[Season Finale] Severance (Ruptura) 2x10 – Cold Harbor

“They give us half a life and think we won’t fight for it!”

É uma das melhores séries em exibição atualmente… se não A melhor. QUE EPISÓDIO FOI ESSE?! Exibido em 21 de março de 2025, “Cold Harbor” é a conclusão da segunda temporada de “Ruptura” e eu sinto que história está sendo feita nesse momento. Uma produção impecável, roteiro e direção de tirar o fôlego e atuações brilhantes que dão vida a uma história difícil de contar, e que demanda demais dos atores… é impressionante ver a maneira como Adam Scott dá vida a Mark S., o Interno, e Mark Scout, o Externo, de maneira tão particular a cada um deles: a diferença nas expressões, no tom de voz, no ritmo de fala. Absolutamente tudo nos faz perceber que são duas pessoas diferentes, e isso é essencial para o impacto que é gerado por esse episódio.

“Cold Harbor” é um episódio importante de respostas e explicações, porque muita coisa vem à tona em relação à Lumon e à missão de Mark dentro da empresa, mas também é um episódio frenético tão repleto de ação que nem percebemos o tempo passar – bem como é uma ponte ao que quer que venha por aí na terceira temporada… é difícil saber exatamente o que está para acontecer, mas certamente a Lumon não será mais a mesma. Se a atitude daqueles quatro Internos do Refinamento de Macrodados causou um início de “rebelião” no fim da primeira temporada, aquilo não é nada comparado às proporções a que a série chega aqui, e a terceira temporada será “obrigada” a começar já em um ritmo mais acelerado… eu mal posso esperar por mais!

A primeira parte do episódio traz uma das coisas mais interessantes que se pode fazer a partir da premissa de “Ruptura”, que é o diálogo entre o Interno e o Externo de Mark e, como eu já comentei, a atuação de Adam Scott que diferencia tão bem um do outro faz com que a cena se torne muito mais marcante. É um embate partido entre duas pessoas que habitam o mesmo corpo, e cujos objetivos distintos podem ser contrastantes… entrar em um acordo não é necessariamente a coisa mais fácil. Eu gosto da ascensão do clima de tensão conforme a conversa avança, gosto de como existe alguma emoção em Mark S. escutando o seu Externo falar diretamente com ele pela primeira vez, e sabemos exatamente o momento em que as coisas mudam…

No momento em que Mark Scout fala de “Heleny”.

O fato de o Externo não saber nem mesmo qual o nome correto da mulher que ele ama no Andar da Ruptura o faz lembrar (não “descobrir”, lembrar) que seu Externo não sabe nada a seu respeito… que ele nunca se importou de verdade com ele. E, agora, ele não sabe se pode confiar nesse homem do outro lado da câmera. Quem lhe garante que ele vai não vai se esquecer completamente dele a partir do momento em que recuperar a sua esposa, como ele está pedindo que o Interno o ajude a fazer? Afinal de contas, ele nem o conhece, ele não se importa. E o tal processo de “Reintegração” tem alguma garantia? E, mesmo Reintegrado, ele não seria muito mais o Externo, que viveu 20 vezes mais, do que ele, o Interno que vive no Andar da Ruptura e ama Helly R.?

“Can you trust me?”

“No”

Como Externo e Interno de Mark não estão chegando a um acordo, Harmony Cobel pede que Mark Scout a deixe falar com o Mark S., e ela finalmente lhe diz a verdade – “The numbers are your wife”. A cena em que a Sra. Cobel explica que os números nos quais a equipe de Refinamento de Macrodados trabalha são a Gemma é um momento bem didático do episódio, concretizando algo que já foi pincelado e mostrado durante a temporada… aqui, Mark S. entende, finalmente, que cada arquivo que ele completa cria uma nova versão, uma nova “interna” de Gemma – no momento, ele já terminou 24 arquivos, e Cold Harbor é o 25º e último… amanhã é o seu último dia na Lumon, e não existe qualquer possibilidade de final feliz para ele e Helly.

Mark S. é colocado de volta no Andar da Ruptura, juntamente com Helly R., e é recebido por um quadro bizarro e uma mensagem do Sr. Milchick, sobre a “conclusão histórica do seu 25º arquivo”. Aquela cena de Mark sentado ao computador e trabalhando no Cold Harbor, que estava estagnado em 96%, é a transição perfeita da parte introdutória do episódio até um clímax que se prolonga por toda a segunda parte… o crescimento da tensão é marcado pela trilha sonora de suspense, pelos diálogos com um quê de filosofia entre Mark e Helly sobre morrerem ou deixarem de existir, e por detalhes visuais como as lágrimas silenciosas que escorrem do rosto de Mark enquanto ele trabalha no último arquivo e o tempo vai acabando, com um tom de despedida…

“I just wish we had more time”

Quando Mark S. chega aos 100% do Cold Harbor, o caos EXPLODE. Eu gosto muito do tom da cena que se segue, toda aquela sequência que começa com a estátua de cera de Kier, a “interação” dela com o Sr. Milchick e, por fim, a fanfarra que é trazida pelo Sr. Milchick do departamento de Coreografia & Divertimento. Há algo ali que me lembra ficções científicas clássicas, e pensei muitíssimo em sequências bizarras de “A.I. Inteligência Artificial”, o filme de 2001 que é, na minha opinião, um dos melhores filmes já feitos. A bizarrice e o absurdo são propositais, combinam com o estilo de “Ruptura” e com a estranheza gerada pela Lumon, e o ritmo ditado pelos tambores da fanfarra conduzem muito bem as sequências de ação frenéticas dali em diante…

