Vale o Piloto? – Tengo Que Morir Todas las Noches 1x01 – El Nueve
Cenário LGBTQIA+ no México da década de 1980!
Baseado no
livro de 2014 de Guillermo Osorno e dirigido por Ernesto Contreras e Alejandro
Zuno, “Tengo Que Morir Todas las Noches”
é uma série LGBTQIA+ mexicana lançada na Prime Video no dia 07 de junho de
2024, e minha sensação assistindo ao primeiro episódio é de que ACABO DE CHEGAR
A UMA SÉRIE IMPACTANTE. Ambientada no México nos anos 1980, a série se propõe a
retratar a comunidade LGBTQIA+ desse período, em uma produção que promete
romance, drama e sensualidade. “El
Nueve”, nomeado em homenagem ao bar no qual tantas histórias se
encontrarão, é um excelente episódio de estreia no qual acompanhamos Memo, da
sua saída da cidade pequena em que morava para o Distrito Federal, para estudar
jornalismo.
A primeira
cena do episódio nos traz a dicotomia da liberdade experimentada no El Nueve,
um lugar onde pessoas se encontram, se soltam e podem ser quem elas são, com a
batida policial que representa essa homofobia institucionalizada e
“legalizada”, que levava pessoas presas pelo simples fato de elas serem
“diferentes”. Essa cena de abertura de “Tengo
Que Morir Todas las Noches” me fez pensar muito em “O Baile dos 41”, e é uma promessa dolorosa do drama que ainda
enfrentaremos. É tão triste ver aquele sentimento de felicidade tão palpável do início do episódio sendo despedaçado
quando o bar é “descoberto”, mas esse é um ponto da trama ao qual chegaremos
mais tarde… logo depois da introdução, a série retrocede um ano.
Um ano
antes, conhecemos Guillermo/Memo ainda como um garoto do interior que sabe
muito bem quem ele é, mas não encontrou aquele sentimento de pertencimento que
apenas a cidade grande lhe trará… gosto demais da sensualidade de toda aquela
sequência que começa na piscina e termina no banheiro. Memo não poderia se
importar menos com o que a garota ao
seu lado está falando enquanto ele vê um homem extremamente bonito e com um corpo escultural sair todo molhado da
piscina… no banheiro, quando esse homem age com naturalidade ao entrar no
banheiro e encontrá-lo pelado em frente ao espelho ou ao se aproximar dele
depois, há todo um clima de provocação, desejo, entrega e prazer que me deixou
sem fôlego.
Memo planeja
estudar jornalismo… originalmente, o pai queria que ele estudasse direito, mas
a verdade é que o pai não pode realmente ficar bravo com o filho por ele
escolher outra carreira, tendo em vista que ele
mesmo se formou em jornalismo. Como Memo tem sua decisão tomada e, mais do
que isso, ele fez a prova e foi aceito na universidade, não há nada que o pai
possa fazer, a não ser desejar que dê tudo certo para ele no Distrito Federal…
e, na cidade grande, Memo vai morar com o irmão mais velho, alguém que foi
“transformado” depois da mudança e que está, atualmente, se tornando um
policial – é interessante o conceito de extremos, de lados opostos de uma mesma
luta, e tenho certeza de que isso renderá boas tramas.
O irmão é um
babaca.
Além da
primeira noite e dos comentários sobre “ter chamado umas amigas para uma
festinha” ou qualquer coisa assim, o irmão de Memo o acompanha à universidade
no dia seguinte, mais porque ele quer ver os “baderneiros” do que porque quer
de fato acompanhar o irmão. A diferença de reação de Memo e de Rogelio aos protestos
que gritam “¡Educación! ¡No represión!”
é a materialização de quão diferentes
eles são. Rogelio parece enojado com aquilo… Memo, por sua vez, parece
encantado, tanto que ele tira fotos e logo se junta aos gritos que ele aprende
depressa. Parece que a experiência na faculdade, ainda mais em um período de
protestos e luta por direitos e igualdade, vai abrir portas interessantes para
Memo no Distrito Federal.
