Sexta-Feira Muito Louca (Freaky Friday, 2003)


“A journey soon begins
its prize reflected in the other’s eyes.
When what you see is what you lack
then selfless love will change you back”

 

Um CLÁSSICO é um CLÁSSICO. Na ficção, fazer duas pessoas que vivem brigando trocarem de corpo é uma forma eficaz de fazer com que os personagens aprendam a “se ver no lugar do outro”, e uma maneira igualmente eficaz de se contar uma boa história, que tende a render bons momentos! Lançado em 2003, “Sexta-Feira Muito Louca” é um remake do filme de 1976 (em inglês, ambos se chamam “Freaky Friday”), e traz a história de Tess e Anna Coleman, mãe e filha que não conseguem se entender – a mãe está sempre ocupada com o trabalho e está prestes a se casar três anos depois da morte do pai dos seus filhos; a filha é uma típica adolescente que sonha em fazer sucesso com a banda e acha que a mãe “está arruinando a sua vida”.

Eu sou apaixonado por esse tipo de filme, e acho que quando esse tipo de história é bem contada, sempre rende momentos de emoção e reflexão, além de uma divertida comédia. Menciono, aqui, filmes como “17 Outra Vez” e “De Repente 30”, que não trazem a troca de corpos, especificamente, como centro da narrativa, mas têm propostas similares de alteração de perspectiva que faz com que novas coisas sejam percebidas e, é claro, o brasileiro “Se Eu Fosse Você”, com o Tony Ramos e a Glória Pires, que é uma delícia! “Sexta-Feira Muito Louca” é protagonizado por Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis, e as duas estão FENOMENAIS em todos os momentos: tanto como suas personagens originais quanto como a outra em seu corpo durante a sexta-feira.

A introdução do filme nos apresenta a Tess e a Anna durante uma quinta-feira normal na vida delas: Tess precisa chamar Anna mil vezes para que ela se levante, depois ela a leva para a escola e as duas passam cada momento juntas brigando… conhecemos a Anna na escola, as amizades e as inimizades e, é claro, o crush em Jake, o garoto que ela não tem certeza de que ao menos reconhece sua existência; também vemos Tess no trabalho, com uma vida ocupada com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo e ela tendo que equilibrar. Também tem toda a questão de que, no dia seguinte, Tess tem um importante jantar anterior ao casamento com Ryan, que será no sábado, e a banda de Anna tem a chance de fazer uma audição que pode colocá-los no mapa…

Na mesma noite de sexta-feira.

Claramente, a quinta-feira anterior à “sexta-feira muito louca” é o agravante que torna tudo possível, e que prepara o terreno para as principais piadas que veremos mais tarde, quando mãe e filha estiverem de corpos trocados – vide a questão da porta arrancada, porque “privacidade é um privilégio”. Naquela noite, quando Anna sai para jantar com o irmão, o avô, a mãe e o noivo da mãe, as duas discutem com a Anna dizendo, provavelmente pela milésima vez, que a mãe “está arruinando a sua vida”, e é então que a dona do restaurante tem uma ideia… se uma acha tanto que a vida da outra é muito perfeita, talvez elas precisem estar literalmente uma no lugar da outra para entender todas as dificuldades, e ela lhes dá biscoitos da sorte…

Mas não são biscoitos da sorte convencionais.

No dia seguinte, na fatídica sexta-feira, Anna e Tess amanhecem de corpos trocados… e é aqui que ganhamos aquela cena ICÔNICA das reações de Anna no corpo de Tess, com a Jamie Lee Curtis sendo simplesmente fantástica a cada segundo! Destaco, ainda, o Harry indo correndo acordar a “irmã” para dizer que “a mamãe está morta”, porque ela não se mexe, mas na verdade é apenas a Anna adolescente no corpo da mãe e a sua habitual dificuldade para despertar todas as manhãs… eu gosto muito de como “Sexta-Feira Muito Louca” é UMA DELICIOSA COMÉDIA! Ela se sai muito bem criando situações divertidas, algumas dentro do cotidiano da interação da família, e as risadas estão garantidas… mesmo que eu já tenha visto o filme tantas vezes!

Quando as duas se dão conta do que aconteceu e quando (durante o “terremoto” que só as duas sentiram no restaurante), elas planejam retornar para o restaurante na hora do almoço para que isso seja revertido a tempo dos eventos daquela noite e, principalmente, do dia seguinte, mas, enquanto isso, precisam levar a vida da outra – e tentar fazer com que ninguém perceba. Tess precisa enfrentar um dia na escola de Anna, com direito a garotas maldosas, um professor rancoroso e uma prova dificílima, enquanto Anna se divide entre usar os cartões da mãe para ir às compras e fazer coisas que ela nunca pôde fazer (como fazer um novo furo na orelha) e atender os pacientes da mãe, perguntando “E como você se sente sobre isso?” a cada pausa.

O que poderia dar errado?