Amo o paralelo da fanfarra com a Gemma sendo conduzida até a última sala, a Cold Harbor, e a maneira como Helly R. parte em uma missão de distrair o Sr. Milchick, enquanto Mark S. corre para cumprir a missão que lhe foi passada por seu Externo – brilhante edição com música, jogo de câmeras, tudo. E enquanto o caos está dominando todos os demais espaços, Gemma é conduzida através de uma porta até uma sala silenciosa e quase vazia, a não ser por um berço… um berço exatamente como o que Mark comprara para montar para o bebê que eles nunca tiveram, porque ela o perdeu. Colocada na presença desse berço, forçada a desmontá-lo e sem sentir absolutamente nada mesmo sendo esse o maior trauma de sua “Externa”, a Lumon entende que eles conseguiram.

De fato, o plano funciona.

Gosto demais da partição do episódio, gosto das cenas em paralelo e como elas se complementam. A Gemma desmontando o berço enquanto 1) Helly e Dylan tentam impedir o Sr. Milchick de ir atrás de Mark; 2) um cabrito do departamento de Mamíferos Nutríveis é levado para o abate como uma espécie de sacrifício fanático a Kier; e 3) Mark S. enfrenta o maior desafio da sua vida em um corredor no qual tenta encontrar a passagem para fora do Andar da Ruptura, mas mais fundo na Lumon. As peças vão se encaixando para que tudo funcione, e eu adoro a transição do Mark Interno para o Mark Externo no elevador que o levará até Gemma, especialmente porque essa transição culmina em um assassinato, e é assim que Mark Scout desperta, com sangue alheio jorrando sobre ele.

A perspicácia perversa e maravilhosa dessa cena!

Enquanto o Mark Externo está vagando pelos corredores da Lumon em busca da esposa que até pouco tempo atrás acreditava estar morta, Helly R. está fazendo a revolução no Andar da Ruptura, e isso é algo cujos efeitos veremos de verdade apenas na próxima temporada, mas é excepcional! Dessa vez, o Sr. Milchick está em minoria, dessa vez talvez ele não possa escapar tão facilmente… afinal de contas, Helly e Dylan conseguem todo o pessoal da fanfarra da Coreografia & Divertimento para o seu lado, com aquele discurso lindo sobre como eles “lhe dão meia vida e acham que eles não vão lutar por ela”. Quando o Sr. Milchick consegue escapar do lugar onde o prenderam, ele se depara com uma horda de Internos furiosos esperando por ele…

Prontos para lutar pela “meia vida” que lhe deram.

E esse protesto de Helly compra tempo o suficiente para que Mark Scout faça o que precisa ser feito lá embaixo… e são tantos momentos! Primeiro, temos Mark encontrando uma maneira inteligente (e usando a morte do elevador) de entrar na sala denominada Cold Harbor, e então ele se depara com a esposa que não vê há anos, mas aquela é uma versão dela que não se lembra dele, que não sabe nem quem é… ele se apresenta como seu marido, diz que ela se chama Gemma Scout, conta que eles estão casados há quatro anos, e Gemma talvez não se lembre de nada, porque essa é a proposta da Lumon e todas essas rupturas, mas ela escolhe confiar naquele “desconhecido” que lhe estende a mão, e então ela passa pela porta, de volta ao corredor…

De volta a Gemma.

É emocionante aquela cena de Gemma e Mark no corredor, e eu amo o que “Ruptura” conseguiu construir em um tempo razoavelmente pequeno. Passamos a primeira temporada sabendo da história da “esposa morta de Mark” sem saber quem ela era, e a série soube construir essa relação na segunda temporada mesmo que o protagonista da série seja Mark S., o Interno. Nesse momento, sentimos pelos dois, e é bonita ver a conexão de ambos, ver o alívio do reencontro, do reconhecimento, o sorriso dos dois, o beijo… e o desespero, porque eles precisam correr enquanto luzes vermelhas e ameaçadoras piscam e a Lumon está vindo atrás deles. Toda a intensidade que toma conta dos personagens e é traduzida no beijo do elevador cede lugar à estranheza de um beijo entre Mark S. e a Srta. Casey…

Que é quem eles voltam a ser no Andar da Ruptura.

Essa dinâmica entre diferentes personagens e combinações exemplifica perfeitamente a riqueza de “Ruptura” e seu roteiro. Por alguns minutos, eles são um funcionário e a sua terapeuta, sem qualquer envolvimento romântico, sem sentimentos um pelo outro, e então Mark S. faz o que o Externo pediu que ele fizesse, que é conduzir Gemma até a saída… do lado de fora daquela porta, Gemma (e não mais a Srta. Casey) chama por Mark para que ele se junte a ela, mas Mark S. não quer ir, ele nunca quis… ele não quer ser apagado. E quando Helly R. aparece do outro lado do corredor, chamando por ele, é ela quem ele escolhe, porque é ela a mulher que ele, o Mark S., ama. A cena é surpreendentemente devastadora e tão repleta de camadas e de sentimentos!

E, então, Mark S. e Helly R. correm rumo ao caos… sem um plano definido…

Mas juntos.

 

Para mais textos de “Severance (Ruptura)”, clique aqui.

 

Comentários