mas também intensa, porque
cada um tem suas crenças muito bem definidas. Wasan não vai discutir medicina com Kan assim como não quer que
ele discuta lei com ele, mas e se o
tema for muito mais abrangente que isso… se envolver ética, humanidade e livre
arbítrio? Esse “jogo” constante entre os dois protagonistas gera uma dinâmica
curiosa de se acompanhar, e é a partir disso (mas não somente nisso) que se começa a nascer algo entre eles… uma noite
longe da cidade e dividindo uma fogueira e uma tenda permite que eles vão, aos
poucos, conversando, se conhecendo…
Se conectando?
Gosto muito
de como as coisas funcionam, e de como são diferentes momentos. Há um jogo
claro de sedução que vem de ambas as partes – e você pode me dizer que o Dr.
Kan tem motivos escusos para estar “dando em cima de Wasan”, mas você nunca vai
me convencer de que tesão não é um desses
motivos. Gosto do Kan atacante, gosto da nova faceta quase provocativa de Wasan quando diz que “não
está procurando por um caso de uma noite”, e de como ele sorri (e fica mais
lindo do que nunca) quando está flertando… também gosto de como a cena abrange,
também, um momento bastante sentimental
que vem quando a morte de Zapa faz com que Wasan pense na própria mãe, e é um
momento em que ele deixa suas vulnerabilidades à mostra…
E Kan talvez
se importe de verdade.
Por fim,
toda a reta final do episódio é uma construção FASCINANTE de um gancho
praticamente perfeito! O Dr. Somsak faz duas ligações: uma para Wasan, para
dizer que sabe quem roubou o cloreto de potássio e, consequentemente, é o
assassino; outra para o Dr. Kan, para dizer que tem informações sobre o caso
que estão investigando. Não sei com qual intenção o Dr. Somsak arma isso tudo,
e tenho certeza que seus motivos vêm de cenas que ainda não vimos… de todo
modo, adoro a ironia do roteiro ao mostrar o Wasan ligando para o Kan para
desmarcar o “encontro” no aniversário dele, e de como existe um quê de romance
naquele momento, contraposto perfeitamente a toda a tensão que está se
construindo porque não sabemos o que vai
virar isso tudo…
Eu já estou
APAIXONADO por essa série!
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