O primeiro
encontro de Memo e Blas acontece em um estúdio de revelação na faculdade,
dentro do qual nenhum dos dois deveria estar, e há algo que chama e fascina
Memo na foto de um homem nu que está sendo revelada agora, e eu gosto de como a
ambientação da série é construída: como aquela foto, exposta ali, é para Memo
uma representação de que ele não está
mais na sua cidade mesmo. Eu gosto de como o Blas pergunta sobre o que ele
achou da foto e do modelo, e de como Memo não responde, mas tampouco mente, e
como ele se demora alguns segundos a mais antes de deixar a sala quando ele
está sozinho, com o fascínio estampado em seu olhar. É uma cena tão simples,
mas com a qual eu posso me identificar tanto!
Por isso eu
já comecei amando a série!
Blas é
sobrinho de Gloria, uma mulher bem-sucedida que está em um relacionamento de
algum tempo com Aída Castillo, uma cantora com a sua carreira em ascensão.
Nesse momento, Aída está gravando um novo disco e o seu foco está na promoção
desse disco, mas ela também se preocupa com as entrevistas que tem que dar, e
com medo de que mencionem os “boatos” que andam circulando pela mídia sobre um
relacionamento com Gloria – um relacionamento “escondido” porque elas vivem em
uma sociedade que não aceita o relacionamento entre duas mulheres. É uma
representação vívida do medo em que se vivia, do conceito de “se esconder”, e eu
gosto de a série escolher trabalhar isso com diferentes representatividades de
gênero e idade.
“Tengo Que Morir Todas las Noches” traz
um processo de descoberta curioso para Memo… ele não está descobrindo a sua
sexualidade agora, isso ele já conhece há muito tempo; mas ele está descobrindo
uma nova realidade que só é possível na cidade grande… o cenário gay é amplo,
ainda que secreto, e convidativo. Gosto de como ele vê homens gays em vários
lugares aos quais vai, gosto dos olhares, dos sinais, do flerte, da provocação,
das possibilidades, de como tudo é curiosamente novo para Memo e como aquilo o
deixa assustado e empolgado ao mesmo tempo, e como isso tudo é explorado,
ironicamente, durante conversas ao telefone com o pai, nas quais Memo fala
sobre ele ainda não ter encontrado o que procurava ou algo assim.
Ele também
chega a um lugar que não é necessariamente onde ele quer estar, mas só descobre
tarde demais, quando chega àquele cinema pornô no qual um beijo na escada beira
o abuso e ele precisa “se esconder” dentro do banheiro, onde ele é resgatado
por Artie. É uma aproximação inusitada, que inclusive deixa Memo desconfiado,
mas Artie é a pessoa que vai mudar a sua
vida… ele sabe que aquele não é lugar para Memo, mas ele sabe também para
onde levá-lo, porque ele não tem “um” bar, ele tem “o” bar, e é para lá que
Memo vai. EL NUEVE. É de arrepiar a maneira como o mundo de Memo está mudando
quando ele entra no El Nueve pela primeira vez, como cada minuto ali dentro faz
com que ele se sinta mais “em casa”.
Talvez ele
tenha finalmente encontrado o que
procurava.
A conclusão
do episódio acontece ali, no El Nueve, com o fascínio compreensível crescendo
dentro de Memo, que se sente livre e acolhido talvez pela primeira vez, e ele
ainda tem a grande surpresa de ver Blas, o garoto do estúdio de revelação na
faculdade, como DJ da festa. Há um quê de câmera
lenta que pertence apenas a ele, sentimentos expostos sem que nada precise
ser dito, e um desejo reprimido,
ainda que por pouco tempo, que enriquece o beijo que Blas dá em Memo no meio da
pista de dança, sem que eles conversem antes… porque não precisam. É um beijo
lindíssimo, a trilha sonora ao som de “Always
on my Mind” com o volume aumentando faz toda a diferença, e o paralelo da
batida policial, com a ajuda do irmão, nos faz prender o fôlego.
É uma grande
estreia!
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