Spare Me Your Mercy – Episódio 7

Eutanásia ou assassinato?

Eu gosto da incerteza… eu gosto da ousadia… o penúltimo episódio de “Spare Me Your Mercy” é mais um episódio de tirar o fôlego, com direito a flashbacks e explicações, mas também a mistérios e dúvidas em relação ao futuro. Um episódio repleto de tensão, que começa com aquele embate acalorado entre o Dr. Kan e Boss e, curiosamente, termina com outra cena dos dois, em uma situação completamente diferente – e isso, na minha opinião, evidencia a qualidade e a astúcia do roteiro. É irônico… é quase debochado. E, no meio disso tudo, Wasan se envolve cada vez mais, pessoal e profissionalmente, e eu temo o que será dele e de seu estado emocional quando ele descobrir verdades como que o Dr. Kan está envolvido na morte prematura de sua mãe.

O episódio começa em uma sequência longa – mas que curiosamente não parece longa – entre Boss e o Dr. Kan, ainda antes do tiro que ouvimos desde o lado de fora no fim do episódio anterior… aqui, vemos Boss compartilhar com Kan sua história, seus traumas, seus desejos e suas ações mais recentes, e tudo é embebido em uma intensidade quase absurda que nos deixa crescentemente apreensivos. Em flashbacks, entendemos um pouco mais de como Boss se tornou a pessoa “quebrada” que ele é hoje, porque o trauma do estado de saúde de seu pai seguido da mãe o matando e, depois, se matando é de deixar qualquer um transtornado… e foi com essa visão em mente que Boss cresceu: a visão do pai que “não tinha mais por que viver” e da mãe morta.

Muitos anos mais tarde, ao ouvir aquela conversa do Dr. Kan com outros profissionais a respeito da eutanásia, Boss decidiu que aquela era a “resposta” que ele sempre buscara: ele queria fazer com outras pessoas o que não pudera fazer com o pai, mas ele tem uma visão bastante deturpada da prática e uma visão falha em relação à humanidade, porque ele considera pessoas como o seu pai “inúteis”. Enquanto Boss clama que “ele e o Dr. Kan são iguais”, Kan tenta explicar para ele a diferença entre eutanásia e assassinato e por que, portanto, eles não são iguais… de um lado, há consentimento em caso de pessoas em estado terminal que estão sofrendo; de outro, alguém que matou pessoas que não queriam morrer a sangue frio; e Boss não se incomoda de confessar isso.

Boss não quer entender a diferença entre eles – em sua visão, ambos têm sangue nas mãos. E as coisas ficam insustentáveis quando o telefone de Kan começa a tocar no seu bolso e, pouco depois, a polícia aparece do lado de fora. Dentro de casa, com On ainda trancada dentro do armário, nasce um pandemônio… e uma briga potencialmente fatal por uma arma. Boss é a pessoa com a arma e a primeira a atirar… um tiro bem próximo que causa um ferimento grave e uma hemorragia em Kan; Kan é o segundo a atirar, quando consegue a posse da arma, e ele o faz na tentativa de calar Boss para sempre… um tiro que vai levantar suspeitas contra ele. Os dois terminam no hospital, em condições distintas, e Kan secretamente espera que o Boss não desperte…

Se despertar, ele falará sobre a eutanásia.

É curioso e perturbador o quão complexo tudo é… e o quanto está em jogo. Se Boss não tivesse feito nada para “proteger” o Kan, nenhuma suspeita jamais teria caído sobre ele, porque ele vem performando eutanásia há algum tempo; e se Kan tem bem clara em sua mente a diferença entre eutanásia e assassinato, o que ele tentou ao atirar em Boss naquele momento foi uma dessas coisas… e não é a que ele defendia. Desacordado no hospital, Kan tem visões de sua vida passando diante de seus olhos… visões de sua mãe doente e do motivo pelo qual ele escolheu cursar medicina… visões da primeira pessoa a quem ele administrou remédio para a eutanásia… e é como se ele estivesse sendo julgado antecipadamente, antes de saber se tinha chegado ao seu destino final.

Ainda não tinha.

O despertar do Dr. Kan e o despertar de Boss são bastante distintos… o despertar de Kan é acompanhado de On, sua fiel companheira, e, de certa maneira, de Wasan, que está ali com Joe para fazer algumas perguntas, mas que também promete que retornará às cinco, quando deixar o trabalho, para ver como ele está, e eles se provocam brevemente com a possibilidade de um beijinho de despedida no rosto, que não chega de fato a acontecer; o despertar de Boss, por outro lado, é sozinho e desesperador… ele descobre que perdeu todos os movimentos do pescoço para baixo, por causa do tiro, e agora ele se pergunta que tipo de vida é essa – e, pior, se ele quer essa vida. Para calá-lo, On visita o seu quarto com uma proposta: ela cuidará dele se ele permanecer em silêncio.

Boss aceita a proposta de On, e é assim que ele confessa, sem grandes enrolações, todos os seus crimes quando Wasan e Joe chegam para interrogá-lo – ele não confessa, no entanto, apenas os seus crimes, mas confessa a autoria de mortes que couberam ao Dr. Kan. Ele realmente é o culpado pela morte de Somsak, de Som e daquele homem que morreu no meio do nada… mas ele não é o responsável pela morte da mãe de Wasan, por exemplo, que é apenas uma das pacientes em estado terminal que tiveram uma morte “prematura” por eutanásia. Ainda que Boss as confesse todas, Kan não poderá esconder isso para sempre de Wasan… mesmo que ele apareça no quarto de Boss naquela noite para impedi-lo de falar para sempre, com um procedimento que parece, mas não é eutanásia.

Inclusive, uma cena fortíssima e, de alguma maneira, emocionante…

A lágrima escorrendo do olho de Boss e os lábios sorrindo… UAU!

 

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