Naturalmente, as duas não podem simplesmente “desfazer” o que aconteceu indo ao restaurante (a mãe de Pei-Pei virando e tentando fugir quando as vê!), porque a previsão do biscoito da sorte precisa se cumprir (algo sobre “amor sem egoísmo”), então Anna e Tess seguem lidando com o restante do dia… Tess aceita a ajuda de Jake para completar a sua prova, que ela perdeu porque Stacey a acusou injustamente de estar colando, por pura maldade, e Anna acaba em um programa de TV, como uma surpresa que Ryan planejara para Tess para divulgar o livro que ela escreveu. Poderia ter sido um desastre, quem sabe até em parte foi, mas Anna acaba conquistando a audiência e no mínimo desperta o interesse no livro da mãe.

Acho que é uma vitória.

Uma parte importante dos acontecimentos daquela tarde se refere ao Jake – e ao fato de que ele acredita que está apaixonado por Tess. Acontece que ele descobre que não parece ter tanto assim em comum com “Anna”, e ele tem uma tarde agradável com “Tess” falando sobre música quando ela aparece no café em que ele trabalha, e então ele fica encantado… talvez encantado até demais, e isso rende alguns dos momentos perfeitamente cômicos. Quer dizer, como não amar o Chad Michael Murray cantando “…Baby One More Time” todo desafinado na janela da casa das Coleman para se declarar para a “Tess” ou a Anna pulando sobre ele para tirá-lo do caminho?! Além disso, é como a Tess diz: ele definitivamente gosta da Anna por quem ela é.

À noite, resoluções importantes, enquanto as personagens caminham para esse amor sem egoísmo sobre o qual o biscoito da sorte falava. Tess quer que Anna compareça ao seu jantar, mas as amigas de Anna aparecem para “sequestrá-la” por 15 ou 20 minutos, tempo o suficiente para ela ir, se apresentar com a banda e voltar sem que ninguém perceba a sua ausência… o problema, é claro, é que elas estão falando diretamente com a Tess sem saber. É aqui que Ryan tem uma atitude linda que faz com que Anna finalmente comece a perceber que ele não é uma má pessoa… quando, no corpo da mãe, Anna fala sobre como ele com certeza acha essa coisa de banda uma bobagem e tudo o mais, Ryan diz a Tess que eles não podem se casar se ela realmente pensa isso dele…

Ele não quer ser o vilão.

Eu AMO a cena da audição da banda de Anna. Ryan manda Anna ir com as amigas e manda a Tess ir com ela, porque é lá onde ela deve estar, apoiando a filha, “ele segura os convidados por uns minutos”. Tess sobe ao palco sem saber bem o que está fazendo, descobrindo que “não é só barulho”, no fim das contas, e Anna corre para ajudar para que a performance da mãe não lhes custe a chance de uma vida! Além de a música ser boa, a cena funciona demais porque é bonito ver a “Tess” tocando nos bastidores enquanto a “Anna” finge que está tocando no palco, e o sorriso da mãe para a filha, com orgulho, é muito bem-vindo… é um passo importante. E Lindsay Lohan está MARAVILHOSA aqui, com o carisma da Tess, mas a sensação de deslocamento…

Afinal de contas, é o mundo da filha, não é o dela.

Quando elas retornam para o jantar, Tess tem um pedido para Anna: ela quer que ela fale com Ryan antes de os brindes começarem e peça que ele espere um pouco mais por esse casamento, porque claramente Anna ainda não está pronta para isso, mas também pede que ela seja gentil, porque ela ama o Ryan e ele é uma boa pessoa. Todos os eventos que levaram àquele momento fazem com que Anna não obedeça à mãe, porque percebeu que ela não pode adiar o seu casamento por sua causa… e nem tem motivo. Ryan nunca será o seu pai e não vai substituí-lo, é verdade, mas ele é um cara bacana, o que quer dizer que eles podem arrumar espaço para ele nessa nova família que estão formando. E é o que ela diz em seu discurso emocionante.

Então, as duas retornam para seus próprios corpos.

Interessante o quanto elas aprenderam ao longo de um dia… um dia “muito louco”, é verdade, mas um dia. Durante menos de 24h, elas estiveram uma no corpo da outra e perceberam muita coisa. Tess percebeu que a vida da filha não é tão fácil quanto ela pensava (a escola tem seus desafios!) e aprendeu a ter orgulho de seu talento para a música; Anna aprendeu a admirar a mãe e entendeu que ela ama mesmo o Ryan e ela não tem motivo para ser rebelde contra esse casamento. O filme funciona maravilhosamente bem dentro de sua proposta, e é desenvolvido com carinho e atenção aos detalhes, o que o torna divertido, memorável e, por isso, um clássico. Daqueles filmes que assistimos e reassistimos e é sempre uma surpresa deliciosa.

Faz bem ao coração!

 

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Comentários

  1. Esse filme é sensacional e a trilha sonora é icônica! A música é quase um personagem da história.

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    1. Um clássico delicioso da Sessão da Tarde, sempre uma delícia revisitar!

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